É leitor(a), assim como um casal no início ou no decorrer de um namoro cria diversas expectativas, os agentes econômicos (consumidores, empresários, investidores e governos – que formulam políticas econômicas) são movidos por expectativas.

De fato, para que um relacionamento se consolide é fundamental que o casal ajuste constantemente suas expectativas na medida que o tempo passa, novos fatos acontecem e as atitudes e comportamentos de cada parceiro vão se revelando.

No funcionamento da economia as expectativas assumem importância central, na medida em que influenciam as decisões e comportamentos dos agentes econômicos. Tecnicamente, a impossibilidade de previsibilidade “perfeita” sobre o desempenho futuro da atividade econômica levou os economistas a formularem duas hipóteses sobre as expectativas: expectativas adaptativas e expectativas racionais. Na verdade, ao formar expectativas os agentes buscarão levar em conta a informações disponíveis para ajustar suas previsões futuras quanto ao comportamento futuro da economia.

Na prática, expectativas quanto ao nível de renda futura afetam os níveis de consumo e poupança. Se os consumidores esperam um aumento na renda futura, tendem a aumentar o consumo presente e vice-versa. Elevados níveis de confiança dos consumidores, baseadas em expectativas positivas sobre o desempenho da economia, normalmente levam a maiores gastos em consumo, estimulando a demanda e o crescimento econômico.

As expectativas também afetam os níveis de investimentos das empresas pois essas baseiam tais decisões em estimativas de lucros futuros e custo de capital. Se os empresários esperam elevados níveis de demanda e lucros crescentes estarão mais propensos a investir na produção. Por outro lado, as expectativas sobre taxas de juros futuras influenciam as decisões de investimento, uma vez que essa variável afeta os custos do capital próprio e de terceiros (empréstimos e financiamentos).

Nos mercados financeiros, os preços dos ativos (ações, títulos e outros ativos financeiros, incluindo a taxa de câmbio) são fortemente influenciados pelas expectativas dos investidores sobre ganhos futuros, níveis das taxas de juros e percepção de riscos de mercado.

Finalmente, as expectativas também possuem relação quanto a percepção de êxito da Política Fiscal, relacionada aos níveis de gastos e de arrecadação de tributos, e Política Monetária, empregada para manter a inflação sob controle tendo como principal instrumento a determinação da taxa de juros básica, Selic.

Em suma, é a partir das expectativas que as famílias tomam decisões de consumo e poupança, que as empresas decidem investir ou não e que os mercados, de uma maneira geral, definem os preços praticados. Particularmente, é por meio do monitoramento sistemático das expectativas formuladas sobre preços e atividade econômica feitas pelo mercado que o governo toma decisões de Política Monetária.

Além de utilizadas pelo Banco Central para tomada de decisões de Política Monetária, as expectativas econômicas da Pesquisa Focus são úteis para que os agentes econômicos possam planejar suas ações de curto, médio e longo prazos.

As expectativas de mercado são compiladas semanalmente no Relatório Focus (https://www.bcb.gov.br/publicacoes/focus), publicação que consolida projeções de mais de 170 instituições financeiras e de gestão de fundos. É por meio desse que o Banco Central monitora, principalmente, a taxa de inflação (IPCA), a taxa Selic, o nível de cambio e a expectativa de crescimento do PIB.

Em junho o Banco Central, novamente elevou as previsões de alta da inflação e do dólar para 2024 e 2025. Agora, as expectativas para o IPCA são de 4,0% e 3,87% respectivamente. A perspectiva é de elevação do dólar (que sofreu forte elevação nas últimas semanas devido ao nível dos juros nos EUA, crise no Oriente Médio e indefinições na política fiscal no Brasil), cuja projeção vem subindo.

Sobre a taxa de juros, as projeções se mantiveram inalteradas. Para este ano, o mercado espera que a Selic permaneça a 10,50% ao ano, enquanto para 2025, a expectativa é de uma taxa a 9,50%. No entanto, isso dependerá da melhora no desempenho das contas públicas e comportamento da inflação, medida pelo IPCA.

As novas expectativas divulgadas, acompanham a percepção de piora na saúde das contas públicas após recentes declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre a Política Fiscal do governo e suas críticas às medidas de manutenção da taxa de juros em 10,5% a.a. pelo Banco Central.

Estatísticas de outras fontes indicam que cenário é desafiador. Em maio o déficit primário do setor público (diferença entre o que o governo arrecada e gasta) atingiu recorde de R$ 1,062 trilhão no acumulado de doze meses até maio. Esse aumento ocorreu mesmo ante a arrecadação tributária recorde registrada em maio. Já déficit nominal (diferença entre o que o governo arrecada e gasta acrescida do pagamento de juros da dívida) atingiu 9,57% do PIB, com os juros atingindo o maior valor já registrado.

A grande questão é que a trajetória das contas públicas, resultados da Política Fiscal do governo que ainda não obteve êxito na implantação de sua agenda de políticas econômicas, impacta as expectativas quanto aos níveis de importantes variáveis econômicas, entre essas: inflação, juros e câmbio.

Importante também destacar que a Bolsa de Valores, que mede o humor do mercado em relação a performance da economia, teve o pior desempenho (- 20,3%) entre um grupo de 17 países emergentes e apresentou fuga de capitais (~ R$ 23 bi), fatos que vem refletindo a deterioração das expectativas quanto ao dinamismo da economia brasileira.

Em suma, esses indicadores ajudam o empreendedor a ter uma visão impressionista quanto ao desempenho futuro dos principais indicadores econômicos e de mercado dando subsídios a tomada de decisões.

Compartilhar:

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *