É isso mesmo. Segundo matéria do Extra, o número de influenciadores digitais nos Brasil já é maior que o de médicos e advogados – profissões que por décadas permearam a meta de vida de muitos jovens que buscavam por uma “carreira estável e rentável”. Buscavam. No passado. O presente nos diz algo muito diferente: “só no Instagram, o país lidera o ranking, com 10,5 milhões de influencers — o equivalente a oito vezes o número de advogados ou quase 20 vezes o número de médicos brasileiros, segundo dados da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e do Conselho Federal de Medicina (CFM)”, diz a matéria. Lembrando que em meados de 2022, a notícia era de que haviam mais influencers do que dentistas e engenheiros – outras duas profissões tradicionais e centenárias. O que mudou? Bem, guarda aí essa informação e antes vamos olhar para outros dados curiosos.
Não bastassem esses números sobre profissões, outro índice chama a nossa atenção: a Ipsos apresentou, na última quarta-feira (19/04), a décima edição da pesquisa The Most Influential Brands no Brasil. E com base em análises de 2022, o top 3 foi liderado por marcas ligadas à tecnologia e big techs. O Google ocupou o primeiro lugar, seguido do WhatsApp e YouTube.
Vale destacar que essas marcas desbancaram, da pesquisa anterior (2021) para essa, outras marcas parrudas como Nestlé, Americanas e Microsoft – as quais deixaram de figurar entre as 10 mais. Olhando para tudo isso, formulamos mais perguntas do que respostas – pois há muito muito o que refletir em todo esse cenário. E tudo bem, porque nessa verdadeira corrida maluca está todo mundo aprendendo mesmo, ao mesmo tempo em que tem que aplicar o que aprende para não ficar para trás. Mas vamos lá.
Pensemos primeiro nesse salto das profissiões mais almejadas e exercidas. Qual a explicação? Vamos combinar que todas as profissões listadas (e desbancadas) requerem tempo, investimento e acesso à educação superior. Por outro lado, ser influencer é bem mais ‘simples’ que isso – muito entre aspas porque também sabemos que viralizar não é uma tarefa fácil. A professora de Pesquisa e Comportamento do Consumidor da ESPM, Karine Karam, em entrevista ao Extra, explica:
“Marketing ‘de gente’ é algo muito complexo. Ainda que você pense em preço, construa uma audiência, produza um conteúdo de qualidade, existe a subjetividade. E a autenticidade é um valor muito importante, porque tudo em consumo tem a ver com identificação. Viralizar também não é simples, e, mesmo quando acontece, não é perene. Então, há uma estrada a ser percorrida e que não garante sucesso.”
Sim, fácil não é. Mas o fato é que tem muita gente tentando e, nesse processo, inundando as redes com muita audiência – o que poderia, num olhar imediatista e até simplista, explicar em parte a pesquisa da Ipsos. Mas há algo mais relevante que a fala da professora Karine Karan denota, e sobre o que a pesquisadora Comunicação Digital na ECA-USP, Issaaf Karhawi sempre falou: ser influenciador requer profissionalização. Ou, em outras palavras, nem todo mundo que se aventura nesse funil chega ao outro lado. E dos que chegam, muitos passam como chuvas de verão e logo são esquecidos – bem antes do seu primeiro milhão.
Isso me lembra os conceitos estudados desde os tempos de faculdade, que diferenciam um formador de opinião de um líder de opinião. O primeiro é um profundo conhecedor de um tema, ou área do conhecimento. Por exemplo, um PhD em engenharia génetica falando de clonagem de embriões. Ele forma opinião a partir do seu domínio sobre o assunto. É uma referência pelo conhecimento. Já o líder de opinião é alguém que goza de uma audiência muito grande e que, ao emitir uma opinião sobre qualquer assunto, ou dar um depoimento, é seguido por seus fãs. Famosos que emprestavam sua imagem pessoal às marcas para dar credibilidade a elas, por endosso e testemunho.
Bem, esse papel não mudou muito – apenas migrou das telas dos cinemas e palcos de grandes show para os populares das redes sociais.
No próximo artigo falaremos mais dos prós e contras de associar uma marca à imagem de um influencer (ou líder de opinião no meio digital) e sobre como marcas podem se todar influenciadoras nas redes. Será que tem receita? Te conto no próximo artigo.
Até lá, deixa aqui sua opinião sobre esse tema e sua aposta para os próximos capítulos dessa saga. Grande abraço!
Profissional de Relações Públicas pós-graduada em Gestão Estratégica da Comunicação organizacional pela ECA-USP, é também jornalista, empresária, palestrante e consultora de empresas com mais de 20 anos de experiência em comunicação interna e relacionamento com a imprensa. Professora universitária por 16 anos nos cursos de Comunicação, Marketing, Administração e Recursos Humanos nas instituições UniFaat, Fecap, Uniso e PUCCampinas.