*Por: Elaine Lina
Neste Papo de Sábado conversamos com Adilson Bondança, especialista em inovação e desenvolvimento empresarial, com mais de 30 anos de experiência em gestão organizacional e um forte legado em projetos de tecnologia e empreendedorismo em Atibaia e região
JVN: Adilson, para começar essa nossa conversa, conte-nos um pouco sobre suas origens: onde você nasceu, como foi sua infância e os primeiros anos de escola?
Adilson Bondança: Eu nasci em São Paulo, capital, e morei no bairro Vila Mariana, na Rua Domingos Moraes, durante toda a minha infância. Estudei o que atualmente se chama de Ensino Fundamental 1 e parte do 2 em uma escola que ficava do outro lado da rua, em frente à minha casa.
A estação Vila Mariana do Metrô era também ao lado e a minha diversão, nesta fase, era jogar futebol, com bola de meia, na Praça do Metrô e jogar futebol de botão com os meus amigos em casa, antes e depois da escola.
Era um momento muito diferente do atual e mesmo com nove, dez anos de idade eu andava por todo o bairro. Ia comprar pão e leite diariamente e, como começaram a aparecer os primeiros traços de um bigode, o dono da padaria me presenteou com um ‘Gilette’ no final do ano.
Eu frequentava muito a biblioteca, pois para se fazer os trabalhos e as lições da escola era preciso pesquisar e não havia ainda a internet, portanto tínhamos que procurar e ler vários livros para poder entregar os deveres – geralmente em papel almaço e totalmente manuscrito. Que fase boa!
Nessa época eu morava com meus pais, Pedro e Ivone, e a minha irmã caçula, a Vânia, morava com meus avós maternos na casa ao lado. Eram casas alugadas e os meus avós viveram numa delas por mais de 40 anos.
Na minha família sempre houve uma forte vocação para os negócios. O meu avô era libanês e, com isso, em nossas residências funcionavam uma fábrica de guarda-chuvas, uma boutique, uma escola de corte, dentre outras ações empreendedoras. Foi um tempo muito bom.
JVN: Que valores ou ensinamentos mais importantes seus pais transmitiram para você? Acredita que essas lições de infância o acompanham até hoje, tanto na vida pessoal quanto na profissional?
Adilson Bondança: Com certeza. Meus pais me passaram valores que eu carrego comigo até hoje. Foram incríveis! Eles sempre lutaram muito para dar o melhor para nossa família e, como já comentei, sempre foram empreendedores.
No final da década de 70 as casas em que morávamos, em São Paulo, foram vendidas e precisávamos nos mudar. Foi neste momento que surgiu a oportunidade de virmos para Atibaia.
A partir daí muita coisa mudou em nossas vidas. As empresas foram fechadas, os negócios descontinuados e era necessário começar tudo novamente. Meus pais foram tocar o bar do São João Tênis Clube e lá eu passei boa parte da minha adolescência.
Eu queria jogar tênis, afinal, estávamos dentro do clube e eu podia jogar, mas, naquela época, não era permitido jogar com tênis preto e eu só tinha um único tênis e ele era preto. Conclusão, só pude jogar quando os meus pais puderam me dar um novo tênis e eles me fizeram entender que havia outras prioridades. Mas assim que foi possível atenderam o meu pedido. Puxa, joguei muito tênis, fiz muitos amigos.
Infelizmente meus pais já partiram, mas eu e minha irmã mais nova, a Vânia, moramos um do lado do outro hoje e nos vemos com frequência. Os almoços em família, a reunião, a valorização das pessoas, a ética e as conquistas em conjunto, me acompanham até hoje.
JVN: Hoje você é casado com a Noemi, que também é professora, e juntos construíram uma família linda. Como vocês se conheceram? E como é dividir a vida com alguém que compartilha essa paixão pela educação? Ela tem alguma influência ou participação especial nas decisões e nos caminhos que você escolhe, seja na vida ou no trabalho?
