*Por: Elaine Lina

No Papo de Sábado de hoje conversamos com Daniel Uehara, Gerente de Produto Oracle Cloud HCM – responsável pela transformação digital de RH e a adoção de soluções em nuvem. É também professor e palestrante na DIO – startup educacional, onde ministra master classes sobre desenvolvimento de carreira e pensamento criativo

JVN: Daniel, queremos começar conhecendo um pouco sobre sua história. Nos conte onde nasceu e como foi seu percurso até se estabelecer em Bragança Paulista.

Daniel Uehara: Eu nasci em Fernandópolis-SP, mas cresci em Santos-SP, onde passei grande parte da minha vida. Em 2017 me mudei para São Paulo, após o fim do primeiro casamento. Em 2019 me casei novamente e somente em 2021, buscando mais qualidade de vida e tranquilidade, eu e minha esposa saímos de São Paulo e viemos para Bragança Paulista – cidade que eu já conhecia por conta de trabalhos voluntários em parceria com o IFSP Bragança.

JVN: Fale um pouco mais sobre sua família, suas origens. Você é o mais velho de três irmãos, correto?

Encontro de família em 2018 (Foto: arquivo pessoal)

Daniel Uehara: Isso mesmo, sou o filho mais velho. Meu irmão do meio, o Alexandre, é praticamente um ano mais novo do que eu, e a caçula é a Ana Paula, que tem uma diferença de dez anos de mim. Meus avós – já todos falecidos – imigraram para o Brasil no pós-guerra e moravam em Fernandópolis, onde meus pais então se conheceram e onde eu nasci.

Meus pais moram em Santos até hoje. Eles sempre me deram liberdade para escolher o rumo da minha carreira. Também sempre me incentivaram a praticar esportes e essa cultura do esporte tem grande influência na minha formação como pessoa e como profissional. Minha família sempre foi um porto seguro de apoio às minhas decisões.

JVN: Hoje você é casado com a Cristiane e tem quatro filhos. Pode nos falar um pouco sobre essa grande família que você construiu?

Daniel Uehara: Pois é. Eu e a Cris nos conhecemos em 2016, durante um curso online de Alta Performance Humana. O curso tinha interação via comunidade online e em julho de 2017 eles organizaram um evento presencial. Foi nesse evento que aconteceu o nosso primeiro contato presencial, mas só começamos a nos relacionar um tempo depois – em novembro daquele ano.

Daniel e Cristiane, no evento em que estiveram juntos presencialmente pela primeira vez, em jul/2017 (foto: arquivo pessoal)

Eu já trabalhava na Oracle e aqui no Brasil tínhamos uma nova diretora de impacto social, a Vanessa Scaburri – que mais tarde se tornaria uma grande amiga. Junto com ela e um grupo de colegas criamos uma experiência de aprendizagem em que, em dois dias, alunos de Ensino Médio aprenderiam como projetar e colocar um chatbot no ar.

Naquela época eu já tinha estudado design thinking e foi uma das primeiras grandes oportunidades de colocar em prática. O programa, chamado Chatbot For Good, percorreu cinco países da América Latina – e foi no evento de Porto Alegre que, no meio do trajeto, eu me conectei de maneira mais profunda com a Cris. O evento aconteceria na semana seguinte ao feriado de finados. Eu aluguei um carro e saí de São Paulo, com uma parada prevista em Curitiba – onde colegas de um curso organizaram um Meetup. Foi ali que eu me aproximei muito da Cris.

De Curitiba eu parti para o evento em Porto Alegre e na volta parei de novo em Curitiba para reencontrar a Cris e lá começou oficialmente o nosso relacionamento. Cerca de dez meses depois ela estava em sampa morando comigo. Depois nos casamos, tivemos um filho, e esse é um parêntese na minha jornada do Vale do Silício (que contarei mais adiante).

Hoje sou o pai orgulhoso da Juliana (27 anos), do Pedro (17), do Theo (10) – os três filhos do meu primeiro casamento -, e do meu caçulinha, o Miguel, hoje com três anos e fruto do meu casamento com a Cris. Se eu pudesse resumir em uma frase tudo o que minha esposa e meus filhos representam para mim, acho que seria “Amor na ação”.

JVN: E agora falando da sua trajetória profissional, como foi sua formação? Como você se preparou para se tornar o profissional que é hoje?

