Este é meu artigo de número 50!

50 vezes a pensar o tema, o título, a narrativa…

50 vezes a ter o frio na barriga das crises de criatividade…

50 vezes a gerar imagens mentais do texto e transformar em ilustrações…

50 vezes a correr com prazos de publicação…

50 vezes experimentar o prazer de compartilhar ideias e reflexões…

50 vezes me expor a críticas e elogios, ambos fatais no excesso…

50 vezes agradecer fazer parte de um time de colunistas tão especial…

50 vezes reconhecer o tamanho do projeto do Jornal Visão de Negócios…

50 vezes agradecer a Lina, nossa empreendedora e inspirada editora, pela oportunidade, pelo espaço e por estar sempre incansavelmente presente!

À Lina dedico esta edição 50!

Gratidão e Sucesso!

Leitores e leitoras! Mais uma reflexão desafiadora, desta vez em um universo que organizações e profissionais conhecem bem: a Meritocracia.

No cenário de start-ups, business mindset, soft and hard skills, avaliação 360, entrepreneurship, a meritocracia aparece como uma tia velha numa rave de acid rock, não se encaixa, não se visualiza.

Entendo a meritocracia como uma estrada de duas mãos, uma prática madura de boas relações laborais, que demanda posturas assertivas, transparentes e honestas de empregadores e colaboradores. É cruel quando as organizações criam o discurso de meritocracia que na prática “não cola” junto a seus times de trabalho – a quebra da confiança nos processos de reconhecimento e recompensa gera posturas de descontentamento e cinismo, um clima organizacional difícil de ser revertido.

Empresas que de fato desejam desenvolver seus recursos humanos devem estar prontas para administrar desempenhos e não somente avaliar desempenhos, ou seja, criar condições para que a relação com os colaboradores seja de fato uma plataforma comum de aprendizagem e desafios possíveis, compartilhados de forma aberta positiva. Partimos assim do desenho do perfil do cargo, atribuições, interrelações, competências mínimas e desejáveis, resultados e metas esperadas e as formas de interação e avaliação das entregas. Cabe igualmente a clareza das condições e contrapartidas de contratação, bem como das potenciais recompensas. Neste cenário, a meritocracia é possível.

A meritocracia a meu ver é composta de dois componentes – o reconhecimento e a recompensa. Um não existe sem o outro, ainda que se corra o risco de mercantilizarmos as relações laborais. Reconhecer sem oferecer contrapartidas não é motivador, recompensar sem que se tenha a clareza dos porquês tira o sentido de qualquer processo racional de mensurar resultados do trabalho. Quando não existe nem reconhecimento, nem recompensas, é hora de procurar emprego! Quando organizações conseguem reconhecer mas não tem condições de recompensar (situação muito comum em pequenas empresas), precisam ao menos ter a honestidade moral de reconhecer as limitações e dialogar francamente com a equipe.

Sempre observei com cautela o como a meritocracia se manifesta nas organizações – relações laborais “paternalizadas” podem gerar reconhecimento afetivo, o que às vezes infantiliza e reduz a avaliação a contextos de pertencimento e nem sempre identidade: ex. “você faz parte de nossa família”; para colaboradores com menor motivação ou qualificação uma relação paternalista confunde os papéis e gera muitas vezes situações de comando-controle onde a objetividade relacional se esvai, e as avaliações ficam subjetivas e imprecisas.

O que fica interessante na meritocracia é que as pessoas precisam ganhar maturidade para compreender aquilo que é próprio e aquilo que é externo – uma promoção feita por amizade ou por política interna vai na contramão da meritocracia; ou se apropriar do mérito alheio em benefício próprio é como roubar sua própria dignidade… os profissionais devem desenvolver senso crítico para perceber o seu papel na construção do mérito!

Quando tomamos decisões e escolhemos caminhos somos responsáveis pelos resultados de nossas jornadas. Nossas conquistas são nossas, e nossos fracassos também – tenhamos orgulho de ambas as oportunidades de aprendizagem. Não vou atribuir a ninguém a culpa de meus erros e decisões. Também não gosto que ninguém se aproprie dos meus esforços e conquistas, legados de minhas escolhas. No entanto se “subimos” artificialmente na vida profissional, devemos reconhecer que este TER é fruto de privilégios e não se constitui em SER ou SABER. Devemos sempre agradecer as oportunidades oferecidas e os desafios que proporcionam, honrando as pessoas que encontramos na subida, pois estarão de novo no nosso caminho durante a “descida”…

Quando um profissional não se vê reconhecido pela sua organização, podem estar acontecendo várias coisas: a) a organização de fato não trabalha a avaliação de desempenho de forma adequada; b) o profissional não entendeu o que a organização espera dele ou não teve coragem de perguntar…; c) o profissional está aquém das expectativas do empregador e no mais tradicional movimento de autoengano, se vitimizam: “ninguém reconhece meu trabalho….”

E a avaliação pela meritocracia implica entender o “conjunto da obra” – não se encerra na competência e execução técnica, mas também integra a capacidade de relacionamento interpessoal interno e externo, a prática espontânea de atitudes apreciadas como proatividade, espírito de grupo, engajamento, compromisso, respeito e flexibilidade, e não menos importante, aspectos fundamentais que compõe caráter e personalidade, como honestidade, ética, bom senso.

Resumindo: devemos cultivar relações de trabalho saudáveis, abertas, com comunicação assertiva, com objetividade e regras claras em relação a metas e propósitos. Nestas condições a meritocracia floresce, amadurecendo como é o processo de desenvolvimento pessoal-profissional de cada um. A prática da meritocracia potencializa nossas equipes.

E quando a regra do jogo é competição, onde a avaliação de mérito se dá pela espetacularização e endeusamento dos pequenos resultados (muito típico em grandes organizações), onde egóicos profissionais não se avexam de pisar na cabeça dos colegas (comportamentos muitas vezes bem vistos no mundo empresarial), lembro que na rave do acid rock as progressões são psicodelicamente atraentes, mas a ressaca do dia seguinte, inevitável.

Aí, só a Tia Velha é quem sabe fazer o chazinho de resgate da justiça e equidade.

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