Adilson Bondança: Eu vou completar 38 anos de casado com a Noemi e ela é a minha companheira de vida. Nos conhecemos no Ensino Médio, no Major Alvim. Nos casamos e tivemos dois filhos maravilhosos – a Mayra e o Caio – e a família é o nosso alicerce nesta jornada.
A Noemi foi professora da educação infantil e sempre adorou lidar com crianças. Hoje ela cede todo o carinho e amor que acompanhou toda a sua carreira na dedicação aos nossos amados netos – a Olívia, de três anos e o Tito, de nove meses.
Nesta nossa longa jornada nem sempre as coisas saíram como planejado, pois são muitos momentos de dúvidas, de medos e de aflições. Mas seguimos juntos, superando os obstáculos com confiança e muita fé em Jesus.
JVN: Voltando um pouquinho no tempo, como foi sua estreia na vida profissional?
Adilson Bondança: Aconteceu quando eu tinha por volta de 14 anos. Eu estava em férias escolares e o meu pai me pegou em casa um dia e me levou para a empresa de um amigo. Neste momento começa a minha jornada profissional. Ele sempre me disse que eu precisava valorizar as conquistas e que precisava começar a me tornar independente.
Aos 17 anos eu ganhava um salário mínimo e não sabia o que fazer com tanto dinheiro. Decidi entrar num consórcio de moto e em três meses eu fui sorteado e passei a ter uma moto 0 km.
JVN: Queremos muito também saber como foi sua jornada pelo empreendedorismo. Qual foi o início dessa história e como você se preparou para chegar onde está hoje?
Adilson Bondança: Eu me formei como técnico em química, no querido Major Alvim, em um curso noturno em que, naquele tempo, para se ter formação técnica era necessário fazer um ano a mais de Ensino Médio.
Quantas lembranças! Estágio na SAAE, uso constante do laboratório e experimentos que não deram certo e fizeram a direção ter que suspender as aulas no dia, em virtude do cheiro que se propagou em toda a escola (risos).
Graças a este curso fui trabalhar em uma das principais fábricas de piscinas de fibra de vidro de Atibaia, como químico responsável – e daí surge a minha primeira iniciativa como empreendedor. Montei a minha primeira empresa, aprendi muito, mas a empresa não prosperou.
Deste momento em diante a atuação na iniciativa privada passa a ser cada vez mais intensa e com maior envolvimento, até chegar à década de 90, mais precisamente no ano de 1994, quando inauguramos a loja de materiais de construção – a Bondança Casa & Construção, em conjunto com dois primos.
JVN: A Bondança Casa & Construção é um capítulo importante da sua jornada empreendedora, não é mesmo? Pode nos contar mais sobre ela?
Adilson Bondança: Sim, claro. Foi uma iniciativa de muito sucesso. Chegamos a estar entre as 50 maiores empresas do ramo, no interior do estado de São Paulo. Trouxemos para a região o modelo home center – o horário de funcionamento foi disruptivo, pois a empresa só fechava dois dias por ano, dia 25 de dezembro (Natal) e 1° de janeiro (Ano Novo).
Neste momento comecei a atuar muito com treinamento de pessoas, pois tínhamos uma equipe de mais de 100 colaboradores e muitos serviços feitos de forma terceirizada – outsourcing -, e foi quando comecei a entender a necessidade de valorizar e capacitar cada pessoa, transmitindo além de orientações para o exercício da atividade, com eficiência e eficácia, a cultura organizacional e o propósito da empresa, possibilitando a devida integração e formação de um time. Assim formamos a Equipe Águia – Ação, Garra, Urgência, Iniciativa e Amor.
JVN: E esse trabalho com o desenvolvimento de pessoas o levou para outros desafios, não foi?
Adilson Bondança: Exato. A partir de 2004 fui tocar outros projetos, comecei a minha atividade no setor público, como professor de ensino técnico e palestrante. Foi quando consegui ter a visão de todas as áreas e todos os stakeholders envolvidos na construção de uma cadeia de desenvolvimento econômico de forma sustentável.
Tive o privilégio de atuar em várias cidades da nossa região, conhecendo de perto suas características, necessidades e oportunidades, dentre elas: Atibaia, Mairiporã, Caieiras, Bragança Paulista e Bom Jesus dos Perdões.
