Pessoa empreendedora, não subestime as informações apresentadas a seguir.
Nessa semana o governo anunciou a revisão da projeção do déficit público (diferença entre o que o governo arrecada de impostos e gasta, excluindo o pagamento de juros sobre a dívida pública) para R$ 177 bilhões. Até então essa era de R$ 144 bilhões.
Adicionalmente, no início desse mês foram definidos os parâmetros da Reforma Tributária que, segundo o governo, deverá trazer inúmeros benefícios; entre esses, simplificação e redução dos custos para as empresas cumprirem suas obrigações fiscais.
Quando o governo tende a gastar mais do que arrecada (no contexto de uma economia que está crescendo pouco como a brasileira) tem três opções para se financiar: aumentar impostos; tomar dinheiro emprestado junto ao setor privado, por meio da emissão de títulos públicos; se esforçar para reduzir seus gastos.
As duas primeiras opções reduzem a capacidade de consumo das famílias, pois têm impacto direto na demanda por bens e serviços. Em relação a terceira opção, o governo tem sido muito criticado por não fazer o seu dever de casa: promover redução de gastos. No meio do caminho, e sempre no meio do caminho, estão empresas e consumidores.
Há grande polêmica em relação a Reforma Tributária e se, com a implantação dessa, a carga tributária aumentará. Já se especula que o Imposto sobre o Valor Adicionado (IVA) do Brasil será um dos maiores do mundo.
É inevitável que se o déficit do governo continuar aumentando o setor privado será penalizado. Em meio a esse “debate”, já avaliou sobre quem incidirá o peso de um provável aumento de impostos (consumidores ou empresas) e como afetará seus negócios?
Como você conhece, a formação do preço de cada bem ou serviço depende de duas forças: demanda (D) e oferta (S). Enquanto D é afetada pelo preço do bem, preço de bens relacionados no consumo (substitutos ou complementares), preferências e renda dos consumidores; S depende do preço do bem, custos de produção, preços dos bens relacionados na produção e tecnologia empregada pela empresa.
As variáveis suficientes para compreender os efeitos da Reforma Tributária sobre sua empresa e sobre quem incidirá um provável aumento de impostos sobre o consumo (empresa ou consumidor) são o preço do bem ou serviço, p, e a renda do consumidor, R.
Não importa o local, setor, tecnologia empregada na produção ou venda do bem ou serviço ofertado pela sua empresa e demandado por seu cliente: a Lei da Oferta e da Demanda não mudará: a determinação do preço e da quantidade transacionada por um bem ou serviço depende da interação entre demanda e oferta.
Em qualquer negócio, o impacto do aumento dos impostos dependerá da sensibilidade relativa da demanda e da oferta em relação ao preço do bem. Se o consumidor de determinado bem ou serviço é menos sensível ao preço, aumentos nos impostos farão com que esses sejam mais afetados pelos aumentos dos impostos, e vice-versa.
Particularmente, a sensibilidade da demanda em relação ao preço de um bem exige avaliar se o bem é essencial, se existem bens substitutos, a importância desse no orçamento do consumidor. Do ponto de vista das empresas, é preciso avaliar o impacto das variações nos custos de produção ou venda em relação a capacidade de oferta e variação nos custos.
O impacto do aumento dos impostos dependerá desses elementos e se o seguimento no qual atua pagará a alíquota padrão, reduzida ou zero; mas, fundamentalmente, do nível da alíquota neutra a ser definida pelo governo, como discuti na coluna do dia 21/07.
Por outro lado, se ocorrer aumento nos impostos sobrará menos renda para gastos para consumo. O impacto dessa, no seu negócio, dependerá da forma como seu consumidor reagirá: buscará produtos substitutos, novas marcas ou reduzirá o nível de consumo?
Fiquem atentos!
Marcello Muniz é economista e mestre em Engenharia pela USP. Com 20 anos de experiência profissional, é perito judicial, atua como Analista de Negócios junto à Data Science Business Management (DBSM) e é professor de Economia junto à Unifaccamp (de Campo Limpo Paulista) e Faculdade Impacta de Tecnologia (FIT).
Atuou como pesquisador da Divisão de Economia e Engenharia de Sistemas do IPT (DEES), consultor do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e Analista de Projetos da Fiesp.
Apaixonado por temas relacionados a políticas públicas e economia, participou na qualidade de coautor de 13 livros, entre esses: Política Industrial (Jornal Valor Econômico), Outward FDI from Brazil and its policy context (Vale Columbia Center on Sustainable International Investment), Gestão da Inovação no Setor de Telecomunicações (Fapesp) e Ressurgimento da indústria naval no Brasil: 2000-2013 (projeto-Ipea-BID).
Excelente análise professor Marcello.
Obrigado, Valderi. Vamos construir e participar desse debate. Abraços
Análise perfeita da tragédia implantada por esse governo de trevas. Infelizmente nossa passividade como povo, nos impede de termos uma reação digna. Temos o desgoverno que permitimos.