A inteligência artificial (IA) está revolucionando o mundo de maneiras surpreendentes, mas, junto com esse avanço acelerado, surgem também novas preocupações. Um estudo recente do renomado Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) identificou mais de 700 riscos potenciais associados à IA, revelando os grandes desafios que enfrentamos ao navegar por esse novo cenário tecnológico.
Esses riscos foram organizados em duas categorias principais, chamadas de taxonomias:
1. Taxonomia causal
Essa categoria busca entender como, quando e por que o risco ocorre. O estudo faz essa análise em três níveis:
- Entidade: Quem é responsável pelo risco — um ser humano ou um sistema de IA?
- Intenção: O risco é causado intencionalmente ou é resultado de falhas não intencionais?
- Tempo: Ocorre antes ou depois da implantação do sistema de IA?
2. Taxonomia de domínio
Essa segunda classificação abrange as áreas onde os riscos mais impactam a sociedade:
a. Discriminação e toxicidade
Sistemas de IA podem:
- Discriminar grupos específicos, como mulheres e minorias raciais, em processos de recrutamento, crédito ou justiça criminal;
- Gerar conteúdo prejudicial, como discursos de ódio, violência e pornografia, ou espalhar informações falsas;
- Ampliar desigualdades existentes, como o acesso desigual a oportunidades educacionais e serviços.
b. Privacidade e segurança
IA pode:
- Coletar e utilizar dados pessoais sem respeitar as legislações de proteção de dados;
- Ficar vulnerável a ataques cibernéticos que resultam no vazamento de informações sensíveis;
- Utilizar dados para inferir detalhes privados sobre indivíduos sem seu consentimento.
c. Desinformação
IA pode:
- Criar notícias falsas e conteúdos enganosos que afetam decisões e a percepção pública;
- Facilitar a criação de “bolhas de filtragem”, expondo usuários apenas a informações que confirmam seus vieses;
- Contribuir para a polarização social, amplificando diferenças e dificultando o diálogo.
d. Atores maliciosos
Sistemas de IA podem ser usados por:
- Criminosos para ataques cibernéticos mais sofisticados;
- Grupos maliciosos para manipular a opinião pública com desinformação e propaganda;
- Desenvolvedores de armas autônomas, aumentando o risco de conflitos e perda de controle.
e. Interação humano-computador
IA pode levar a:
- Excesso de confiança dos usuários, fazendo com que eles deleguem decisões críticas à IA, com resultados imprevisíveis;
- Manipulação do comportamento humano, influenciando compras, decisões políticas e emoções;
- Dependência excessiva de IA para tarefas simples, resultando na perda de habilidades básicas.
f. Impactos socioeconômicos e ambientais
IA pode:
- Aumentar a disparidade de poder, permitindo que algumas empresas dominem o mercado, afetando o acesso a recursos e oportunidades;
- Aprofundar a desigualdade social e causar a deterioração da qualidade dos empregos;
- Desvalorizar o esforço humano e contribuir para danos ambientais, como o consumo excessivo de energia e a exploração de recursos naturais.
g. Segurança dos sistemas de IA
Sistemas de IA podem:
- Seguir objetivos próprios, em desacordo com os valores humanos;
- Cometer erros graves que afetam sistemas críticos, como saúde ou infraestrutura;
- Ser tão complexos que dificultam a compreensão e correção de falhas;
- Ser vulneráveis a ataques, comprometendo a segurança dos dados e o funcionamento de sistemas essenciais.
Além de mapear esses riscos, o estudo do MIT oferece recomendações práticas para que empresas e organizações possam se proteger e enfrentar esses desafios. As empresas podem utilizar o estudo para realizar avaliações internas de risco, identificar novos riscos ainda não documentados, avaliar sua exposição e desenvolver estratégias eficazes de mitigação. Além disso, o estudo sugere que o desenvolvimento de pesquisas e treinamentos será essencial para garantir uma integração mais segura e ética da IA nos negócios e na sociedade.
Em conclusão, enquanto a inteligência artificial abre novas oportunidades e transforma diversos setores, é fundamental adotar uma abordagem proativa na identificação e gestão de seus riscos. A conscientização e a preparação são essenciais para garantir que o progresso tecnológico ocorra de maneira segura, inclusiva e sustentável, permitindo que os benefícios da IA sejam colhidos sem comprometer os valores humanos, a segurança e o bem-estar da sociedade.
Advogado. Pós-graduado em Direito Empresarial pela FGV São Paulo. Alumni do Data Privacy. Associado ao International Association of Privacy Professionals (IAPP). Membro da Comissão do Novo Advogado do Instituto dos Advogados de São Paulo (IASP).