E foi neste período que comecei a me envolver com tecnologia e inovação. Não sou um técnico, nem um programador, mas percebi que com o uso destas ferramentas podemos tornar a vida do cidadão melhor, com desburocratização dos processos, agilidade nas respostas, redução de custos, de tempo nas ações e a valorização das pessoas.
Os empreendedores precisam estar focados na realização das atividades do seu negócio e do seu propósito de vida e não nos detalhes burocráticos e legais. Isso o uso da tecnologia pode resolver.
JVN: Você também cursou Administração na UniFaat, correto? Como foi a decisão de escolher esse curso e como essa formação se encaixa na composição do profissional e empreendedor que você se tornou?
Adilson Bondança: Bem, Administração de Empresas não foi exatamente uma escolha por vocação. A atual UniFAAT na época era apenas a *FACACA (*Faculdade de Ciências Administrativas e Contábeis de Atibaia, que antecedeu a FAAT e que foi fundada em 1971) e existiam apenas dois cursos na faculdade: Contabilidade e Administração de Empresas, então eu escolhi o de Administração, pois não tinha a mínima condição financeira de sair de Atibaia para fazer um outro curso fora uma vez que, nesta fase, eu já era o responsável pelo meu custeio.
Porém, fazer o curso de Administração de Empresas foi muito importante em minha vida, pois ele me trouxe uma ampla experiência em todas as áreas de gestão e negócios e, com isso, fui me especializando durante a minha jornada de vida.
JVN: Como você já mencionou, hoje a tecnologia tem uma grande relevância na sua atuação profissional como um todo, mesmo você não tendo necessariamente feito uma formação na área. Houve um fator determinante que o levou a se profundar mais nesse tema?
Adilson Bondança: O grande marco que me levou a ter interesse e dedicação pela área de tecnologia e inovação ocorreu durante o meu período como professor de ensino técnico profissionalizante, com o desenvolvimento de um projeto com o curso de Logística, no qual criamos toda uma cadeia produtiva, chegando a inscrevê-lo no programa Inova Paula Souza. Esse projeto ficou em terceiro lugar no estado de São Paulo e utilizava pallets, uma pequena área produtiva e Arduino, para a verticalização da plantação de morangos – viabilizando o cultivo do fruto em pequenas propriedades.
Desde então, entendi que com o uso da tecnologia e da inovação dos processos podemos gerar uma melhor qualidade de vida e inclusão para as pessoas. Isso me levou a fazer uma especialização, recentemente, em Docência para o Ensino Profissional Tecnológico – EPT.
JVN: Com mais de 30 anos de experiência, você passou por várias áreas e funções. Qual delas considera que mais moldou sua carreira até aqui, e por quê?
Adilson Bondança: Eu não destacaria uma única área ou função, pois entendo que a fusão de toda a minha jornada é que realmente marca a minha carreira. Aprendi muito com os erros e os tropeços e transmiti muita informação e conhecimento com toda a bagagem acumulada.
Tudo isso me trouxe a estar hoje no melhor momento da minha carreira, preparado para novos desafios e conquistas.
JVN: Conte-nos sobre o período em que atuou na prefeitura de Atibaia – você ocupou alguns cargos importantes lá, com destaque talvez para o Departamento de Tecnologia e Inovação. Como foi essa jornada e quais foram os maiores aprendizados e as conquistas que você destacaria dessa experiência?
Adilson Bondança: A Prefeitura de Atibaia, com certeza, ocupa um papel de destaque na minha jornada. Foi a minha primeira atuação no setor público e eu vinha com toda a vivência do setor privado. Foi um momento de grande transformação em várias ações do setor público – dentre elas o início do uso da internet para digitalizar e começar a integrar os processos, como o de abertura e licenciamento de empresas, que teve início em 2010 e que hoje está numa fase de total integração e interoperabilidade de sistemas.
Meu primeiro cargo na SEDEC (Secretaria de Desenvolvimento Econômico) de Atibaia foi em 2007, como Diretor de Comércio e, em minha segunda passagem pela prefeitura, em 2021, assumi como Diretor de Tecnologia e Inovação.
