Vivemos tempos em que a transformação econômica vai além dos fóruns empresariais ou gabinetes governamentais. Hoje, ela pulsa nas ruas, nos bairros, nos coletivos criativos, nas feiras de produtores locais, nos encontros comunitários e nas redes colaborativas que resistem e criam em meio às adversidades. É nesses espaços que a Economia Criativa e a Economia Solidária deixam de ser apenas conceitos teóricos e se tornam prática cotidiana, ferramenta de emancipação e estratégia concreta de desenvolvimento territorial.
Nos artigos anteriores, apresentamos as motivações dessa coluna e falamos sobre o valor de empreender com propósito, de aliar criatividade, cooperação e compromisso social como fundamentos de uma nova economia. Hoje, proponho irmos além: olhar para o que já está acontecendo, para as experiências vivas demonstrativas da transformação absolutamente possível.
Não se trata mais de perguntar se uma nova economia é viável, mas sim de observar que ela já está em andamento, ainda que muitas vezes invisíveis às lentes tradicionais do empreendedorismo.
Em Atibaia, por exemplo, grupos de mulheres que através do bordado, da costura, da culinária artesanal e de outras variadas atividades, não apenas geram renda, mas também criam vínculos, fortalecem seu protagonismo e revitalizam saberes tradicionais. Esses grupos se organizam em associações, coletivos e redes, participam de feiras e encontros que promovem visibilidade e pertencimento.
Em Bragança Paulista, coletivos culturais têm ressignificado o espaço público com intervenções artísticas, oficinas de audiovisual, mostras de cinema independente e rodas de conversa sobre economia da cultura. São ações que ocupam os territórios com arte e pensamento crítico, mas que também geram ocupação e renda, especialmente entre os jovens, mas também para todas as idades.
Assim também ocorre nas demais cidades da região, um pulsar criativo, o compartilhar solidário, espaços públicos e privados onde deve-se oferecer ferramentas para que a população se torne protagonista da própria história econômica.
Essas experiências têm algo em comum: elas florescem de baixo para cima, com base em saberes locais, em relações de confiança, em afetos, em resistência cotidiana. São empreendimentos que não surgem para atender a demandas de mercado abstratas, mas sim a necessidades concretas das pessoas e de seus territórios. Isso lhes confere não apenas legitimidade, mas também resiliência.
A economia, nesse sentido, deixa de ser vista apenas como um sistema de troca de bens e serviços e passa a ser compreendida como uma expressão de vida, de cultura e de cuidado coletivo. Produzir, comercializar, empreender, tudo isso se torna parte de uma engrenagem maior, onde o lucro existe, mas como meio e não como fim. O fim, neste caso, é a dignidade, o pertencimento, a sustentabilidade e a felicidade das pessoas envolvidas.
Para que essas sementes germinem e floresçam em escala, é necessário que encontrem solo fértil. Esse solo se constrói com políticas públicas inclusivas, com educação empreendedora popular, com crédito orientado e solidário, com infraestrutura compartilhada, com parcerias entre universidade, governo e sociedade civil, ou seja, com um ecossistema de apoio que compreenda e respeite a lógica desses novos arranjos produtivos.
Gestores públicos, lideranças comunitárias e empreendedores devem reconhecer que a base territorial é um espaço estratégico de inovação e impacto social. O que chamamos de “periferia” pode ser, na verdade, o novo centro das transformações mais ousadas e potentes do nosso tempo.
E quando falo de inovação, não me refiro apenas à tecnologia de ponta, mas à capacidade de inventar caminhos. Um grupo que cria uma moeda social para facilitar trocas locais está inovando. Uma cooperativa que decide vender seus produtos por assinatura digital está inovando. Um coletivo que realiza uma feira cultural como vitrine de seus serviços e identidade está inovando. A criatividade está nas soluções que brotam da necessidade com beleza, afeto e inteligência social.
Por isso, quero deixar neste artigo um chamado: observe o que está acontecendo na sua cidade, no seu bairro, no seu território. Há uma nova economia em crescimento, às vezes silenciosa, às vezes festiva, às vezes tímida, outras vezes ruidosa, mas ela está lá e precisa de apoio, estrutura e visibilidade.
Essa coluna é um espaço aberto para divulgar e fortalecer essas iniciativas. Quero conhecer mais dessas experiências, dialogar com quem as vive, aprender com suas dificuldades e compartilhar suas conquistas. É no real da vida que a economia se humaniza e se transforma.
Vamos seguir juntos nessa jornada, criar pontes, valorizar histórias e consolidar práticas que empreendam com alma, com sentido, com solidariedade e com resultados sustentáveis.
Com coragem, criatividade e compromisso comunitário, a economia do futuro se faz agora, no presente dos nossos territórios.
Até a próxima edição!

Bragatto é graduado em Gestão Estratégica Empresarial e possui ampla experiência no setor financeiro pelo Banco do Brasil. Como Gestor Público em São Carlos-SP, foi Secretário de Trabalho, Emprego e Renda, destacando-se no desenvolvimento da Economia Solidária e Criativa, além de sua participação no Fórum Social Mundial como membro do Fórum Paulista e da Rede Nacional de Gestores em Economia Solidária.
Ocupou a presidência da Progresso e Habitação de São Carlos S/A (PROHAB), implantou a Secretaria de Administração Regional e exerceu quatro mandatos como vereador. Atualmente, é Secretário Adjunto de Relações Legislativas e vice-presidente da UVESP.
Com forte atuação em temas como Valorização da Vida, Inteligência Emocional, Saúde Mental e Desenvolvimento Humano, é um palestrante requisitado por empresas, universidades e setores públicos. Para Bragatto, compartilhar gera evolução, e cuidar de pessoas promove desenvolvimento, melhores resultados e satisfação—todos por um mundo melhor.