Daniel Uehara: Desde a adolescência eu comecei a ter contato com a tecnologia. Fiz cursos de programação e de uso de computadores – o que na época era um desafio, mas meus pais me proporcionaram essa oportunidade. Esse contato com os computadores me ajudou a definir a carreira de tecnologia como uma opção que corria em paralelo com a possibilidade de me profissionalizar no futebol. 

Joguei futebol de salão – cheguei a representar as categorias de base da seleção Santista e a treinar nas categorias de base da Portuguesa Santista, mas decidi me dedicar aos estudos.

Eu ingressei na FATEC, em Santos, para o curso que hoje é conhecido como ADS e, ao mesmo tempo, fui aprovado em Ciência da Computação na Universidade Católica de Santos. Com o apoio dos meus pais, decidi cursar os dois – tendo me formado primeiro na FATEC e depois na Unisantos.

Não fiz pós-graduação, mas sempre busquei cursos que pudessem me ajudar a desenvolver habilidades que fossem transversais, que pudessem ser usadas independente da área de atuação. Dois cursos trouxeram grande transformação à minha vida: um deles foi o de Alta Performance Humana, na extinta High Stakes Academy (onde conheci a Cris) e o outro foi o de Criatividade, na também extinta Keep Learning School.

Também fiz um curso de marketing digital, focado em lançamentos de infoprodutos, chamado Fórmula de Lançamento, e outro de estudos futuros, chamado Friends of Tomorrow, na Aerolito. Sempre fui autodidata e nesses estudos tive contato com Dave Evans e Bill Burnet – duas pessoas que têm uma grande influência na minha forma de pensar atualmente, por meio do método ‘Design Your Life’. Esse método usa design thinking como plataforma de desenvolvimento de vida.

JVN: Sabemos que você teve uma trajetória singular no mercado de trabalho, com poucas participações em processos seletivos. Poderíamos nos contar como foi sua experiência e como ela influenciou sua carreira desde o início?

Daniel Uehara: É verdade. Eu fiz apenas duas entrevistas para trabalho na minha carreira. A primeira foi para um estágio na própria FATEC, onde fui aprovado para trabalhar como monitor no laboratório de computação da faculdade. Depois, já formado lá, eu participei do processo seletivo de estágio em uma empresa americana, chamada EDS – que já não existe. Ela acabou passando por processos de aquisição e hoje está incorporada a uma empresa chamada DXC Technology.

Quando eu estava na faculdade, o meu sonho era trabalhar na IBM. Acabei não conseguindo entrar no programa de estágio, mas fui chamado pela EDS, que era uma concorrente global da IBM.

A EDS nasceu prestando serviços e sendo o braço de tecnologia da General Motors. Quando ingressei na empresa – atuei por vários anos na GM -, tive a oportunidade de desenvolver projetos como o primeiro eCommerce da indústria automobilística do Brasil, que aconteceu em conjunto com o lançamento do carro Celta. Ainda na EDS tive a oportunidade de participar de um projeto que hoje é conhecido aqui no Brasil como ‘Chevrolet My Link’. 

Também lá, fui convidado a participar de um programa de desenvolvimento chamado ‘EDS Top Gun’, no qual alguns dos melhores talentos globais eram convidados para passar um período de três meses na California para desenvolver um trabalho de pesquisa e desenvolvimento com parceiros e fornecedores de tecnologia. Foi nessa época que tive uma proximidade maior com a Oracle, que era uma das parceiras desse programa.

Depois desse programa, tive a oportunidade de assumir papéis mais estratégicos de desenvolvimento de equipes especializadas em domínios tecnológicos específicos para a região da América Latina. Em 2008 quando a EDS estava em processo de aquisição pela HP, eu acabei aceitando uma oportunidade para a tão sonhada IBM.

JVN: Vamos falar então sobre sua passagem pela IBM e a chegada na Oracle. Como surgiram esses convites e quais foram os principais desafios e aprendizados nessa transição?

Daniel Uehara: Em 2008, a EDS estava passando por um processo de aquisição e, apesar da minha permanência estar garantida, era um cenário de muitas incertezas. Na ocasião, um amigo que tinha trabalhado comigo na EDS e que estava na IBM me ligou, querendo saber como eu estava nessa transição.

