Avanço tecnológico impulsiona mudanças na gestão rural e exige profissionais mais capacitados, atenção à segurança e práticas jurídicas alinhadas à era digital.

A transformação tecnológica no agronegócio brasileiro está redesenhando a gestão e as relações de trabalho no campo. A automação de colheitadeiras, o uso de drones e a digitalização de processos ampliam a produtividade, mas também exigem novos perfis profissionais e maior atenção ao compliance trabalhista.

Segundo a advogada Giane Maria Bueno, da Michelin Sociedade de Advogados e integrante da Comissão Estadual de Compliance Trabalhista e Sindical da OAB/SP, a automação não elimina postos de trabalho, mas redefine suas funções. “O operário manual dá lugar ao operador de máquinas com conhecimentos em telemetria, ao técnico em agricultura de precisão e ao analista de dados que interpreta informações de sensores e drones”, explica.

Ela ressalta que o avanço tecnológico depende da qualificação contínua. “O trabalhador do campo agora precisa de letramento digital, raciocínio analítico e capacidade de resolução de problemas complexos. A velocidade das inovações exige atualização constante”, afirma.

O treinamento, segundo Giane, é o eixo central do compliance trabalhista rural. Capacitações sobre uso de EPIs, operação segura de máquinas e leitura de dados reduzem acidentes, fortalecem a cultura de segurança e comprovam a diligência do empregador.

Além disso, a especialista destaca a importância de manter registros detalhados — como controles de jornada, exames médicos e comprovantes de capacitação — para demonstrar conformidade com as Normas Regulamentadoras, especialmente a NR-31.

Outro ponto sensível é a gestão de empresas terceirizadas, que exige programas de due diligence e cláusulas contratuais que assegurem a legalidade das contratações. “A responsabilidade subsidiária do contratante só pode ser mitigada com monitoramento contínuo e auditorias bem estruturadas”, alerta.

O cenário digital também amplia as exigências jurídicas, envolvendo proteção de dados, cibersegurança e propriedade intelectual. “Com a coleta de dados biométricos e geolocalização, é indispensável adequar-se à LGPD e adotar políticas claras de segurança da informação. O planejamento jurídico no agronegócio moderno precisa ser multidisciplinar”, enfatiza.

Para Giane Maria Bueno, o compliance no campo se tornou um diferencial competitivo. “Mais do que cumprir a lei, trata-se de estruturar processos que preservem a saúde, a segurança e a dignidade do trabalhador, ao mesmo tempo em que fortalecem a sustentabilidade do negócio rural”, conclui.

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