Você já viu como, em muitos negócios, a imagem do dono acaba sendo a própria cara da empresa? Isso acontece com alguns grandes grupos empresariais – como o emblemático Silvio Santos –, mas também, e principalmente, com pequenos empresários.
O nome, o rosto e a personalidade do empreendedor acabam se misturando com a marca, ao ponto de que a empresa parece quase uma extensão dessa pessoa. Isso pode ser uma estratégia poderosa. Afinal, quando o empresário tem uma rede relevante de contatos e uma boa comunicação, a empresa se beneficia diretamente. É como se o prestígio daquela pessoa passasse para a marca, gerando confiança e proximidade com o público.
No entanto, essa associação tão forte entre dono e empresa pode também trazer um certo risco. E isso aparece quando a imagem do negócio depende exclusivamente da figura do empreendedor. O que acontece quando ele ou ela sai de cena, seja por aposentadoria, seja por qualquer outro motivo? A empresa perde força, e a continuidade pode ficar comprometida se não houver um planejamento para que essa transição seja suave. E aqui não estou falando apenas de grandes corporações, mas também de pequenos negócios, onde a figura do dono é o principal ativo.
Outro ponto que merece atenção é a evolução da imagem ao longo do tempo. Quando o empreendedor desenvolveu sua marca pessoal falando diretamente com um determinado público – os jovens, por exemplo -, surge uma questão importante: até quando ele conseguirá manter essa conexão? O público envelhece, o empresário também. Será que a imagem que funciona hoje continuará funcionando daqui a cinco, dez, vinte anos? Pensar nisso e adaptar-se às mudanças de mercado e ao próprio amadurecimento é essencial para garantir que a marca se mantenha relevante.
O mais interessante é que tudo pode ser planejado. As relações públicas oferecem ferramentas para que o empreendedor possa fortalecer a confiança da sua empresa, valendo-se da sua imagem pessoal, porém sem depender exclusivamente dela. E acredite, isso é possível.
A primeira coisa a se pensar é nos valores que a empresa carrega. Se a marca é muito atrelada à figura do dono, é importante que, desde cedo, esses valores sejam absorvidos pela empresa de forma clara. Competência, empatia, confiança, qualidade, responsabilidade… São atributos que podem começar com o fundador, mas que precisam ser sustentados pela cultura organizacional. Uma empresa deve ser reconhecida por esses valores, mesmo que o empreendedor não esteja sempre à frente.
Outro cuidado importante é pensar na sucessão. Preparar outras pessoas para representar a empresa é um passo fundamental. Quando a transição acontece de forma gradual, com outros líderes ou porta-vozes surgindo e ganhando destaque, o público começa a perceber que a empresa é mais do que a figura do fundador e que seus valores perpassam por toda a empresa ao longo do tempo. Isso fortalece a marca e cria uma sensação de continuidade e segurança, algo essencial para a longevidade de qualquer negócio.
E se você é o rosto da sua marca, talvez seja interessante começar a compartilhar essa identidade. É possível introduzir novos porta-vozes, criar embaixadores da marca, ou simplesmente dar mais visibilidade a outros membros da equipe. Isso ajuda a fazer a transição da marca pessoal para a marca empresarial de maneira suave e natural, sem perder a conexão com o público.
Além disso, é preciso estar sempre atento à adequação do discurso ao longo do tempo. Se, hoje, você fala diretamente para um público jovem, defina-se: até quando essa estratégia será eficaz? O mercado muda, à medida que as pessoas mudam, e as empresas que conseguem se adaptar a essas mudanças são as que têm mais chances de sobreviver. Um bom plano de RP pode entrar aí como uma estratégia poderosa para auxiliar nesse processo, ajudando a moldar a comunicação e a percepção da empresa de acordo com os diferentes momentos de sua trajetória.
No fim das contas, associar a imagem pessoa fundadora ou principal gestor a da empresa pode ser um grande trunfo – desde que feito com a atenção devida. A marca precisa ser mais do que uma pessoa que representa. Ela deve se sustentar nos valores que carrega, nas relações que constrói e na confiança que transmite ao longo do tempo. E isso tudo pode ser planejado, garantindo que, mesmo com a mudança das pessoas à frente do negócio, a empresa continue forte e relevante, com uma relevância que se auto sustenta no tempo e que respeita a imagem simbólica da pessoa fundadora.

Profissional de Relações Públicas pós-graduada em Gestão Estratégica da Comunicação organizacional pela ECA-USP, é também jornalista, empresária, palestrante e consultora de empresas com mais de 20 anos de experiência em comunicação interna e relacionamento com a imprensa. Professora universitária por 16 anos nos cursos de Comunicação, Marketing, Administração e Recursos Humanos nas instituições UniFaat, Fecap, Uniso e PUCCampinas.