Ele disse que tinha uma porta de entrada para mim na IBM, com possibilidade de depois migrar para uma outra posição. Como era a tão sonhada IBM, eu nem questionei muito sobre detalhes de cargo inicial e disse imediatamente que topava. Conversei então com os responsáveis pelo projeto e com a pessoa que seria o meu gerente na IBM – mais para alinhamento e formalidade. Uma vez oficialmente aprovado, eu mergulhei de cabeça em um dos sonhos da minha vida. A minha adaptação até que foi tranquila – as tarefas não eram tão complexas e eu conheci pessoas excelentes que me acolheram.

Mas minha porta de entrada era desafiadora – estávamos com um contrato de preço fechado com duração de cinco anos já em seu segundo ano e que estava no vermelho. Havia falta de confiança do time, além de desconfiança do cliente sobre a capacidade e qualidade de entrega do time. O desafio era reconquistar a confiança do time, do cliente e da liderança, para reverter a situação. Formamos um grande time que, aos poucos, foi se entrosando, passando mais confiança para o cliente e, depois de um longo ano, conseguimos reverter um pouco a situação. 

Já em 2010, no começo do ano, eu estava saindo de uma reunião de projeto em um cliente quando, ainda nos corredores da empresa, recebi uma ligação de um amigo da Oracle. Ele havia trabalhado comigo enquanto eu estava na EDS, por conta da parceira entre Oracle e EDS. Nós havíamos feito trabalhos em conjunto e, como agora eu não estava mais em um parceiro, mas sim em um concorrente, ele me convidou para trabalhar no time dele.

Apesar do sonho de estar na IBM, a Oracle representava um novo desafio em uma empresa que tinha uma visão futura muito clara e valores muitos alinhados aos meus: encarar a realidade, agir como dono e viver por excelência. Por conhecer a visão de longo prazo e por ser um desafio diferente do que a vida em uma consultoria global, com EDS e Oracle, eu topei na hora.

JVN: E como foi sua adaptação na Oracle? Deve ter encontrado lá também novos desafios, não?

Daniel Uehara: A adaptação também foi tranquila. Fui muito bem acolhido por pessoas também incríveis. O único desafio foi no começo adaptar as viagens frequentes e a necessidade de visitar e me comunicar em países da América Latina de forma presencial. Ao mesmo tempo, foi também uma grande oportunidade de desenvolver a minha comunicação em espanhol.

Agora, voltando no tempo e nas minhas memórias, vejo que as decisões naquele momento de mudar foram mais pautadas em sentimento e intuição do que algo racional. E eu vejo isso de forma positiva, pois, mesmo não sendo tão consciente, eu estava seguindo a minha intuição. Hoje vejo o quanto a mentalidade empreendedora de encarar novos desafios, a sede de aprender e minha capacidade de adaptação foram fundamentais nessas transições.

JVN: O que você considera mais marcante em sua atuação hoje como gerente de Produto Oracle Cloud HCM, e qual o impacto desse trabalho – tanto na Oracle quanto na comunidade?

Daniel Uehara: Existem dois elementos que considero marcantes. O primeiro é poder apoiar o RH das empresas a saírem de um papel operacional e serem mais relevantes e estratégicos para seus core business. Existem muitos eventos ocorrendo nas empresas e poder ajudar as pessoas a compreenderem e usarem ferramental que posam apoiá-las na compreensão deles, além de preparar as pessoas, é algo que me traz muita satisfação. Eventos como Transformação Digital, Inteligência Artificial, aliados com múltiplas gerações no ambiente de trabalho o advento do “anywhere office”, da globalização – ao mesmo tempo que abrem imensas oportunidades, geram complexidade no trato com as pessoas. E poder apoiar as empresas a compreenderem esse sistema complexo, trazer soluções para melhorar a experiência e a jornada dessas pessoas dentro das empresas, é sensacional.

O outro elemento marcante é poder ver o evento ESG – mais especificamente no tocante à responsabilidade social e às questões relativas à diversidade e inclusão. Na Oracle realmente abraçamos essa causa, e ver as empresas assumindo essa pauta junto conosco é muito gratificante. Especialmente por termos o incentivo da liderança para desenvolver e promover projetos que de fato tirem essas pautas do papel.

No meu caso, eu tenho ainda a oportunidade de combinar a paixão pela educação com a participação e até mesmo criação de projetos que, de alguma forma, reduzem a distância entre o mercado de trabalho e os jovens talentos.

JVN: Como você vê o papel do intraempreendedorismo dentro de uma empresa de tecnologia como a Oracle? E qual é a importância disso para o desenvolvimento de ideias e soluções inovadoras?

