Na última segunda-feira, minha avó faleceu aos 78 anos. Embora na fase adulta já não estivéssemos tão próximos, sua partida trouxe à tona uma memória marcante da infância: uma conversa sobre as experiências que viveu durante a ditadura militar no Brasil. Ela relatou, com detalhes, como participava da vida política em São Paulo e, sendo mãe de cinco filhos, precisou fugir da cavalaria em várias ocasiões. Lembro dela descrever a sensação como uma mistura de medo e adrenalina, uma dualidade entre a necessidade de proteger sua família e o desejo de lutar por um ideal.

Essas histórias que ouvi da minha avó me fizeram perceber algo fundamental: existe uma riqueza inestimável nas vivências dos mais velhos, um legado que não está nos livros, mas nas memórias pessoais. Coincidentemente, naquela mesma semana, assisti ao filme “Ainda Estou Aqui”, que narra as tensões e desafios desse período histórico no Brasil. Esse alinhamento entre memória pessoal e arte me fez refletir sobre como prestar atenção nas histórias dos mais velhos nos transformam em pessoas mais maduras, capazes de entender o contexto e as consequências de escolhas feitas no passado. Segundo o historiador Yuval Noah Harari, “quem não entende o passado está condenado a repetir seus erros”. Essa frase ecoa ainda mais forte quando nos permitimos ouvir as gerações anteriores.

A geração Z, com toda sua energia transformadora e olhar revolucionário sobre o mundo, precisa desenvolver a humildade para ouvir as gerações passadas. Como abordamos recentemente, a escuta é uma tecnologia humana indispensável. Não se trata de viver conforme o passado, mas de absorver lições para não cair nas mesmas armadilhas. A música “Como Nossos Pais”, imortalizada por Elis Regina, nos lembra que “o futuro repete o passado”. Conhecer a história é, portanto, um ato de proteção e sabedoria.

O sociólogo Zygmunt Bauman reforça que “a memória coletiva é a base sobre a qual construímos nossa identidade”. Sem ela, toda inovação corre o risco de ser vazia e descontextualizada. A geração Z tem o potencial para quebrar padrões e criar novas realidades, mas é fundamental que o faça com o conhecimento do que veio antes. Assim, o futuro não será apenas um “museu de grandes novidades”, mas um espaço de transformação consciente e informada.

Fica aqui uma provocação para ambos os lados: para os mais jovens, a importância de ouvir ativamente as histórias dos que vieram antes, entendendo o valor da sabedoria acumulada. E, para os mais velhos, o desafio de separar tempo para compartilhar suas vivências, construindo pontes de conhecimento que ultrapassam gerações. Afinal, maturidade não é sobre idade, mas sobre a disposição de aprender com a experiência.

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