Sou psicóloga e especialista em desenvolvimento humano há mais de vinte anos, e nesta semana uma notícia sobre o reality show Celebrity Traitors me fez refletir sobre algo que vai muito além do entretenimento: a urgência do cuidado emocional estruturado, inclusive nas empresas.

O programa, conhecido por exigir dos participantes estratégias de engano e resistência emocional, contratou psicólogos para oferecer suporte aos competidores — mas apenas depois que as crises começaram a aparecer. Essa demora em agir reflete o mesmo erro que muitas organizações ainda cometem: agir apenas depois do adoecimento, e não na prevenção.

A nova NR-1, que trata do diagnóstico dos riscos psicossociais, trouxe para o universo corporativo uma responsabilidade que antes parecia intangível: mapear as causas do sofrimento mental no trabalho e agir de forma preventiva. O diagnóstico é o ponto de partida, mas ele só se transforma em resultado quando há um profissional com competência técnica, ética e humana para traduzir dados em ações.

E esse profissional é o psicólogo organizacional.
É ele quem entende a dinâmica das relações, o impacto da cultura, os fatores que geram estresse, exaustão, medo, exclusão, assédio e perda de sentido. É ele quem transforma planilhas e indicadores em planos de ação vivos, que humanizam o ambiente e reduzem afastamentos, conflitos e custos invisíveis.

O caso do Celebrity Traitors mostra o que acontece quando o ambiente se torna um campo de competição sem suporte emocional: todos saem perdendo. Na televisão, o sofrimento vira espetáculo; nas empresas, vira rotatividade, afastamento e queda de desempenho.

A NR-1 convida as organizações a olhar para seus bastidores com responsabilidade. Ela estabelece que os riscos psicossociais — como sobrecarga, metas abusivas, isolamento, assédio e falta de reconhecimento — devem ser diagnosticados, documentados e integrados aos programas de saúde e segurança. Mas, mais do que cumprir uma norma, o desafio está em entender o comportamento humano como parte estratégica da gestão.

Quando um psicólogo conduz esse diagnóstico, ele não apenas identifica sintomas: ele escuta o clima, lê as entrelinhas da cultura e propõe ações realistas. É assim que o cuidado sai do discurso e se transforma em prática.

O reality show talvez tenha contratado psicólogos tarde demais. Que as empresas aprendam com isso e não esperem o “colapso emocional” do colaborador para agir.
Porque no jogo da vida corporativa, quem não investe em saúde mental joga contra o próprio resultado.

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