Para mim, o grande desafio eu me motiva a atuar no setor público é poder gerar mecanismos e ferramentas para facilitar o dia a dia da população.
Quem quer abrir um negócio tem pressa, pois precisa gerar receita, lucro. E quem procura um emprego também. Ao ter uma ideia, tentar inovar e gerar novos produtos e serviços é necessário ter o apoio do poder público, cumprindo o seu papel, sendo o suporte. Porém, passando pelo processo de forma imperceptível – fazendo cumprir as leis sem, no entanto, criar dificuldades nem excesso de burocracia.
JVN: Além do setor público, você também teve atuações importantes para a realização de alguns eventos e associações empresariais aqui na região. Quais você destacaria?
Adilson Bondança: De fato, foram atuações marcantes para mim e eu destacaria o período de 2003 a 2007, quando fui integrante da diretoria da Associação Comercial e Industrial de Atibaia (ACIA), de 2003 a 2007. A realização do Fórum Nacional de Desenvolvimento Econômico – FNP/ Sebrae, 2010 a 2012 (Brasília, Florianópolis, Foz do Iguaçu e Belo Horizonte), representando Atibaia.
Teve ainda o I Fórum de Recursos Humanos de Atibaia, em 2011, que deu origem ao Agruparh Atibaia – inicialmente um Grupo de RH, composto por empresas focadas em discutir e apresentar boas práticas em Relações Humanas. Hoje esse grupo se transformou na Associação Grupo de Recursos Humanos de Atibaia e Região, mantendo a sigla AgrupaRH.
Também participei da realização do I Fórum de Empreendedorismo e Inovação de Atibaia, em 2012 e, no mesmo ano, do 1º Encontro dos Municípios com o Desenvolvimento Sustentável, em Brasília.
JVN: O Conecta foi um dos grandes marcos durante sua atuação na prefeitura de Atibaia. Como foi a implementação desse programa e qual o impacto que ele trouxe para as empresas e startups da região?
Adilson Bondança: Quando eu recebi o convite do Secretário de Desenvolvimento Econômico, Annibale Somma, um querido amigo, para compor a sua equipe e assumir a Diretoria de Tecnologia e Inovação, em 2021, foi um grande presente e também um desafio. Eu já possuía um bom know how na pasta – inclusive, naquele momento eu estava chefiando a mesma pasta na Prefeitura de Caieiras – e precisávamos criar um projeto para dar andamento às diretrizes da diretoria. E o Conecta Atibaia foi o projeto âncora que envolveu todas as ações da Secretaria e que continua ativo, o que me deixa muito feliz.
JVN: Sobre o reconhecimento de Atibaia como Arranjo Produtivo Local (APL) em Agronegócio e Tecnologia da Informação, que papel você desempenhou nesse processo? E que relevância isso trouxe para a cidade?
Adilson Bondança: Eu sempre acreditei nos programas de fomento e apoio aos arranjos ou cadeias produtivas. Acredito que consolidar a atuação de toda uma cadeia produtiva em uma região gera oportunidade de negócios, de trabalho, de renda, de capacitação profissional e de desenvolvimento sustentável, pois com o apoio do setor público podemos mapear todos os stakeholders e quais são as suas dores, gerando desta forma oportunidades de negócios e de empreendimentos, com base no que há de demanda.
E isso pode acontecer de forma regional, ou seja, gerando um polo focado em determinado segmento – o que se consolidou nesse caso em especial não por uma ação política, mas por uma ação do próprio mercado e que a gestão pública conseguiu identificar e que agora poderá ajudar na sua estruturação e consolidação.
Com as informações que coletamos, conseguimos levar ao Governo do Estado o embasamento necessário para que a cidade recebesse este reconhecimento. Porém, ainda há muito trabalho a ser feito, pois se faz necessário um envolvimento cada vez maior de todos dessa cadeia, com ações e com projetos, para que ela se torne consolidada e madura.
