Nesta primeira entrevista da nova série do JVN , ‘Papo de Sábado’, entrevistamos o mentor de startups do Programa Conecta Atibaia, Nivaldo Menezes.

JVN: Para começar, você poderia nos contar um pouco sobre sua formação e experiência como empreendedor, consultor e mentor de startups?

Nivaldo Menezes: Tenho formação em Gestão de Negócios da Informação, pós-graduação em Marketing e doutorado em Psicologia Social pela Universidad Kennedy. Atuo com mentoria a pequenas empresas de TI há cerca de 18 anos. Comecei atendendo 30 pequenas empresas de TI pelo PISO – Polo Industrial de Software de Ribeirão Preto e Softex – Unicamp, de Campinas, onde tive a oportunidade de conhecer as principais dores de empresas de tecnologia e startups em fase inicial – como implantação de ferramentas de gestão, dicas de como atrair investidores  e buscar fundos de investimento para a  escalabilidade do seu projeto, assim como ferramentas para buscar talentos nas universidades e instituições de ensino do Município.

JVN: Como você descreveria o conceito de uma startup? Quais características diferenciam uma startup de outros tipos de negócios?

Nivaldo Menezes: Na minha concepção, startup é uma pequena empresa que deve ter um “DNA Tecnológico”, inovador disruptivo e escalável, que geralmente nasce para suprir uma “dor” do mercado.

JVN: Quais tipos de negócios se enquadram na classificação de startup? Existem setores específicos que são mais propícios para o desenvolvimento de startups?

Nivaldo Menezes: Eu acredito que até negócios “tradicionais” podem se reinventar através de spin-off para trazer inovação para uma empresa (tradicional) de grande porte – assim como essa grande empresa pode convidar as startups para sanarem as suas “dores”, realizando a aquisição dessas potenciais startups. Como exemplo, cito o Programa Oxigênio, da Porto Seguro. Existem exemplos de startups que surgem em um mercado extremamente tradicional, como o imobiliário. Um exemplo que podemos citar é a Quinto Andar. E respondendo à pergunta mais especificamente, acredito que existem segmentos com grandes oportunidades de se tornarem startups, como o de economia criativa, tecnologia, inteligência artificial, sustentabilidade (Economia Verde), inovações nos mercados financeiros (blockchain) e Internet das Coisas – para citar apenas alguns.

JVN: Quais são os principais passos que um empreendedor deve seguir para ter uma startup bem-sucedida? Existem fatores-chave que contribuem para o sucesso inicial e a escalabilidade de uma startup?

Nivaldo Menezes: Acredito que um ponto importante é ter o comportamento empreendedor desenvolvido para estar antenado às transformações digitais e ao cenário VUCA/BANI. Outra dica é ter uma estrutura de custos enxuta, formar um time extremamente comprometido com o foco no negócio e, para escalar, buscar o máximo de feedbacks com seus clientes e ir pivotando até que o modelo de negócio esteja pronto para ser lançado de forma definitiva e assertiva e, de preferência, com boas perspectivas de monetização.

JVN: Com base em sua experiência, quais são os erros mais comuns que os empreendedores cometem ao iniciar uma startup? Como evitá-los ou superá-los?

Nivaldo Menezes: Acredito que um dos grandes erros do empreendedor de startup é não dedicar tempo suficiente para o seu negócio. Para evitar isso, disciplina e comprometimento são fundamentais para o sucesso, isso é, não se dispersar com situações que surgem no cotidiano, coisas que possam fazer com que você mude a sua rota. Outro erro é a falta de um plano de ação claro para se comunicar com a sua equipe de forma objetiva e transparente. Definir o papel de cada colaborador para o alcance dos resultados é crucial e, para isso, é preciso definir alguns objetivos chaves para cada indivíduo, sendo fundamental a mobilização das pessoas para que possam trabalhar de forma colaborativa. Acredito que no estágio inicial é fundamental também que um dos fundadores tenha um perfil comercial e o outro empreendedor tenha um perfil mais voltado para a área financeira, ou seja com perfis comportamentais diferentes que se complementam.

JVN: Muitas vezes, ouvimos que a idade ou a falta de capital inicial podem ser obstáculos para os empreendedores. Qual é a sua opinião sobre isso? Existem estratégias ou abordagens específicas que podem ajudar empreendedores muito jovens ou mais velhos, ou ainda aqueles com recursos limitados a superar esses desafios?

Nivaldo Menezes: Eu acredito que quando falta capital inicial o empreendedor deve ser criativo e buscar oportunidades através de fundos governamentais, como Finep, Fapesp (PIPE) e Programa Inovati (Conecta Atibaia) – para que possa ter um recurso inicial para tirar a sua ideia do papel e para que, em um segundo momento, possa ter a possibilidade de buscar um fundo de investimento mais robusto para a escala do seu projeto em diferentes mercados, inclusive internacionais. Sobre a questão da idade, acredito que empreendedores mais experientes podem contribuir com a sua expertise através de mentoria para ajudar os empreendedores mais jovens para que possam tomar decisões mais assertivas para o seu negócio. Acredito que a troca de experiência é fundamental para o sucesso empresarial, inclusive existem metodologias que incentivam essas trocas de experiência, como o “Team Academy”, que é uma metodologia de ensino que surgiu na Finlândia.

