Há exatos 36 anos, conheci em Portugal um jornalista chamado Luiz Farinha. Ele então com 60 anos, conduzia programas de rádio na região de Cascais, onde morávamos. Convivemos durante um ano, alternando entrevistas e ótimas conversas. Luiz Farinha tinha um filho de 10 anos! Perguntei como era ser pai de uma criança aos 60 anos, e num misto de alegria e orgulho, sorriu e disse…maravilhoso!

Naquela minha juventude, a ideia de um pai “tão” velho era pouco convencional; guardei na memória o episódio, que viria a ser a minha própria realidade – fui pai aos 50 anos. Mariana, hoje com 12 anos, ressignificou definitivamente o como me percebo enquanto pessoa, cidadão, ser humano, companheiro e… pai!

É bom ser pai velho, quando diversas angústias existenciais já foram vividas – o que não significa de forma alguma imunidade de medos e incertezas que experimentamos ao compreender nossa capacidade de transcendência! Estaremos aqui por quanto tempo? Vamos suprir material e intelectualmente todas demandas que filhos esperam dos pais? Será que eles esperam alguma coisa?! Ser pai também me despertou a necessidade de ressignificar minha relação de filho, resgatando memória das coisas ditas e não ditas, feitas ou negadas.

Desafio da paternidade vale uma vida!

Pater significa pai, progenitor, protetor da família, mas também no latim nomeava deuses e heróis, o senado romano ou o mais alto status familiar – sempre representado na figura masculina. Quase indissociável esta relação de PAI e PODER! Mas qual poder? Certamente passa ao largo do poder de “mandar”, falamos aqui de POTÊNCIA! O poder de criar, germinar, dar vida. E também o poder de orientar, acolher, conversar, compreender ou questionar a todo momento o que fazemos e os porquês, já que nossos atos e palavras serão reproduzidos por nossos filhos, assim nós reproduzimos inconscientemente comportamentos de nossos pais.

Ao acolher e abraçar minha filha, ainda bebê, foi como se todas as certezas voltassem a zero, e uma nova jornada de conhecimento se abria – eu me questionava se aos 50 anos teria energia e motivação para um novo ciclo de conhecimento, e estes anos me apresentaram o melhor da vida, com menos ego, e muito mais significado.

Compreendo o papel de pai como construir a pista de onde irá decolar um avião em viagem incerta, mas própria. Se nem sabemos ao certo sobre nossa próxima escala, como querer traçar a rota para nossos filhos? Só podemos ensiná-los a pilotar seu destino, e torcer para que a viagem ocorra sem tempestades.

Cada dia enxergo na minha filha Mariana uma nova pessoa, às vezes criança, outras, adulta ou adolescente. Sempre viva, com algo a contar e perguntar… com ela entendo o que é o amor incondicional, não necessariamente forte ou intenso, mas inexorável, desperto em sua latência quando necessário, como parte essencial de mim.

No dia dos pais, só posso dizer “Obrigado Mariana!” por me fazer uma pessoa diferente… e melhor!

Compartilhar:

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *