E o doutor não saiu pra medicar, pois sabia que não tinha mais doença pra curar
No dia em que a Terra parou… No dia em que a Terra parou (Raul Seixas)
Quem tem mais de 40 anos se lembra do famigerado BUG DO MILÊNIO, uma falha nos sistemas desenhados nos anos 80, quando algum desavisado programador esqueceu de “lembrar” os cronômetros para zerarem após 1999 – cogitava-se o risco de absoluto apagão nos sistemas digitais globais, o que gerou uma maratona de analistas e programadores limpando e revisando códigos escritos em PASCAL (a linguagem, não o filósofo), para evitar a tecnopandemia. Apesar do pânico, e das muitas teorias da conspiração sobre o episódio, o bug foi apagado dos sistemas e da história! Mas o ano 2000 ficará sempre marcado pelo início da internet de banda larga, este sim um marco histórico de nossa civilização!
E a lenda do bug do milênio não nos abandonou… tivemos nesta semana um apagão global real, com efeitos em todos continentes, e impacto em dezenas de atividades: aeroportos fechados, redes de comunicação suspensas, sistemas bancários fora do ar, o apagão afetou de bolsas de valores, sistemas de defesa, governos e hospitais. Identificadas as falhas, vejo CEOs assumindo responsabilidades, e um mundialmente conhecido sistema operacional com a imagem arranhada – “estamos trabalhando forte para evitar novos transtornos no futuro” – diga isso para o paciente da cirurgia interrompida, a quem não conseguiu pagar a hipoteca ou não chegou a tempo do próprio casamento, porque o sistema estava… apagado!
Lembram do clássico “Guerra dos Mundos” de Spielberg (2005)? Um pulso eletromagnético “apaga” todos sistemas elétricos-eletrônicos mundiais, iniciando uma invasão alienígena e a jornada do incansável pai para salvar sua família (com atuações fantásticas de Tom Cruise e Dakota Fanning). Neste clássico de ficção, versão do livro de H.G.Wells, são explorados os medos da humanidade sobre os grandes movimentos que até podemos prever, mas com que não conseguimos lidar! Invasões, guerras, pandemias, terrorismo, simbolizados nos tecnologicamente superiores marcianos de três pernas dizimando a raça humana – puro terror! No pós-apagão desta semana não tivemos marcianos, mas a certeza que fenômenos afetando sistemas digitais pelo mundo não são completamente descartáveis ou impossíveis. O medo real apaga a nossa ingenuidade.
E o que dizer do apagão da candidatura Biden, iniciado semana anterior com o visível apagamento mental do atual presidente americano durante um debate político, e impulsionado pelo atentado ao seu opositor, quando uma bala nada perdida catapultou Trump ao posto de candidato ungido pelo destino! Atentado, quando não mata, elege! O louco da invasão do Capitólio, da propina para prostituta, do desvio de documentos confidenciais, condenado por sonegação fiscal, dos conchavos para fraudar as já confusas eleições americanas, tem grandes chances de ser reeleito. O atirador? Apagado.
Apagão também na memória do delegado Ramagem, no caso de uso da ABIN para espionar e gerar falsos relatórios sobre quem estava cumprindo papel de fiscalização no caso das rachadinhas… culpar a equipe é uma velha estratégia, se alguém acreditar que o piloto consiga culpar a aeromoça pela queda do avião! Será o desfecho deste caso um definitivo apagão na impunidade sobre o clã do mítico esfaqueado? Ou caberá ainda mais alguma desinformação deletável neste cardápio tragicômico-político?
Por falar em bizarrices e ditadores, Nicolas Maduro, que começa a apodrecer no poder, está mais enlatado do que nunca pelo cerco das instituições internacionais sobre a falta de transparência nas eleições venezuelanas… Maduro responde com a ameaça típica dos ditadores que sabem que vão perder a eleição: “sem mim cairemos no caos, haverá um banho de sangue”!
A estratégia de falar muito, repetir mentiras e irritar a parcela da humanidade que serão “seus opositores” (quem se lembra do “Cállate” do rei de Espanha para o inconveniente Hugo Chávez?) é comportamento de quem não sustenta um debate sério, e costuma pregar seus dogmas em prol do apagão das democracias: “Se não for como eu quero, eu invado, prendo e arrebento, rasgo a constituição, entro no Capitólio ou na Praça dos Três Poderes!”
Que los hermanos de Venezuela possam um dia assistir ao apagão do chavismo! Em paz!
Empreendedor social, consultor empresarial, educador e músico, pai da Mariana e cidadão de Atibaia. Possui mais de 40 anos de trajetória profissional transitada entre o meio corporativo e o terceiro setor. Atualmente é dirigente da ONG Mater Dei de Atibaia-SP e violonista do grupo Sentido do Samba.
É sempre muito bom ler seus textos…
Nos dá uma aula de cidadania e visão de mundo e usa sua sabedoria nata ou adquirida pra esclarecimento de muitos.