“O propósito, acima de tudo, é o motor da lucratividade no longo prazo” (Laurence Fink)
Milhares de empresas ao redor do planeta trabalham duro para compreender e incorporar em suas operações o conceito ESG – sigla que representa Environmental, Social and Governance, utilizada para medir as práticas ambientais, sociais e de governança de uma empresa. O desafio é: como “virar a chave” de um modelo puramente competitivo, de maximização de lucro, para transformar-se em uma “empresa com propósito”?
Mudar a cultura de negócios, formato de gestão ou alterar a cadeia produtiva são desafios consideráveis a serem empreendidos em tempos de incertezas… mas para uma organização não governamental, estes desafios fazem parte do seu dia a dia. Conhecer e interagir com a realidade das ONGs pode ser de extremo valor para empresas que querem de verdade praticar sustentabilidade – vamos entender porque:
- Organizações Não Governamentais são criadas e operam para mitigar problemas socioambientais e transformar contextos onde atuam. A causa a que se dedicam faz sentido para colaboradores e comunidade – o propósito inspira, o problema social cria urgência e motivação, a missão tem significado e direção, e ganha reconhecimento e apoio da sociedade!
- ONGs trabalham com poucos recursos e muita criatividade – equipes enxutas de profissionais e voluntários rapidamente desenvolvem softskills, mesmo sem saber bem o que isso significa! A fórmula é: técnica + experimentação = aprendizagem que gera resultado e impacto! A improvisação, a flexibilidade e a otimização dos recursos são práticas cotidianas para lidar com cenários adversos.
- O “cliente” precisa ser sempre compreendido, atendido, acolhido, preservado, orientado, defendido. A relação é direta, a comunicação é simples, o possível torna-se realidade, e o impossível vira esperança. Fácil?
- Trabalhamos com respeito, tolerância, e garantimos o direito às diferenças e limitações – os modelos de tomada de decisão são informais, geralmente participativos. Os colaboradores compreendem seu papel e à serviço do que estão, o que facilita o engajamento da equipe: no Terceiro Setor o resultado do trabalho motiva mais que o salário recebido.
- As ONGs conhecem bem o seu território, demandas e necessidades – transitam entre os diferentes interesses de governos, igrejas, empresas e comunidades, mediando soluções e recursos para atender questões sociais e ambientais. Cooperação vale mais que competição e sobrevivem as organizações que aprendem a garantir sua identidade e autonomia (que no jargão empresarial significa posicionamento estratégico!).
- Por fim, ONGs podem multiplicar/compartilhar seus conhecimentos e experiências no campo ambiental (ex. reciclagem, preservação, consumo consciente, gestão resíduos), social (ex. segurança alimentar, qualificação e inclusão profissional, geração de renda, saúde mental, organização comunitária) e governança (ex. igualdade de gênero, tolerância, equidade e respeito, inclusão social, voluntariado, cooperação), adequando sua expertise aos cenários empresariais.
Não vamos discutir aqui se o ESG é mito, moda ou marco de transição (fica para outro artigo) – o fato é que empresas são sistemas vivos feitas de pessoas que interagem em rede com outras pessoas (seus stakeholders). Empresas que se pretendem sustentáveis já não podem operar como sistemas fechados que somente retroalimentam seus acionistas (shareholders).
A interação entre o Setor Produtivo e as ONGs pode ir muito além do apoio financeiro ou doação pontual. Empresas e organizações podem construir uma plataforma de colaboração e aprendizagem com benefícios mútuos para colaboradores, clientes e usuários atendidos e impactar as comunidades (e mercados) onde atuam. O desafio está posto – é só começar!
Empreendedor social, consultor empresarial, educador e músico, pai da Mariana e cidadão de Atibaia. Possui mais de 40 anos de trajetória profissional transitada entre o meio corporativo e o terceiro setor. Atualmente é dirigente da ONG Mater Dei de Atibaia-SP e violonista do grupo Sentido do Samba.
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