Acúmulo de dívidas, desorganização financeira e falta de prevenção estão entre os fatores que pressionam empresas de comércio e indústria
O Brasil encerrou julho de 2025 com o maior número de pedidos de falência desde 2020, apontam dados da Serasa Experian. No acumulado do primeiro semestre, houve aumento de 18,9% nas solicitações em comparação com o mesmo período do ano passado, com destaque para empresas dos setores do comércio e da indústria, historicamente mais sensíveis às oscilações de crédito, consumo e custos operacionais.
Segundo especialistas, o cenário reflete não apenas fatores macroeconômicos, como elevação dos juros e desaceleração do consumo, mas também problemas internos das empresas, especialmente as de pequeno e médio porte.
Desorganização e falta de medidas preventivas
O advogado, contador e especialista em reestruturação empresarial Marcos Pelozato explica que grande parte das empresas que entra com pedido de falência já apresenta estágio avançado de desorganização financeira e jurídica. “É comum encontrar empresas que não têm controle claro do passivo, não acompanham indicadores básicos e desconhecem alternativas legais para renegociar dívidas. Falta orientação prática e uma cultura de prevenção”, afirma.
Ele reforça que ferramentas como mediação com credores, reestruturação societária e programas de compliance financeiro ainda são subutilizadas no Brasil. “A maioria das empresas procura ajuda apenas quando as execuções já se acumulam e as receitas não cobrem mais os custos operacionais. A falência, nesse caso, torna-se quase inevitável”, completa.
O aumento de pedidos de recuperação judicial também confirma a pressão sobre a saúde financeira dos negócios: nos primeiros seis meses de 2025, houve alta de 26,3% nas solicitações. O instrumento permite que empresas renegociem dívidas sob supervisão judicial, com objetivo de manter atividades e preservar empregos.
Capacitação e gestão profissional como saída
Para Pelozato, ampliar programas de capacitação em gestão de crise para contadores, advogados e empresários é essencial. “É preciso criar multiplicadores técnicos e conscientes, capazes de atuar preventivamente. A gestão profissionalizada não é mais uma escolha, mas uma necessidade para a sobrevivência empresarial”.
Com o agravamento do cenário, o segundo semestre de 2025 deve seguir pressionado, especialmente se não houver mudanças nas condições de crédito. Sem medidas estruturantes, a expectativa é que o índice de insolvência continue crescendo, atingindo principalmente empresas com baixa maturidade de gestão.

