Com estresse em alta e tarefas acumuladas, especialistas apontam planejamento e gestão equilibrada como saída para evitar perda de performance entre outubro e novembro
A reta final do ano é tradicionalmente marcada por queda de foco e aumento do desgaste emocional nas empresas brasileiras. De acordo com o relatório State of the Global Workplace 2023, da Gallup, 41% dos trabalhadores no país relatam altos níveis de estresse diário — um dos maiores índices do mundo —, cenário que se intensifica entre outubro e novembro, quando metas e entregas se acumulam.
Estudos do Indeed reforçam que setores administrativos e de serviços apresentam maior distração no último trimestre, o que impacta desempenho e concentração. Para especialistas, o problema não é pontual: trata-se de um padrão influenciado por falta de planejamento, comunicação insuficiente e excesso de urgência nas semanas que antecedem dezembro.
Carla Martins, vice-presidente do SERAC, explica que o período concentra decisões críticas e equipes já chegam nele acumulando cansaço emocional e pendências operacionais. Segundo ela, “alta performance não está ligada a produzir mais, mas a produzir melhor, com propósito e equilíbrio”. A executiva defende que expectativas claras e organização de prioridades reduzem a pressão e melhoram o foco.
Indicadores oficiais também apontam riscos crescentes. Dados do INSS registraram mais de 200 mil afastamentos por transtornos mentais no último ano consolidado. Relatórios da McKinsey mostram que ambientes de trabalho com pressão constante e falta de apoio têm maior probabilidade de gerar burnout, absenteísmo e queda de produtividade.
A sobrecarga também pode ser ampliada pela má distribuição de tarefas. Quando a responsabilidade se concentra em poucos profissionais, há aumento de desgaste e redução da eficiência operacional. Para Carla, equilíbrio na carga de trabalho e autonomia compartilhada são pilares para manter a performance até o fim do ano sem prejudicar o início do próximo ciclo.
Ela recomenda que empresas adotem práticas preventivas, como revisão das entregas realmente prioritárias, agendas com pausas planejadas e divisão de grandes metas em objetivos semanais — estratégia que cria “microvitórias” e sustenta a motivação. Estudos da Universidade de Stanford indicam que longas jornadas reduzem a eficiência após certo limite e que descanso estruturado melhora velocidade e precisão na execução das tarefas.
A especialista também destaca o papel da liderança em conversas individuais e acompanhamento contínuo, medidas que ajudam a identificar sinais de exaustão antes que avancem. “Liderar não é intensificar esforço, mas criar condições para que o trabalho flua com clareza e qualidade”, avalia. Ela reforça que desempenho sustentável depende de planejamento antecipado e práticas que não comprometam o bem-estar: entregar dezembro às custas de janeiro gera ciclos de desgaste que se repetem ano a ano.

