Vivemos um tempo em que a cadeira de comando perdeu o brilho. Geração Z e Millennials rejeitam a liderança como se fosse uma sentença de morte e não uma conquista. Segundo a Robert Walters, 52% da Geração Z não querem assumir cargos de gestão intermediária, e a Deloitte mostra que apenas 6% têm como meta posições executivas. Em outras palavras, a escada corporativa que já foi símbolo de sucesso virou caminho que quase ninguém mais deseja trilhar.

E esse desinteresse não surge do nada. O modelo de liderança que herdamos realmente está falido. Ele produziu chefes adoecidos, vidas pessoais sacrificadas e resultados questionáveis. Quem olha para esse retrato não sente inspiração, mas sente repulsa. Não é exagero: o “cargo de chefe” se tornou, para muitos, uma armadilha de alta tensão e baixa recompensa.

Mas há um risco em romantizar a fuga. Muitos jovens falam de propósito, equilíbrio e autonomia, e tudo isso é legítimo. Só que esquecem que liderar exige coragem, resiliência, conflitos e maturidade para tomar decisões difíceis. Liderar nunca foi nem será um conto de fadas. É pressão, é peso, é responsabilidade. E nesse ponto, falta preparo.

O que vemos é uma geração que denuncia bem o problema, mas que evita assumir a responsabilidade da solução. E aqui surge a contradição: se ninguém quiser sentar na cadeira, se todos recusarem o jogo, o que será do futuro das empresas?

Talvez você, que está aqui lendo minha coluna, já tenha presenciado a cena: um gestor que chegava cedo, saía tarde, abria mão da família e dos fins de semana, e mesmo assim parecia cada vez mais derrotado. Esse é o retrato que assusta os mais jovens. Mas aí eu te provoco: é rejeitando a cadeira que vamos mudar esse modelo ou é ocupando-a com novas ideias que a transformação vai acontecer?

Sentença de morte pra uns, esperança renovada para outros, é nesse vácuo que aparece uma geração esquecida: os 50+ e os 60+. Profissionais experientes, resilientes e dispostos a ocupar os espaços que os mais jovens rejeitam. E os dados confirmam essa oportunidade histórica.

No Brasil, trabalhadores com mais de 50 anos já representam 27% da força de trabalho, superando os 24% da Geração Z, segundo dados do IBGE. O IPEA projeta que, até 2040, metade da força de trabalho brasileira terá mais de 50 anos, uma virada demográfica que ninguém pode ignorar, certo?

Em números absolutos, a força de trabalho atingiu 110,7 milhões de pessoas em fevereiro de 2025, crescimento de 1,7% em relação ao ano anterior, segundo a PNAD Contínua do IBGE. Isso mostra que o mercado está em expansão, e ainda, que os mais experientes permanecem ativos e relevantes.

Ou seja, ser 50+ ou 60+ não é sinônimo de aposentadoria, é símbolo de resistência e competência. Muitos estão se qualificando, voltando a estudar, mergulhando em novas áreas. Provam que inovação não é exclusividade dos mais jovens, mas de quem tem disposição para aprender.

Enquanto Millennials e Gen Z evitam o comando e romantizam o trabalho, a “geração prateada”, como é chamada os 50+ e 60+, demonstram que a liderança ainda existe. Talvez não nos moldes que conhecemos, mas viva. E aqui está a provocação: se o modelo está falido, por que não deixarmos que os mais experientes o reescrevam com maturidade, resiliência e uma visão menos ingênua da vida corporativa?

Gosto muito desta frase de Jean-Paul Sartre: “O homem está condenado a ser livre, porque uma vez lançado no mundo, é responsável por tudo o que faz.”.

Essa frase é meu manifesto final. Para mim, ela resume a encruzilhada que vivemos. Não dá para fugir da liderança, nem da vida adulta, sob o pretexto de “propósito” ou “equilíbrio”. Porque liberdade sem assumir responsabilidade não é liberdade, é ilusão. E é por isso que eu digo: os últimos líderes talvez não estejam na juventude que rejeita o peso, mas sim nos 50+ e 60+ que ainda têm coragem de carregar a responsabilidade.

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