Vivemos na era da hiperconexão. A internet transformou a forma como produzimos e consumimos informação, democratizando vozes, acelerando processos e ampliando a visibilidade de marcas, instituições e pessoas. No entanto, junto a esse fenômeno, nasceu também um efeito colateral preocupante: a abundância de canais não significou, necessariamente, qualidade na comunicação. Ao contrário, trouxe confusão, desinformação e, em muitos casos, uma diluição da fronteira entre o que é comunicação pública e o que deveria ser restrito ao ambiente interno.

Manuel Castells (2003) lembra que vivemos numa “sociedade em rede”, onde fluxos de informação são a base do poder e da interação social. Nesse cenário, as empresas e órgãos públicos parecem ter esquecido que comunicar não é apenas falar, mas também construir sentido. Quando tudo é postado nas redes, do planejamento estratégico até detalhes de processos internos, perde-se o filtro e, com ele, a credibilidade.

Henry Mintzberg (2006) já alertava que as organizações precisam de clareza entre comunicação formal e informal para manter sua legitimidade. Hoje, no entanto, a fronteira é borrada pela urgência de estar “visível” no digital. Gestores publicam em seus perfis pessoais conteúdos institucionais sem critérios, colaboradores são informados de decisões relevantes por meio de posts abertos e, não raro, a imprensa tem acesso antes da equipe. O resultado é o ruído – e o ruído gera desconfiança.

Pierre Lévy (1999), ao tratar da inteligência coletiva, aponta que o valor da informação está em sua circulação qualificada e contextualizada. Se a internet abriu um oceano de possibilidades, cabe às empresas e instituições aprender a navegar nele. E navegar exige bússola: políticas claras de comunicação interna, planejamento estratégico de conteúdo para redes externas e, sobretudo, respeito ao público certo, na hora certa, com a mensagem adequada.

O excesso de canais sem critério é como um megafone em praça pública: amplifica o som, mas não garante que a mensagem seja compreendida. Em tempos de fake news e desinformação, as organizações precisam retomar a essência da comunicação – diálogo, clareza e coerência. Afinal, como lembra Dominique Wolton (2004), “comunicar é aceitar o risco do mal-entendido, mas também é o único caminho para o entendimento”.

Talvez o maior desafio contemporâneo não seja a falta de meios, mas a falta de consciência sobre o que deve ser comunicado, para quem e com que propósito. Enquanto isso não for entendido, continuaremos conectados – mas mal informados.

Maria Carmem de Souza é formada em Comunicação Social, jornalista e relações-públicas, licenciada em Letras e pós-graduada em Língua Portuguesa e Gestão da Comunicação Organizacional. Atua há 30 anos na área da Comunicação e nesta trajetória passou por jornal, revista, rádio, assessoria de imprensa, televisão, diretoria de jornal e rádio, coordenação de comunicação e, agora, escreve para mídias sociais – como produtora de conteúdo no LinkedIn e no Instagram, além de ser coordenadora de projetos em um gabinete municipal.

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