Começo logo afirmando que escolher uma só já é um erro. E afirmo isso porque, no cenário atual, em que a informação circula rapidamente e o consumidor está cada vez mais exigente, a comunicação organizacional tornou-se um fator crucial para o sucesso das empresas.
Destacar-se no mercado e construir uma reputação sólida não é tarefa fácil, e, por isso, duas áreas essenciais do composto de comunicação organizacional merecem atenção: as Relações Públicas e a Comunicação de Marketing. Muitas vezes confundidas, ou até tratadas como intercambiáveis, essas áreas desempenham papéis distintos e complementares na construção de marcas fortes.
Entre as diversas frentes que compõem a comunicação organizacional, gostaria de destacar as Relações Públicas e a Comunicação de Marketing. Infelizmente, muitos ainda confundem essas áreas, ou, o que é ainda mais prejudicial, acreditam que uma pode substituir a outra. A verdade é que, embora diferentes, elas se complementam e têm papéis específicos no fortalecimento da imagem de uma empresa e na promoção de seus produtos ou serviços.
As Relações Públicas (RP) têm como foco o relacionamento entre a organização e seus diversos públicos, com o objetivo de construir e preservar uma opinião pública favorável. Esse trabalho vai além de campanhas pontuais ou vendas, atuando diretamente sobre a reputação da empresa de forma ampla e contínua. As RP começam pelo mapeamento dos públicos estratégicos – aqueles grupos que, de alguma forma, interagem com a empresa ou são fundamentais para a sua existência e atuação. A gestão de imagem e reputação envolve desde a comunicação interna com colaboradores até o relacionamento com a comunidade, imprensa, investidores e órgãos governamentais, por exemplo.
Um exemplo clássico de ação de RP é o relacionamento com a imprensa para a publicação de uma reportagem sobre as ações de sustentabilidade de uma empresa. Quando bem feito, esse tipo de ação gera credibilidade e fortalece a imagem da empresa como referência em responsabilidade social. Note que, nesse caso, a empresa não está promovendo diretamente um produto ou serviço, mas sim consolidando uma imagem positiva junto à opinião pública. Outro exemplo é o gerenciamento de crises de imagem. Imagine uma empresa do setor alimentício que enfrenta um recall de produtos. O papel das RP seria gerenciar essa situação com uma comunicação transparente e eficaz, minimizando os danos à reputação da marca e restaurando a confiança dos consumidores.
Agora, vamos imaginar um restaurante. O trabalho de RP poderia envolver a organização de eventos com influenciadores ou jornalistas, gerando reportagens e boas avaliações sobre o ambiente, o atendimento ou o engajamento do restaurante em ações sociais, por exemplo. Tudo isso contribui para fortalecer a reputação do restaurante sem que, necessariamente, esteja sendo promovido diretamente um prato ou uma oferta.
Por outro lado, a Comunicação de Marketing está diretamente ligada à promoção dos produtos ou serviços de uma empresa, com foco em gerar vendas. Baseado no clássico conceito dos 4 Ps de Philip Kotler (Produto, Preço, Praça e Promoção), o marketing abrange todo o sistema que guia o desenvolvimento e a venda de um produto. A comunicação de marketing, por sua vez, está contida na fase de promoção, sendo responsável por todas as ações voltadas a influenciar o consumidor na decisão de compra.
No exemplo do restaurante, a comunicação de marketing seria responsável por campanhas publicitárias como descontos para novos clientes, promoções em redes sociais, ou até a criação de vídeos publicitários que mostrem a qualidade dos pratos ou o atendimento diferenciado. Aqui, o objetivo claro é atrair clientes e aumentar as vendas em curto prazo.
Diferente das RP, a comunicação de marketing tem um foco claro no produto e no resultado imediato, ou seja, vender. Não se trata da construção de uma imagem institucional ou de uma reputação no longo prazo, mas de uma ação direta para impulsionar vendas.
Mas será que essas duas áreas estão em lados opostos na estratégia de posicionamento de uma empresa? É preciso escolher entre uma ou outra?
A resposta é: não. As RP e o Marketing, embora tenham focos diferentes, são complementares e, quando trabalhadas juntas, potencializam os resultados de qualquer empresa, independente do porte ou do setor.
Voltando ao exemplo do restaurante, enquanto o marketing promoveria um novo prato com campanhas pagas e promoções, as RP estariam engajadas em criar uma narrativa de sustentabilidade e responsabilidade social, colaborando para associar a marca a valores que transcendam a simples venda de refeições. Assim, o marketing aumenta as vendas imediatas e as RP constroem a imagem institucional de longo prazo.
Voltando ao conceito dos 4 Ps, é importante lembrar que o Marketing não se resume apenas à comunicação. Ele envolve o desenvolvimento de produtos adequados ao perfil do consumidor, a definição dos melhores canais de distribuição e a precificação adequada. A Comunicação de Marketing acompanha esse processo, utilizando ferramentas como publicidade e propaganda – além das novas tendências da comunicação digital – para alcançar o público-alvo e influenciá-lo na tomada de decisão.
Ao entender as diferenças e complementaridades entre as Relações Públicas e a Comunicação de Marketing, os empreendedores conseguem otimizar suas estratégias e fortalecer suas marcas de maneira mais eficaz. E isso não é privilégio apenas de grandes empresas com equipes dedicadas. Mesmo pequenos negócios, onde o próprio dono precisa se encarregar de tudo, podem aplicar essas estratégias com resultados satisfatórios.
Se o foco é no relacionamento com grupos estratégicos e na construção de uma reputação sólida ao longo do tempo, estamos falando de RP. Se a meta é promover produtos e serviços para alcançar resultados imediatos, estamos no campo do Marketing. Ambas as áreas são indispensáveis para qualquer empresa, e o equilíbrio entre elas, aliado a um bom planejamento estratégico, é o que garantirá uma comunicação organizacional completa e eficiente.
Profissional de Relações Públicas pós-graduada em Gestão Estratégica da Comunicação organizacional pela ECA-USP, é também jornalista, empresária, palestrante e consultora de empresas com mais de 20 anos de experiência em comunicação interna e relacionamento com a imprensa. Professora universitária por 16 anos nos cursos de Comunicação, Marketing, Administração e Recursos Humanos nas instituições UniFaat, Fecap, Uniso e PUCCampinas.