Leitor(a), saudações! Vamos discutir os principais fenômenos econômicos que tenderão a afetar os nossos negócios nos próximos meses?
Essa discussão é importante. Assuntos aparentemente distantes do dia a dia dos das empresas, seus consumidores, fornecedores, investidores e governos, além da agenda política, tendem a afetar as decisões.
Entenda que há ao menos quatro grandes agendas interrelacionadas: (1) controle da inflação e nível das taxas de juros; (2) volume de gastos e endividamento do setor público; (3) nível de taxas de desemprego e crescimento; (4) instabilidade política no contexto das eleições.
Importante destacar que há uma estreita relação entre os níveis de aumento de preços (medidos pelos índices de variação da taxa de inflação oficial, IPCA ou Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) e seu controle, variação nos níveis de gastos do setor público e no nível de desemprego e renda das famílias.
Destaco que instabilidades e disputas relacionadas a intensa polarização política que ocorrem no Brasil, principalmente na transição do atual governo, geram um ambiente que dificulta um consenso quanto a adoção de políticas econômicas que, efetivamente, visem garantir a preservação de um ambiente que promova as verdadeiras funções das políticas macroeconômicas: crescimento do produto, emprego e renda e redução da inflação.
Considerando isso, vamos discutir aos quatro pontos que enumerei.
1. Controle da inflação e nível das taxas de juros
Enquanto redigia esse artigo, recebi a notícia que acaba de ser reduzida a taxa Selic. Quem define essa, segundo critérios técnicos, é o Comitê de Política Monetária (Copom). A partir de hoje essa é de 11,25% ao ano (antes era de 11,75% a.a.). Isso sinaliza que, ao menos por parte das autoridades monetárias, há uma perspectiva de redução da inflação futura medida pelo IPCA.
2. Endividamento do setor público
O volume de endividamento do setor público no Brasil que era de cerca de 55% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2015 aumentou, passando para 89% durante a pandemia. Houve queda nesse, mas nesse ano ultrapassa 80% do PIB. Isso é preocupante porque reduz a capacidade do Estado para captar recursos para o financiamento de suas atribuições básicas (prover serviços públicos nas áreas de segurança e justiça, educação e saúde) e leva ao aumento da Selic, precarizando o atendimento do cidadão.
Nesse mês, um estudo do Tesouro Nacional comparou os gastos públicos do judiciário em 53 países. Esse constatou que Justiça do Brasil gasta 1,6% do PIB e é a mais cara do mundo. Isso é apenas um exemplo do peso do setor público. Creio que não devemos trabalhar para o Estado; esse que deveria trabalhar pana nós. É o fundamento da democracia representativa.
3. Dinâmica das taxas de desemprego
Segundo dados divulgados pelo governo nesse mês, há uma tendência de recuperação do mercado de trabalho após a pandemia. Em 2012, a taxa média de desemprego foi de 7,4%., agora, 2104 essa foi de 7,0%. Creio que é uma boa notícia, mas esse crescimento está aquém da capacidade que o Brasil possui para gerar empregos e bem-estar econômico por meio de bases sólidas.
4. Instabilidade política e seus riscos.
Não devemos esquecer que esse é ano de eleições e que há uma enorme instabilidade política. Em todo o ano de eleições ocorre o uso dos recursos públicos para fundamentar interesses político-partidários. Não estou falando de práticas de corrupção; estou dizendo que há uma tendência de aumento de gastos públicos nos três níveis da administração pública.
Sou um eterno otimista, mas acompanho as tendências de mercado, sobretudo aquelas que afetam as políticas econômicas que afetam os níveis de crescimento do produto emprego, renda e inflação.
Procure acompanhar a discussão sobre esses temas também.
Marcello Muniz é economista e mestre em Engenharia pela USP. Com 20 anos de experiência profissional, é perito judicial, atua como Analista de Negócios junto à Data Science Business Management (DBSM) e é professor de Economia junto à Unifaccamp (de Campo Limpo Paulista) e Faculdade Impacta de Tecnologia (FIT).
Atuou como pesquisador da Divisão de Economia e Engenharia de Sistemas do IPT (DEES), consultor do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e Analista de Projetos da Fiesp.
Apaixonado por temas relacionados a políticas públicas e economia, participou na qualidade de coautor de 13 livros, entre esses: Política Industrial (Jornal Valor Econômico), Outward FDI from Brazil and its policy context (Vale Columbia Center on Sustainable International Investment), Gestão da Inovação no Setor de Telecomunicações (Fapesp) e Ressurgimento da indústria naval no Brasil: 2000-2013 (projeto-Ipea-BID).
Professor Marcello, parabéns pelo conteúdo.
Realmente o cenário requer muito cuidado e responsabilidade por parte do governo, precisamos de gestão responsável e técnica.
Parabéns, professor Marcello; especialmente importante termos análises como estas, que norteiem “as decisões nossas de cada dia”.