Daniel Uehara: Para uma empresa de tecnologia, onde tudo é muito dinâmico e a inovação faz parte do core business, a mentalidade empreendedora e a cultura intraempreendedora são essenciais para sua sobrevivência. Eu acredito que o alinhamento dos valores da Oracle (‘encarar a realidade, agir como dono e viver por excelência’) sejam a essência do empreendedorismo. Quando eu decidi vir para a cá, basicamente a visão de longo prazo que encontrei era deixar de ser uma empresa de vendas de licenças de ‘software on premisse’ e tornar-se uma empresa de serviços em nuvem. Hoje, como fruto dessa nova mentalidade, não só criamos um imenso portifólio de serviços em nuvem, como estes se tornaram líderes de mercado.

JVN: Sabemos que sua trajetória empreendedora também inclui a criação da Academia da Criatividade. Conte-nos sobre sua motivação ao criar esse projeto e como parcerias como a da 3M contribuíram para seu sucesso.

O começo da Academia da Criatividade, em 2017. (foto: arquivo pessoal)

A Academia da Criatividade nasceu de um certo egoísmo (risos), mas também tem aí um pouco de propósito em criar espaços de colaboração e troca de experiências, nos quais as pessoas possam ampliar o potencial e a performance humana. A famosa ‘nuvem humana’ de que sempre falo.

Ao fazer o curso ‘Reaprendizagem Criativa, do Murilo Gun, eu comecei a sentir a dor de não conseguir falar ou praticar muito o conteúdo do curso dentro dos contextos em que eu estava. Ao falar com outros alunos, notei que eles tinham o mesmo desafio. Logo pensei: “se há mais pessoas com o mesmo problema, há também aí uma oportunidade de criar uma solução”.

Então, junto do meu irmão Alexandre, que também tinha feito o curso – e mais um amigo, o Leo Veri, desenhamos um protótipo e rodamos um MVP da Academia, lá no escritório do meu irmão, por praticamente um ano. Depois desse período, aproveitamos a conexão com o  Murilo Gun e a Keep Learning para escalar.

Pivotamos um pouco o modelo testado e criamos uma proposta de valor mais clara e uma jornada conectada com a jornada dos alunos do Murilo. Saltamos de um encontro em um co-working na região da Paulista para três encontros por mês, em três regiões da cidade de São Paulo, com uma média de 20 pessoas por encontro.

Isso abriu uma oportunidade de parceira com Murilo para escalarmos ainda mais e, depois de um ano de operação em São Paulo em conjunto com o Murilo, expandimos o modelo para outras cidades e estados. Quando vimos, tínhamos encontros em Brasília, Recife, Fortaleza, Campinas, Curitiba, Campo Grande, Belo Horizonte e outras cidades e regiões do Brasil.

Nesse movimento nacional, nós conseguimos reunir todos os envolvidos em um evento promovido por Murilo – foi quando na verdade fomos presenteados com a caixa de Post It em homenagem à Academia da Criatividade – uma criação fruto de uma colaboração entre o Murilo e a 3M.

Murilo foi um grande incentivador e parceiro da Academia da Criatividade – que por sua vez também foi uma grande incentivadora e parceira da Keep Learning School.

Durante a pandemia mantivemos as academias ativas em um modelo diferente, online, mas com um objetivo um pouco diferente – mais de acolhimento das pessoas frente ao grande desafio que era o isolamento social. Momentos como esse são oportunidades de transformação.

Após a pandemia a Keep Learning, escola do Murilo, acabou encerrando as atividades. Eu também me mudei de cidade e, com isso, a Academia da Criatividade também encerrou seu ciclo.

JVN: A sua jornada com a Academia da Criatividade e a parceria com o Murilo Gun renderam a você uma participação no Hardwork Papai #5, e você chegou a ser mentorado por ele. Como foi essa experiência para você?

Daniel em 2015, com o amigo e ex-mentor, Murilo Gun (foto: arquivo pessoal)

Daniel Uehara: O Murilo entrou na minha vida em 2015, quando eu fiz o curso Reaprendizagem Criativa dele. Ao longo dos anos eu sempre busquei assumir um papel ativo na comunidade de alunos e a relação mentor-mentorado passou a ser mais uma parceria de negócios e uma amizade. Murilo tem um papel fundamental em minha vida, pois foi um período de muito amadurecimento, de ganho de consciência e um preparo mesmo para esse novo momento. Eu ainda o acompanho – ele segue evoluindo e fazendo um trabalho maravilhoso e ainda é uma grande influência positiva para mim.

