Vivemos em um período em que a polarização se tornou predominante não apenas no campo político, mas também no ambiente corporativo. Cada vez mais, debates sobre temas ordinários e complexos são tratados como ideológicos, nos quais, o “não concordar” passou a ser visto como afronta. Esse fenômeno reflete um problema crescente da sociedade global: a dificuldade em aceitar e lidar com as diferenças de opinião.
Um exemplo recente dessa polarização foi a corrida ao Oscar do filme “Ainda Estou Aqui“, de Walter Salles. O longa, que contou a história de resistência e superação, gerou discussões intensas e polarizadas pelo Brasil, discussões estas muito mais focadas na posição política da atriz e do diretor, do que pelo reconhecimento artístico da obra. O filme, que deveria ser celebrada por sua importância cinematográfica num país como o nosso, acabou sendo usada como um campo de batalha político, evidenciando a crescente dificuldade de dialogar sobre temas importantes sem a interferência das opiniões divergentes.
Nos ambientes de trabalho, essa polarização se reflete de maneira ainda mais preocupante. Se antes as discussões e divergências de opiniões eram vistas como oportunidades de crescimento e inovação, hoje, muitas vezes, são interpretadas como ataques pessoais. O simples ato de discordar de um colega, chefe ou subordinado, mesmo com a intenção de construir algo novo, tem sido cada vez mais visto como assédio moral, ao invés de uma chance de repensar e melhorar processos. Isso cria um ambiente onde o debate saudável é veementemente desencorajado, e as diferenças se tornam motivo para afastamento ou punição, ao invés de serem vistas como um passo para a evolução organizacional.
Esse paradoxo passa a ser ainda mais complexo em tempos de crescente valorização da diversidade corporativa. Empresas falam sobre incluir pessoas de diferentes gêneros, etnias e orientações, o que é extremamente positivo. No entanto, surge uma contradição: muitas dessas mesmas empresas não estão abertas à diversidade de pensamentos e opiniões. Como falar de inclusão se não aceitamos opiniões divergentes? Estamos criando ambientes onde apenas uma linha de pensamento é válida, e qualquer discordância é vista como ameaça?
A verdadeira diversidade vai além da aparência, gênero ou identidade de uma pessoa. Ela também deve incluir o respeito pelas diferenças de pensamento. As empresas precisam refletir: estamos realmente promovendo um ambiente inclusivo se criamos barreiras para aqueles que pensam diferente? A resposta a essa pergunta é urgente.
É necessário resgatar a capacidade de dialogar. O crescimento organizacional não vem da homogeneização das ideias, mas da pluralidade de pensamentos que se confrontam de maneira respeitosa. O papel do RH e das lideranças é garantir que, apesar das diferenças ideológicas, o ambiente de trabalho permaneça aberto e focado na colaboração.
A verdadeira força de uma equipe está na capacidade de unir diferentes perspectivas. Quando as organizações promovem a diversidade de opiniões, criam um espaço fértil para aprendizado, crescimento e inovação. A polarização e a intolerância ao diálogo saudável não têm lugar em um ambiente corporativo que busca excelência.
Em um cenário de crescente divisão, é fundamental que as empresas invistam na aceitação das diferenças de pensamento, além de promoverem diversidade de gênero, raça e outras características. Só assim construiremos ambientes inclusivos, onde o debate saudável e o respeito pelas ideias divergentes sejam motores para a evolução.

Executivo de RH e Coach Executivo de diretores, VP’s e CEO’s de empresas nacionais e multinacionais, atendendo clientes em 13 países. Foi executivo de RH de uma das maiores empresas de bens de consumo do país, já desenvolveu mais de 38.000 profissionais ao longo dos seus 24 anos de carreira. Formado em Relações Públicas pela PUCCAMP, pós-graduado em Consultoria de Carreira pela FIA/USP e com 5 certificações internacionais em PNL e Coaching Integrado. Marcos é referência em Carreira e Gestão em veículos como: Valor Econômico, InfoMoney, G1, Yahoo Finance, Globo/EPTV, SBT, Você S/A, TV Bandeirantes, Nova Brasil FM, Carreira & Negócios entre outras, tendo mais de 120 matérias publicadas.