Fundamental é mesmo o amor,

É impossível ser feliz sozinho (Wave, Tom Jobim)

Querides leitores!

Recordo a repercussão do suicídio de uma adolescente inglesa, com uma rede social de mais de 1000 amigos, que postou diversas mensagens que davam a entender seu processo de depressão, isolamento e tristeza – nenhum desses amigos virtuais na época percebeu ou procurou intervir em seu favor; este episódio é um recorte de um problema que já se apresenta como um dos maiores desafios de saúde pública no mundo, a SOLIDÃO.

A professora do MIT Sherry Turkle, em seu livro Alone Together (2011), demonstrava que quanto mais avançava a tecnologia, mais prejudicava nossa vida emocional. De fato, a internet e as mídias sociais, mais o forte isolamento a que fomos expostos com a pandemia, nos empurram para uma zona de conforto digital, onde é possível interagir, conversar, trabalhar, divertir, em detrimento do contato humano físico.

Interações pessoais são importantes e necessárias para manutenção de nossa saúde – nascemos e somos programados como seres gregários – nossa espécie somente sobreviveu superando a fragilidade do isolamento, ao se unir em grupos, famílias, comunidade, países. A interação pessoal, mesmo nas relações corriqueiras e superficiais, nos ajuda a desenvolver linguagem, secretar hormônios, aumentar nossas sinapses, trocar informações e afetividade, elementos que ajudam na manutenção de nossa saúde emocional e mental.

Para além do crescimento da tecnologia, podemos entender o aumento do isolamento pelo modelo neoliberal de trabalho, que cria ambientes competitivos e uma carga laboral intensa – as pessoas interagem no ambiente de trabalho, mas nem sempre firmam vínculos significativos – a falta de tempo faz com que coloquemos filhos em creches, nossos avós em casas de repouso, nossos amigos em segundo plano, reduzindo o tempo de contato com nosso círculo afetivo mais próximo.

Países como o Japão, Canadá e Inglaterra, estão trabalhando para combater a solidão, ao diagnosticar que ela pode causar ou acelerar outras patologias como a depressão, síndrome de pânico, hipertensão, câncer e AVC. Na Inglaterra foi criado um Ministério da Solidão, tamanha é a preocupação com os impactos na sociedade. Programas na área da saúde estimulam as pessoas a terem atividades de forma sistemática (o que se está denominando de social prescribing), como encontros de meditação, dança, cursos de artesanato, atividades que promovam novas conexões pessoais.

Solidão Mata!

A solidão afeta todas as faixas etárias, mas se concentra principalmente na adolescência e na velhice – no Japão, são conhecidos os benefícios dos centros comunitários que oferecem atividades para idosos, sendo esta socialização um dos fatores citados para explicar a longevidade dos japoneses. A pesquisadora Noreena Hertz, autora do excelente livro The Lonely Century (que eu emprestei para título deste artigo), nos conta que pessoas solitárias mais facilmente aderem aos discursos extremistas religiosos ou políticos, em parte por não estarem exercitando seu senso crítico dialógico, em outras palavras, falta de interações sociais e prática de cidadania. Trata-se de uma necessidade de conexão, de pertencimento, e de aplacar o medo, fatores tradicionalmente explorados por narrativas extremistas.

Não estamos imunes ao processo de desenvolver solidão – excesso de trabalho, uso de tecnologia, intolerância e individualismo, afastamento das relações e ritos familiares, como almoços de domingo ou aniversários! Sair de casa, fazer compras, reduzir os deliveries, nos obrigam a cumprimentar, conversar, sorrir e receber feedback de outros seres humanos. Se não melhora nossa qualidade de vida, tenho a certeza que resgata um pouco da nossa humanidade – sem ela, estamos de fato sozinhos!  

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2 Comentários

  1. Solidão… Excelente e oportuno tema…
    Vivemos um tempo onde, até um grupo de amigos reunidos, promovem o isolamento e a ausência de interatividade com a imersão completa em suas telas de celulares….
    As reuniões em família são raras… onde os diálogos dos mais novos excluem os mais idosos…..UMA TRISTE REALIDADE!

  2. A solidão é o mal do século, isso é fato, as pessoas precisam voltar a gostar e de estar com pessoas; realidade dura para um mundo cada vez mais solitário, como já escrevia Drumond , “os olhos não choram, as mãos tecem apenas o rude trabalho e o coração está seco”.

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