JVN: Você também atua como mentor e palestrante. Qual é a essência dessas mentorias e das master classes que ministra, e como essa experiência contribui para sua visão de futuro na carreira?

Daniel Uehara: As palestras são para jovens talentos, sejam eles do Ensino Médio ou de universidades, a proposta é poder mostrar caminhos e opções para que esses jovens talentos possam assumir cada vez mais protagonismo em suas vidas profissionais e pessoais.

As aulas são uma parceria com uma edtech chamada Digital Innovation One (DIO), de um grande amigo, o Iglá Generoso, com quem trabalhei nos tempos de EDS. O trabalho do Iglá por meio dessa startup se conecta muito com meu propósito de dar oportunidades aos jovens, então eu colaboro com ele e o time DIO para criarmos experiências que possam trazer ferramentas e conhecimento que abram oportunidades profissionais.

A proposta das aulas e palestras é poder compartilhar experiências práticas do meu desenvolvimento de carreira e também de apoio aos jovens talentos, de modo que essas histórias construídas possam servir de evidências e inspiração para que outras pessoas possam também criar as suas próprias histórias de sucesso.

Daniel, em 2017, durante sua primeira visita a Bragança Paulista, para encontrar pessoalmente o primeiro grupo mentorado no Technovation (foto: arquivo pessoal)

As mentorias começaram em 2017, quando eu conheci um concurso global que promove a inserção de mulheres no mundo da tecnologia. Na ocasião eu conheci a professora Talita Cypriano, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (IFSP) – campus Bragança Paulista, que se tornou uma grande amiga e parceira.

Com o passar dos anos, houve um boom de startups de tecnologia ao redor do mundo e eu percebi que iniciativas como o Technovation, em conjunto com trabalhos como o da Talita, poderiam ser o começo de uma jornada alternativa de oportunidade profissional para esses talentos.

Além do caminho tradicional de estudar por um longo ciclo para só depois buscar o emprego, poderia também ser apresentado a esses jovens talentos a opção de usar a jornada acadêmica para definir um propósito e usar os estudos para mapear um desafio conectado a esse propósito. Assim, ao longo da jornada acadêmica, eles poderiam aproveitar o tempo para desenvolver uma solução para esse desafio. Ao final da trajetória acadêmica, de posse da solução, ou o jovem teria uma empresa aberta ou, no mínimo, uma baita experiência profissional que o colocaria em grandes empresas.

De 2017 para cá chegamos até o passo de ter projetos pré-incubados. Ou seja, estamos bem próximos de ter histórias de sucesso de alunos que usaram o período acadêmico para criar suas empresas e gerar empregos. O caminho ainda é longo, mas acredito muito nessa trilha e dedico meu tempo e o coração a esses jovens, para mostrar que é possível e abrir as portas para outros jovens talentos.

JVN: Sabemos que você teve a oportunidade de viver uma temporada no Vale do Silício – um dos maiores centros de inovação do mundo. Como essa experiência surgiu e o que ela trouxe de aprendizado para sua vida e seu trabalho?

Daniel Uehara: Eu tive dois momentos marcantes no Vale do Silicio. O primeiro foi em 2006, quando vivi lá por três meses, desenvolvendo em parceria com a Oracle o projeto EDS Top Gun – de pesquisa e desenvolvimento. Era o período do boom da internet e pude viver essa cultura inovadora e respirar esse ar. Aprendi e desenvolvi bastante a mentalidade empreendedora, a questão de poder mapear problemas e oportunidades e criar soluções.

Noite em que foi criado o Chatbot4Good, em Setembro de 2017 (foto: arquivo pessoal)

O segundo foi durante aquele parêntese que eu já contei, em que conheci minha esposa, a Cris. Era 2017 e eu tinha lido uma notícia de que lá no campus da Oracle na Califórnia estava sendo construída a sede da Design Tech High Scholl – uma escola de ensino médio que usa design thinking como metodologia pedagógica. Essa iniciativa tinha apoio do Oracle Education Foundation que, em determinados períodos do ano letivo, entregava experiências de aprendizagem com tecnologia para os alunos. A *sponsor (*patrocinadora) do Oracle Education Foundation também era sponsor global da área de impacto social, para quem a diretora da América Latina que havia aberto o espaço para participar da criação do chatbot 4 good se reportava.