JVN: Após deixar a Prefeitura de Atibaia, você passou a prestar consultorias para diversas outras prefeituras, inclusive continuando a colaborar com Atibaia. Que desafios e aprendizados você tem encontrado nessa fase de consultorias e como é fazer essa transição entre o setor público e privado?
Adilson Bondança: O retorno ao setor privado foi também um outro grande presente, pois eu conheço a necessidade do setor público e posso oferecer sistemas e serviços devidamente alinhados às necessidades dos municípios. Eu atuo pela empresa Mitra Sistemas e tenho a oportunidade de viajar o estado todo, atendendo as prefeituras.
Os municípios têm buscado muito o reconhecimento de Smart City, porém, isso demanda muito esforço e dedicação, já que tudo precisa estar conectado para se prestar um serviço de excelência ao cidadão – e tenho certeza que podemos ajudar nesta caminhada.
JVN: Você já mencionou que a prefeitura de Atibaia ocupa um papel de destaque em sua jornada. Você acha que a cidade se diferencia de outras na região em termos de incentivo à tecnologia e inovação?
Adilson Bondança: Realmente Atibaia é um case muito especial e importante, por sua localização estratégica, entre grandes centros, como a grande São Paulo, o Sul de Minas, o Vale do Paraíba e a Região de Campinas, além da diversidade de sua economia.
Continuamos sendo um importante polo turístico – com destaque para o turismo de negócios – além de importante polo também do agronegócio, com destaque para as flores e frutas. Atibaia é ainda um polo industrial de destaque, consolidado principalmente pela implantação de vários condomínios empresarias e, justamente pela localização privilegiada, também estamos nos consolidando como um polo de distribuição e de logística.
Apesar disto tudo, Atibaia não participa ativamente das ações de nenhuma destas regiões, e eu acredito que é necessário que a cidade passe a liderar as ações no seu entorno, para atender toda a demanda gerada por sua economia pujante.
Oferecer centros de inovação, estimular o surgimento de startups, possibilitar o incentivo à pesquisa e ao desenvolvimento, além de oferecer possibilidades de capacitação e qualificação profissional em Atibaia irá fortalecer e possibilitar a construção de um ecossistema forte e independente aqui, que irá gerar qualidade de vida e renda à toda população.
JVN: Você também se define como um intraempreendedor e tem um perfil que promove a inovação nos lugares onde atua. Qual é a importância do intraempreendedorismo em uma organização, especialmente em um setor tão dinâmico quanto a tecnologia?
Adilson Bondança: Eu acredito que nem todo mundo tem o perfil para ser empreendedor, porém, ser intraempreendedor é algo que todos podem e devem fazer, pois não importa o tamanho da empresa – podemos criar as oportunidades e atuar para o crescimento e desenvolvimento da organização e das pessoas envolvidas. Só assim podemos ter um cenário ideal para todos os envolvidos.
JVN: Para você, qual é o diferencial das startups e empresas que estão surgindo aqui em Atibaia e região em comparação com o restante do estado ou até do Brasil?
Adilson Bondança: Eu tenho procurado acompanhar todo este processo. Em 2020, durante a pandemia de Covid 19, criamos o programa “Transformação Digital e Inovação”, em Mairiporã. Um programa reconhecido pelo SEBRAE como uma importante ação de inclusão digital para empreendedores, integrando o Programa Enfrentar Turismo, do próprio SEBRAE, com mentoria e consultoria individual.
O programa buscava auxiliar os empreendedores a encontrarem opções para continuarem em atividade, visto que a maioria das empresas tinha que ficar com as portas fechadas. Isso exigia uma mudança no seu mindset e o uso de tecnologia e inovação.
As startups surgem de ideias e da busca por produtos e serviços disruptivos aos que o mercado oferece. E para que elas consigam ter sucesso precisam de apoio, pois a mortalidade de empresas na fase de ideação é muito grande – muitas vezes elas não conseguem se quer tirar uma ideia do papel, ou até se aventuram, mas sem respaldo ou um suporte adequado.
