Na última quarta-feira (4), o Comitê de Política Monetária (COPOM), do Banco Central do Brasil, divulgou sua decisão de aumentar a meta da taxa Selic para 12,75% a.a., até nova deliberação (14 e 15/junho). A meta definida na reunião anterior foi 11,75% a.a.. Com essa atitude, o BACEN mostra firmeza na política de juros altos, como principal recurso para controlar a inflação, que preocupa (a pressão inflacionária que aqui se vê tem sido um fenômeno global), e, ao mesmo tempo, atrair capital estrangeiro , mesmo que de curto prazo (o que alivia pressão sobre o real brasileiro e sobre a inflação).

No penúltimo parágrafo de seu Comunicado sobre a decisão, o COPOM explicita que “ Para a próxima reunião, o Comitê antevê como provável uma extensão do ciclo com um ajuste de menor magnitude.” Fica clara a tendência (note que o COPOM usa a palavra “provável”, ao se referir à nova elevação da meta de juros básicos) de elevação da meta, na próxima reunião – a conversa reinante nos mercados é de que a nova meta poderá ser 13,25%, haja vista o Comunicado trazer a expressão “ajuste de menor magnitude” (na última reunião, o aumento foi de 1,0 ponto percentual – ou 100 pontos-base, em relação à anterior). Na mesma “conversa reinante”, a expectativa é de 50 pontos-base a mais, isto é, 0,5 ponto percentual.

O BACEN, publica o documento “Focus – Relatório de Mercado”, às segundas-feiras, pela manhã. O documento, também conhecido como “Boletim Focus”, refere-se ao período de segunda a sexta-feira da semana anterior à da publicação. No documento, são apresentados dados, tratados estatisticamente, sobre expectativas de diversos profissionais dos mercados, acerca de indicadores relevantes para as decisões ligadas a planejamento de curto prazo, em particular. Aos poucos, oportunidades de comentar importantes “campos” do Focus, serão aproveitadas neste espaço precioso, oferecido pelo JVN.

Devido à relevância das informações oferecidas pelo Relatório Focus e à credibilidade da fonte, os comentários sobre ele chegam de todos os lados e não poderia ser diferente. Reuniões do COPOM, ampla divulgação de suas decisões, elaboração e publicação do Relatório Focus e outras ações, são todas alinhadas com o regime de Metas de Inflação, adotado pelo Brasil, há anos. São ações gerenciais do governo, no âmbito da política monetária. Entretanto, se a informação ficar abandonada “sobre o balcão”, nenhum benefício trará para as decisões empresariais. É necessário que informações sejam conhecidas e analisadas e não se pode analisar o que não se conhece; não é mesmo? Aí está a importância de buscar obter conhecimento técnico sobre questões econômicas que influenciam (e como influenciam!) as vidas de nossas empresas, independentemente de seus portes. O processo decisório precisa ser sustentado por informações consistentes, para que os riscos sejam minimizados, tanto quanto possível.

Com a publicação da nova meta da taxa Selic, surgem as conversas sobre juros reais no Brasil, comparação com outros países etc. Esse cálculo de “juros reais” é feito, a partir da meta da taxa Selic e da expectativa de inflação para os próximos 12 meses.  Li na internet: “A taxa real de juros é obtida subtraindo-se a expectativa de inflação futura da meta da taxa Selic.” (grifei). Um dos critérios de atribuição de qualidade à informação é que ela esteja correta e, no texto que li, há algo a corrigir. Vejamos. O Relatório Focus, na página 2/2, traz o campo “Infl 12m suav”, que apresenta expectativas  de inflação (com base no IPCA e IGPM) para os próximos 12 meses, suavizada. No caso do IPCA, é apresentada a expectativa de 5,63% (coluna “5 dias úteis”). A taxa real de juros (estimada) será obtida “extraindo-se” (não, “subtraindo”!) a expectativa de inflação da meta da taxa Selic. O cálculo não é uma subtração(12,75 – 5,63).  Para esses dados o cálculo deve ser: {[(1+ (12,75/100)) / (1+ (5,63/100))]-1} x 100.  O resultado (juros reais estimados) será 6,74%. Se fosse feita a “subtração”, o resultado teria sido 7,12% e estaria incorreto, sob o ponto de vista metodológico.

Algumas pequenas variações nesse número (6,74%) poderão ser vistas, porque os diversos analistas podem usar expectativas de inflação diferentes, mas o caminho das pedras é esse que mostro.

Espero ter sido útil.

Até breve!

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