Já  em 2018, fiz uma viagem a trabalho para o campus da Oracle na Califórnia e, na ocasião, eu pedi à Vanessa – diretora de impacto social aqui da America Latina – para me conectar com o time do Oracle Education Foundation para que eu pudesse conhecer a Design Tech High School. Apresentações feitas, eu combinei de almoçar com o time e durante o almoço eles me contaram como funcionavam essas experiências que eles criavam para a escola e eu contei o que nós havíamos feito na América Latina com a experiencia de criação de chatbot. O resultado da conversa foi uma provocação de, quem sabe um dia, entregarmos a experiência aos alunos da Design Tech High Scholl.

Em 2019 – aula na Califórnia (foto: arquivo pessoal)

Voltando da viagem, em janeiro de 2019, começamos a colaborar com o time da Oracle Education Foundation para que pudéssemos adaptar a experiência para ser entregue aos alunos da Califórnia. No final de maio, início de junho, estávamos eu e meu amigo Leo Veri lá na Califórnia, dando uma aula de criação de chatbots para alunos de ensino médio da Design Tech High Scholl.

Mais tarde, durante o período da pandemia, nós fizemos uma nova colaboração com o time da Oracle Education Foundation – e dessa vez fizemos o caminho inverso: pegamos uma classe de design de jogos e adaptamos para que ela fosse entregue de maneira remota para alunos de Ensino Médio aqui da América Latina.

Essa segunda experiência, além de aprimorar o design de experiências de aprendizagem, me conectaram de maneira mais profunda com o mundo da educação.

JVN: E dessa metodologia de ensino baseada em design thinking que você conheceu no Vale do Silício, o que é mais útil para o trabalho que realiza hoje?

Daniel Uehara: O design thinking, que numa tradução livre seria o modo de pensar um projeto, na minha concepção é um estilo de vida. Quando a gente compreende essa forma de pensar de um design isso nos transforma. A combinação desse modelo mental com a visão de criatividade que aprendi com Murilo Gun amplia a minha capacidade de mapear e interpretar contextos e propor caminhos. É como se eu fosse o Neo interpretando e sentindo a Matrix (risos).

JVN: Você também atuou como palestrante em eventos importantes na América Latina. Quais foram algumas dessas experiências internacionais que mais o marcaram?

Daniel Uehara: Um dos meus papéis na Oracle desde que entrei sempre foi de educar o nosso ecossistema de parceiros e clientes. Logo que entrei na Oracle nós costumávamos fazer um evento presencial no início do ano fiscal para apresentar e comunicar aos parceiros a visão e a estratégia de nossas ofertas de soluções para que eles pudessem alinhar com suas ofertas de serviços. Nessas ocasiões tive a oportunidade de visitar diversos países como México, Costa Rica, Porto Rico, Venezuela, Colômbia, Argentina, Peru e Chile.

O que mais me marcou desses eventos e viagens foi a riqueza cultural e a diversidade. Eu pude desenvolver um novo olhar sobre o mundo e ao mesmo tempo pude ver que também há muitas similaridades entre os povos latinos.

Anos mais tarde, já com o foco em soluções de RH na nuvem, eu tinha que capacitar nosso ecossistema de parceiros. Nessa ocasião tive a oportunidade de ter uma atuação mais Global, com interações presenciais nos EUA, Singapura, México, Argentina, Colômbia, Chile. Eram viagens mais longas, nas quais eu pude ter um contato ainda mais profundo com as culturas locais. Também tive interações remotas e online com consultores do mundo todo – experiência que eu também já tinha vivido na EDS. Sabe, essas oportunidades ampliam a nossa visão de mundo e nos mostra de maneira mais concreta a riqueza da diversidade e da inclusão. Aprender a respeitar essas diferenças amplia o nosso repertório criativo de maneira exponencial.

JVN: Com uma carreira tão intensa, como você concilia seu papel profissional com vida pessoal, casamento e paternidade? Sabemos que ser um pai presente é algo muito importante para você.

Daniel Uehara: A minha jornada como pai já teve diferentes estágios de maturidade. Comecei cedo com a minha filha Juliana, quando eu ainda estava na faculdade e iniciando o estágio na EDS. Infelizmente, não pude estar tão presente em sua infância, mas contei com o apoio da minha família e posso dizer que a Juliana foi fundamental para o meu amadurecimento, pois tive que acelerar o processo de crescimento pessoal e profissional.