As empresas, o setor público, o cidadão, enfim, todos precisam de novas ferramentas e produtos. Portanto, apoiar o desenvolvimento de pesquisas é crucial. Com o surgimento do ambiente regulatório experimental (Sandbox Regulatório1) – previsto no Marco Legal das Startups -, será possível investir em projetos para atender dores específicas. Isso irá ajudar muito a que surjam startups e que elas consigam aporte financeiro e técnico, para viabilizar os seus projetos.
Eu entendo que Atibaia precisa estar atenta a estas ações e com isso criar o seu Centro de Inovação para apoiar o surgimento das startups. O programa municipal Inovati é uma ação muito importante de aporte financeiro a projetos de inovação e deve ser mantido e ampliado.
JVN: Olhando para o futuro do setor de tecnologia e inovação, quais são as áreas ou tendências que você acredita que serão essenciais para o crescimento de novas empresas e startups?
Adilson Bondança: Acredito que neste momento se fala e se trabalha muito com IA (Inteligência Artificial) e este é um caminho que precisamos trilhar. Mas não podemos nos esquecer que assuntos mais pontuais – como a implantação da estrutura de 5G, para a qual Atibaia já dispõem de legislação, viabilizando muitas ações de IoT (Internet das Coisas) -, é fundamental para as empresas e a população poderem utilizar os equipamentos mais avançados.
JVN: Olhando para o futuro, quais são seus planos ou projetos que ainda pretende realizar?
Adilson Bondança: Pretendo continuar atuando como uma conexão, um hub, cuidando de pessoas, promovendo a inovação, o empreendedorismo, o crescimento e a evolução profissional. Seguir oferecendo suporte a startups, empreendedores, pessoas em busca de uma direção, ideias e projetos de pesquisa e desenvolvimento (P&D), facilitando e apoiando o desenvolvimento de novas tecnologias, produtos e serviços inovadores. Tudo isso com total assessoria, redes de contato e parcerias, para ajudar essas pessoas a construir um ecossistema colaborativo que inclui empresas, universidades, governo e investidores – baseado nos princípios cristãos para impactar vidas.
Para exemplificar, costumo dizer que uma prótese de um braço, feito em uma impressora 3D, muda a vida de uma pessoa com deficiência. Portanto, com o uso da tecnologia podemos mudar a vida das pessoas.
Como já disse antes e só para reforçar, nosso projeto – e digo “nosso” porque não estou sozinho – é ser um Hub de Inovação Tecnológica, que fomenta a participação ativa entre os atores do mercado, como governos locais, empresas, empreendedores, universidades e escolas técnicas, fortalece as cadeias produtivas e setoriais e contribui para a melhoria e fortalecimento dos setores produtivos e para a geração de renda com melhoria da qualidade de vida das pessoas.
JVN: Para finalizar, que conselhos você daria para quem está começando a empreender – especialmente nas áreas de tecnologia e inovação?
Adilson Bondança: Eu diria que se você está começando a empreender, seja por vocação, ou por necessidade, não caminhe sozinho. É normal que às vezes tentemos caminhar sozinhos, mas juntos somos mais fortes e, na maioria das vezes, não conseguimos somente com a força dos nossos braços. Tem muita organização séria para apoiar e para te dar o suporte necessário.
Muitas vezes você vai desanimar, a jornada será difícil, mas confia, tenha fé, renove as forças e siga a sua caminhada.
1Sandbox Regulatório: é um ambiente em que o órgão regulador permite que alguma empresa opere com regras diferentes das demais empresas por um período de tempo determinado para possibilitar o teste de alguma inovação. Para saber mais, clique aqui.
Adilson Bondança é empreendedor-raiz e, com uma carreira de mais de 30 anos, já atuou em cargos de gestão tanto no setor público quanto na iniciativa privada. Sua atuação na Diretoria de Tecnologia e Inovação da Prefeitura de Atibaia foi determinante para a criação do programa Conecta, além do reconhecimento da cidade como Arranjo Produtivo Local (APL) em Agronegócio e TI. Formado em Administração e com ampla experiência como palestrante e professor, Adilson se dedica a iniciativas que fomentam a inovação, o desenvolvimento sustentável e a valorização das pessoas. (Foto: Linkedin)