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A inflação é um fenômeno econômico que afeta o nível de consumo e o bem-estar de todos os brasileiros, bem como as taxas de investimento e lucratividade das empresas. Mas o que é inflação, quais são suas principais causas, por que é importante combatê-la e por que precisamos estar atentos nos próximos meses?
A inflação é o conceito empregado por economistas para designar o aumento generalizado nos preços de bens e serviços. Quando a inflação cresce ocorre concomitante aumento do custo e vida e a consequente corrosão no poder de compra da moeda.
Consumidores tomam suas decisões de consumo sob restrição de natureza orçamentária. Embora as preferências de consumo das famílias variem, esses gastam sua renda escassa consumindo grupos ou cestas de bens – dentre essas, alimentos e bebidas, vestuário, transporte, educação, produtos de higiene e limpeza, medicamentos, lazer, entre outras.
A inflação também é afetada pela formação dos preços dos bens e serviços de valores elevados, como moradia, compra de imóveis novos, aquisição de bens de consumo duráveis, tais como veículos, smartphones, eletrodomésticos ou serviços, como os de reforma e pintura, mensalidade do colégio ou da faculdade.
Quando os preços dos bens que compõe tais cestas aumentam, os consumidores ficam relativamente mais pobres. O aumento no nível médio de preços, ou seja, o aumento da inflação, tende a ser maligno quando o governo não é eficiente ou é negligente em seu combate. Nos últimos meses, o Banco Central tem mostrado bastante resiliência no combate a essa, apesar de pressões políticas.
Além de reduzir a capacidade do poder aquisitivo das famílias, a inflação diminui as taxas de investimentos produtivos, pois vários empreenderes tenderão a manter seus recursos aplicados em ativos financeiros, ao invés de correr os riscos de alocá-los na produção ou oferta de serviços. Entenda que a queda dos investimentos na produção e oferta de serviços, provocada pela inflação, conduz a aumentos nas taxas de desemprego. O aumento ou manutenção na taxa de investimento produtivo é importante, pois gera emprego no presente na produção de máquinas, equipamentos, assim como em obras de infraestrutura, mas também aumenta a capacidade de produção futura da economia levando a redução de custos e ganhos de bem-estar.
A inflação cria um clima econômico desfavorável. Enquanto os consumidores se perguntam “qual será o preço dos bens no próximo mês?”, os empreendedores avaliam “quais serão custos e despesas da minha empresa e qual devem ser os preços de venda? ou “vale a pena investir na produção e oferta de bens e ou serviços, ou devo deixar minhas reservas aplicadas em ativos financeiros, incluindo títulos emitidos pelo governo?” Considerando isso, a inflação leva a aumento da especulação financeira.
Finalmente, a inflação tende contribuir para a elevação da taxa de juros (quanto maior essa, maior a taxa exigida pelos investidores) e provoca a desvalorização da moeda (o R$ perde poder de compra em relação ao US$ ou $€), conduzindo ao aumento dos preços dos bens importados.
A inflação é provocada por quatro fenômenos. Pode ocorrer quando há excesso de demanda por certos bens e ou serviços em relação a oferta ou devido ao aumento nos custos de produção, sobretudo combustíveis, energia elétrica e insumos básicos empregados pelas empresas em suas atividades. Também pode ocorrer quando o governo amplia a emissão de moeda. Finalmente, uma das causas da inflação é a chamada inflação inercial, que ocorre quando os próprios reajustes no valor dos salários e correção nos preços dos bens carrega o peso da inflação passada para a atual.
A inflação, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), variou 0,78% em fevereiro. O resultado indicou aceleração em relação a janeiro desse ano, cuja alta foi de 0,31%. Segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no dia 27/02, o IPCA-15 registrava uma elevação acumulada de 1,09% nesse ano e de 4,49% em 12 meses (próximo do teto da meta de inflação desse ano, 4,5%).
O grande vilão foi o setor de educação cuja inflação foi de 5,07% (destacando que esse representa 5,9% do IPCA). A inflação dos grupos Comunicação e Saúde e cuidados pessoais foram de 1,67% e 0,76%, respectivamente. Tais setores representam 4,74% e 13,28% do IPCA. Já o setor de Alimentação e bebidas, que representa 21,3% do índice, teve alta de 0,97%, mas a tendência é que o preço desse grupo tenda a aumentar nos próximos meses, devido a eventos climáticos, nível de cambio e das safras.
Esse resultado acende sinais de alerta e, segundo a Agência Brasil, o mercado reviu ligeiramente para cima a projeção de inflação medida pelo IPCA, para 2024 e 2025.
Marcello Muniz é economista e mestre em Engenharia pela USP. Com 20 anos de experiência profissional, é perito judicial, atua como Analista de Negócios junto à Data Science Business Management (DBSM) e é professor de Economia junto à Unifaccamp (de Campo Limpo Paulista) e Faculdade Impacta de Tecnologia (FIT).
Atuou como pesquisador da Divisão de Economia e Engenharia de Sistemas do IPT (DEES), consultor do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e Analista de Projetos da Fiesp.
Apaixonado por temas relacionados a políticas públicas e economia, participou na qualidade de coautor de 13 livros, entre esses: Política Industrial (Jornal Valor Econômico), Outward FDI from Brazil and its policy context (Vale Columbia Center on Sustainable International Investment), Gestão da Inovação no Setor de Telecomunicações (Fapesp) e Ressurgimento da indústria naval no Brasil: 2000-2013 (projeto-Ipea-BID).