Meu avô Remo era economista, músico, professor de piano e idiomas. Foi um dos fundadores e primeiros professores do Conservatório de Tatuí – em 1968, aos 70 anos, foi “jubilado” pelo Estado, por atingir idade limite do serviço público. Ele dizia quer estava no auge de sua capacidade de ensinar e era absurdo privar a sociedade do talento e experiências que ainda conseguia compartilhar. Recebeu um pequeno troféu, uma pequena aposentadoria e morreu poucos anos depois.

O etarismo consiste no preconceito, discriminação ou intolerância contra pessoas de idade avançada. Nos Estados Unidos e Europa se discute há décadas a questão da inclusão e combate a este tipo de preconceito, inclusive com reflexos em legislações contra a discriminação etária na esfera profissional.

No Brasil, o velho/velha que se lasquem!

Manifestações de etarismo são rotina no mercado de trabalho – após os 50 anos somos preteridos em promoções, entrevistas de emprego e são raras empresas que desenvolvem projetos para melhor aproveitar a experiência e talento de seu time sênior.

Bancos e financeiras negam sistematicamente crédito a idosos para financiamentos longos, embora todos topem um consignado que toma um pedacinho da parca aposentadoria destes cidadãos… planos de saúde avaliam o “risco” de cirurgias e procedimentos caros em cidadãos que ousaram passar dos 80 anos – esta prática é quase política pública em alguns países, onde ficar doente é um custo para a sociedade!

Na rotina das casas, o novo toma o lugar à mesa – os idosos migram para quartos menores, perdem o acesso a TV, à sala, perdem o direito a opinião, mesmo quando muitas vezes são suas aposentadorias que bancam o supermercado.

Uma idosa de 70 anos entrando numa academia? “Tá gagá, não se enxerga?”

Um idoso andando de moto? “Tá achando que tem 20 anos?”

Vanderlei Luxemburgo mandado embora do Corinthians? “Velho e ultrapassado”

Nosso grupo de samba raiz tem orgulho de se apresentar como “velha guarda” e muitas vezes sentimos a decepção de contratantes que esperam um monte de moleques vestidos de funkeiros para cantar as dez músicas da moda… “mas vocês tocam pagode?” Sim, infeliz! Nós que inventamos o pagode!!

Faça a autocrítica! Certamente você vai encontrar algum preconceito contra idosos e idosas no fundo do seu coraçãozinho peludo!

Combater o etarismo é valorizar a vida e seu legado!

Combater o Etarismo é valorizar a vida e seus legados!!

Envelhecer é o inconveniente processo que nos lembra diariamente que um dia vamos morrer; talvez a sociedade, de forma inconsciente, tenha medo desse inevitável destino, praticando atitudes de exclusão e intolerância. O respeito aos mais velhos vem saindo do código moral das novas gerações, o que nos transforma numa sociedade mais cruel e imediatista.

Claro que a postura de quem envelhece poderia ser diferente – o medo de envelhecer e morrer (alguém tem dúvida que isso vai acontecer??) nos deixa agarrados à juventude que já foi, aos sentimentos e memórias – comparamos indevidamente o passado e presente, como se os contextos fossem os mesmos e sofremos quando não há mais ouvidos de atenção para nossas lamúrias. Segue a depressão e o esquecimento, a ponto da gente nem se lembrar de quem somos.

“Você não tem mais idade para isso” é uma frase que pretendo administrar nesta reta final de minha existência – a sociedade que cultua glamour, fama, beleza e juventude, não vai me punir em meu direito a envelhecer da forma como eu desejar. Vou praticar esporte, namorar muito, andar de moto, vestir e comer o que eu quiser, andar a pé ou nem andar se eu quiser. Posso ler, estudar, e me divertir com a angústia de quem ainda se mata para ser milionário antes dos 30! Envelhecer é inevitável, mas ser “velho” é uma escolha.

A visão estereotipada que a idade é um empecilho pode afetar a vida das pessoas, fazendo com que elas sofram e até se afastem do convívio social, deixando caminho aberto para a depressão e outras e outros problemas de saúde. Por isso é importante colocarmos o etarismo em discussão – negar o envelhecimento de outras pessoas, discriminando-as por isso, é negar a própria vida, pois todos seguirão pelo mesmo caminho – envelhecer é nosso direito, dar dignidade e respeito aos idosos, um dever social.

Num evento empresarial que coordenei nos anos 90, tivemos um grupo de músicos veteranos formados no Conservatório de Tatuí animando o happy hour – descobri que dois deles haviam sido alunos de meu avô e lembravam dele com muito respeito, carinho e gratidão. Preconceitos podem ser combatidos e até erradicados. Legados ficam!

(fonte de consulta e referência – artigo: “O que é o etarismo e seu impacto na vida do idoso?” – sbgg-sp.com.br)

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