Especialistas alertam que transformação fiscal vai além da legislação e impacta estratégia, processos e competitividade
Às vésperas de entrar em vigor, a Reforma Tributária é considerada um dos maiores marcos para o ambiente de negócios brasileiro das últimas décadas. Mais do que uma alteração normativa, representa uma mudança estrutural no modo como as empresas lidam com suas obrigações fiscais, em um país que, segundo a PwC, lidera o ranking mundial de tempo gasto com tributos – em média, 2.600 horas por ano.
Tecnologia como eixo central
Com a criação de novos tributos como IBS, CBS e IS, além de mudanças em alíquotas e formas de apuração, as empresas precisarão revisar modelos de operação e adotar ferramentas que permitam simular cenários, ajustar margens e reestruturar estratégias de precificação. Para especialistas, depender apenas de planilhas e processos manuais passa a ser um risco elevado.
“O Fisco já atua com big data, inteligência artificial e cruzamento automatizado de informações, enquanto muitas empresas ainda enfrentam gargalos internos e dados desconectados. Essa diferença aumenta o risco de multas, autuações e perda de competitividade”, afirma Fernando Silva, vice-presidente e general manager LATAM da Vertex Inc.
Preparação antecipada
A adaptação envolve ajustes em sistemas internos, integração entre áreas e consistência de dados. Desde julho, o governo iniciou a fase de testes da nova nota fiscal eletrônica (NF-e), que inclui campos para os novos tributos, com prazo até 2026 para que as companhias se adequem. Empresas que não se atualizarem correm o risco de ter operações paralisadas, como na emissão incorreta de notas fiscais.
Área tributária como estratégia
Especialistas defendem que o momento deve ser visto como oportunidade para reposicionar a área tributária dentro das organizações. Em vez de apenas cumprir exigências, ela pode atuar como parceira estratégica, explorando oportunidades fiscais, identificando gargalos de margem e apoiando decisões de expansão.
Impactos transversais
Os efeitos da Reforma Tributária vão além do campo técnico e podem influenciar investimentos regionais, estruturação de filiais e até classificação de produtos. “Passaremos pela maior mudança nas regras do jogo em décadas, e a integração entre tecnologia, visão de longo prazo e inteligência de dados será essencial para manter a competitividade”, destaca Silva.

