Once upon a time… este é o meu 75o. artigo para o JVN – 3 anos de experimentação, confiança e parceria! Gratidão a todos leitores e parceiros JVN por fazer parte deste incrível projeto!
Mundo digital, 2025 – estamos sempre a um click de acesso a todas informações e muitas inverdades – trago aqui um pouco de saudades do tempo da notícia raiz, que precisava ser buscada nas mídias existentes para quem não queria correr o risco da alienação!
Desde meus sete anos, quando adentrei os portais da biblioteca da escola e enfrentava frenéticas maratonas de Monteiro Lobato e Júlio Verne, meu letramento permitiu conhecer o mundo pelos olhos de escritores, poetas, jornalistas, fotógrafos, radialistas e comunicadores que construíram a história da comunicação brasileira.
Lembranças de fotojornalismo das revistas Cruzeiro e Manchete, mostrando ao menino curioso a viagem da Apolo à lua, a morte de Kennedy, os carnavais de Denner e Clóvis Bornay, o desastre aéreo de Orly, o golpe de Pinochet, o sequestro do embaixador americano, a conquista do Tri.
A Rádio Bandeirantes e seu bordão matinal “bora vambora, tá na hora vambora vambora”, a lembrar o povo que um dia de escola ou trabalho se repetia de novo – ou as hilárias paródias do “show de rádio” de Estevam Sangirardi, a coroar memoráveis transmissões futebolísticas de Silvio Luiz, Zé Silvério, Osmar Santos, Fiori Gigiotti, Claudio Carsughi, Pedro Luis ou Luciano do Valle…
Meus rituais de leitura diária incluíam a compra do Jornal da Tarde (que na verdade chegava às bancas no meio da manhã), e era consumido em partes conforme o dia – esportes, editorial/colunistas, cultura, política, notícias do mundo. Pessoalmente não me interessavam, como até hoje, as fofocas e crimes, que a vida já era bem diversa e difícil….
Aprendi a ter senso crítico comparando a mesma informação dada por diferentes canais de mídias – com o tempo percebia as diferenças editoriais entre as revistas VEJA e ISTO É, a FOLHA e ESTADÃO, o Jornal Nacional e o Jornal da Band das imperdíveis análises do saudoso Joelmir Betting. E quanto mais tarde era a transmissão, maior liberdade de expressão de comentaristas ou convidados – a verdade vinha só de madrugada, quando ninguém assistia…. da época, pelo menos restou o legado do Roda Viva, até hoje um hit da TV Cultura!

A poesia, fui experimentando ainda na escola, com Bilac, Castro Alves, Bandeira, Drummond, mas logo viciei em Vinícius, Quintana, Suassuna, Cora Coralina, Neruda e o censurado Thiago de Mello. Afora Fernando Pessoa lido em suas multipersonalidades… centenas foram os livros comprados em sebos, emprestados, permutados, trocados – conheci a américa latina de Cortazár, Isabel Allende, Borges, Garcia Marques, Vargas Llosa, Érico Veríssimo, Jorge Amado e sua Bahia de Tietas e Gabrielas; e senti na pele a Itália de Decameron ou o universo existencialista de Sartre e Camus, estrangeiros universais!
O cinema, mágico templo de luz e som, das matinês dominicais de desenho animado do Cine Metro (seguido de um acarajé na Praça da República), ou dos filmes japoneses em 3D (nos anos 70!) do Cine Jóia no Bairro da Liberdade da minha infância paulistana, que abriram caminho para eu frequentar na adolescência dezenas de cinemas de Sampa, memórias apagadas por estacionamentos ou igrejas pentecostais… (o novo sempre vem, diria Belchior!) – mas ainda curto o ritual – escolher o filme, comprar o ingresso, a pipoca, e curtir depois a resenha que nenhuma Netflix pode prover!
Aprendi com meu pai e minha mãe a ouvir e gostar de música de qualidade, respeitando e aplaudindo os rituais de silêncio e admiração acústica no Teatro Municipal, da Igreja de São Bento ou do Carmo, ou no Bar Brahma ou Bosque de Viena, este último um bar-bordel-restaurante da Boca do Lixo, onde aprendi a gostar da música latina com muitos exilados que ali frequentavam… ou do Kioto, primeiro Karaokê da Rua da Glória, sem playback e com banda ao vivo! Saudade também das gafieiras – Som de Cristal, Atlântico, Paulistano da Glória, Sandália de Prata, Barracão de Zinco, onde moldei meu amor pelo samba e pela boemia.
Literatura, poesia, música, cinema, teatro, rádio e TV – cultura e informação são direitos universais – compõe parte de quem somos, e fui abençoado pela oportunidade de ter acesso e construído por conta própria minha jornada de conhecimento, sem a ilusão sofista que sempre tentam nos impor. Podemos ser cada vez mais autênticos na proporção que nos permitimos autonomia no aprendizado, que inclui o consumo consciente de informação e cultura. Influencers e colunáveis podem até ser boas fontes, mas NUNCA representarão para mim alguma expressão de verdade absoluta. Conhecimento é a informação experimentada, e isso é para poucos. Bora aí zapear, com moderação!

Empreendedor social, consultor empresarial, educador e músico, pai da Mariana e cidadão de Atibaia. Possui mais de 40 anos de trajetória profissional transitada entre o meio corporativo e o terceiro setor. Atualmente é dirigente da ONG Mater Dei de Atibaia-SP e violonista do grupo Eclético Musical.


Gente, que delícia ler seus textos, meu amigo!! Um privilégio e uma alegria cada vez. Obrigada por esses três anos e que venham muitos e muitos outros!!!
E que venham mais três vezes três!
abraço!!
Bom dia, meu caro. Acordo hoje, com saudades, em decorrência de ter tocado ontem com o Sentido. Faz falta. Então, releio seu belo texto. Abraço. Continue firme.
Oi Paulo, vida que segue, como diz Belchior, o novo sempre vem…