JVN: Você pode compartilhar um pouco mais sobre o programa de aceleração de startups Conecta Atibaia? Como ele tem ajudado os empreendedores locais? Quais são os principais benefícios oferecidos pelo programa?

Nivaldo Menezes: O programa Conecta Atibaia teve a primeira etapa com o foco na sensibilização com relação à importância de disseminar a Cultura de Startup para os comerciantes e empreendedores locais, e também sobre a importância de adaptar o  negócio para as transformações digitais. Atualmente estamos realizando alguns workshops com esse objetivo, sempre na última 3ª feira do mês. A primeira aconteceu agora em maio, e teve o tema “Comportamento Empreendedor para Startups”. Ainda teremos mais quatro até setembro, e os temas serão: Validando o Seu Modelo de Negócio com o Canvas; Metodologias Ágeis para Startups; Soft Skills para a Formação de Times de Sucesso para Startups e O Poder das metas com o uso da metodologia SMART e das OKR,s para aumentar os resultados da sua Startup. Além disso, faz parte do programa as sessões gratuitas de mentoria, que ajudam os empreendedores a tomarem decisões mais assertivas para o seu negócio. Com relação aos benefícios para esse ano, posso citar o incentivo financeiro para as três startups finalistas, que receberão um aporte de 60 mil reais. Esse valor será dividido entre as três startups com os melhores projetos, os quais serão avaliados por um comitê de especialistas em inovação. Para submeter um projeto e fazer inscrição no Conecta Atibaia, e também para obter mais informações, basta acessar o link para o Formulário Conecta:

JVN: Você poderia compartilhar exemplos de startups que passaram pelo programa Conecta Atibaia e obtiveram sucesso? Quais são alguns casos de destaque que surgiram do programa?

Nivaldo Menezes: Tivemos algumas startups que participaram na etapa de sensibilização que tiveram destaque, como o caso da Vale Car Driver – que é um aplicativo de mobilidade urbana que envia carro particular para o solicitante, com um preço justo e melhor custo benefício para o motorista parceiro. Esse aplicativo foi criado no Município de Atibaia.

JVN: Como você acredita que programas como o Conecta Atibaia podem influenciar positivamente a economia e o ecossistema empreendedor da região? Quais são os potenciais benefícios para a comunidade local?

Nivaldo Menezes: Acredito que o principal fator está no estímulo ao desenvolvimento econômico sustentável, pois com o Ecossistema de Inovação certamente o município irá atrair novos investidores, empresas e talentos do segmento de tecnologia da informação para cá. E possivelmente com o ambiente favorável para o surgimento de unicórnios na região, essas startups irão precisar de parceiros, fornecedores e mão-de-obra – que poderão ser do próprio município de Atibaia. Sem contar algumas iniciativas da prefeitura, como o IPTU Empreendedor – que dará incentivos para empresas que se estabeleçam na cidade. A contrapartida para a prefeitura será um aumento significativo na arrecadação de impostos e, para a população, mais recursos que poderão ser revertidos em prol da sociedade, gerando o que chamamos de Desenvolvimento Econômico e Sustentável, ou seja, um círculo virtuoso de prosperidade para Atibaia.

JVN: Com base em sua experiência no programa Conecta Atibaia, que conselho você daria aos empreendedores da nossa região que estão considerando se envolver em iniciativas semelhantes? Por que eles deveriam procurar oportunidades como essa?

Nivaldo Menezes: Com esse cenário de transformações digitais, é fundamental que tanto empreendedores como comerciantes busquem formas de trazer inovações para seus negócios. E a solução certamente está na conexão com as startups, pois certamente surgirão grandes oportunidades de negócios a partir dessas parcerias, ou, até mesmo possibilidades de participação como investidor e capital intelectual, para dar velocidade na escala desses modelos de negócios disruptivos que certamente irão contribuir positivamente para o crescimento econômico e sustentável do município.

Nivaldo Menezes

*Nivaldo Menezes é Doutor em Psicologia Social pela Universidad John F. Kennedy – UK de Buenos Aires – Argentina. Foi Vice – Reitor da Pós Graduação e Gerente de Operações do Núcleo Capital da Universidade Estácio. Docente do SENAC nos cursos de Gestão de Pessoas e Liderança. Um dos principais palestrantes da Feira do Empreendedor do Sebrae-SP nos anos de 2016 e 2017, proferindo palestras sobre Inovação Disruptiva e Marketplace.

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