Anos mais tarde pude estar mais próximo fisicamente dela, quando o meu primeiro casamento se encerrou e fui morar com a Juliana em São Paulo, durante o período da faculdade. Apesar de próximos fisicamente foi um período desafiador no sentido de uma adaptação radical de vida, em uma cidade como São Paulo. Hoje, felizmente, ela está trilhando o seu caminho ao lado do namorado e com os filhos pets, construindo uma carreira. Eu tenho muito orgulho dela por tudo o que ela passou e, por méritos próprios, conseguiu superar.

Com o Pedro estive mais próximo na infância levando na escola, acompanhando atividades esportivas. Depois, quando vim para São Paulo após o término do primeiro casamento, também tivemos o desafio da distância. Aos poucos, fomos nos adaptando à nova realidade e rotina e, com apoio da tecnologia, conseguimos criar uma maneira de estarmos próximos.

Do Theo, assim como com o Pedro, eu consegui estar próximo também no início e também depois tivemos o desafio da distância física, quando eu vim morar em São Paulo. Apesar da distância, nós nos encontrávamos a cada 15 dias, quando eu ficava com eles nos finais de semana. E fazemos isso até hoje – eu procuro me deslocar a cada 15 dias de Bragança até Santos e buscá-lo para passar o fim de semana aqui em casa.

Na relação com os três eu pude contar com meus pais e com os avós maternos deles como rede de apoio, o que ajudou bastante.

Depois deles chegou o Miguel, fruto do meu casamento com a Cris minha esposa – essa astróloga que tem uma paixão pelo próximo, pelo autoconhecimento, pela espiritualidade e pela vida.  Eu e Cris decidimos sair de São Paulo também em função do Miguel, para poder dar uma melhor qualidade de vida para ele – e também para nós, já que tanto meus pais quanto os pais da Cris não estão tão próximos. Então temos que criar nossa própria rede de apoio. Apesar de ser um pouco mais complexo, isso também nos permite estar mais próximos do desenvolvimento do Miguel.

Ao longo da vida fui ressignificando um pouco a paternidade, mas é algo que sempre gostei e sempre busquei fazer o meu melhor. É algo complexo porque não existe um curso, uma formação para ser pai – somente vivendo na pele é que se aprende. Mas essa experiência também me mostrou que tudo na vida é assim: cursos, teorias, podem te dar um conhecimento, mas não a experiência. Somente quando nos colocamos na ação é que podemos testar quais dessas teorias e conhecimentos fazem sentido em qual momento e em qual contexto.

JVN: O que você considera mais importante ao dividir seu tempo entre trabalho, família e tantos projetos? Existe alguma filosofia ou prática que o ajuda nesse equilíbrio?

Daniel Uehara: Durante grande parte da minha vida estudantil aprendi que existia o certo e o errado. E ao longo da vida aprendi que o certo e o errado podem mudar, dependendo do contexto. E que, portanto, a única certeza é que estamos constantemente errando, aprendendo e evoluindo. Esse olhar do “life long learning” tira o peso de ter que fazer o certo e o peso de ter que ser perfeito e isso nos traz mais leveza para tudo que faço. Ter essa filosofia de vida independente do papel que estou atuando – se como pai, marido, palestrante, consultor. Ajuda bastante nesse equilíbrio.

JVN: Que conselhos você daria para quem deseja se destacar na área de tecnologia ou em posições de liderança em inovação? Quais competências são consideradas fundamentais?

Daniel Uehara: Buscar consciência e assumir a capacidade criativa. Gostar de pessoas, gostar de problemas, aprender design thinking, ter muita fé, capacidade de projetar o futuro, sonhar, sempre aprimorar a capacidade de aprendizagem, ser curioso e praticar a cultura maker são alguns dos comportamentos e habilidades que eu considero importantes e recomendo.

JVN: Para finalizar, quais são seus próximos planos profissionais? E, olhando para o futuro, existe algum sonho ou projeto ainda a realizar?

Daniel Uehara: Profissionalmente, estou buscando aqui na Oracle aumentar o número de clientes na região da América Latina que se beneficiam das nossas soluções, de forma que possamos trazer uma melhor experiência aos colaboradores de uma empresa.

Quero também ampliar essa jornada educacional, em que alunos possam sair das instituições de ensino com uma empresa aberta ou uma baita capacidade de estar em qualquer empresa.

Na esfera pessoal, tenho objetivos de curto prazo, como o de completar um projeto de correr as seis maiores maratonas do mundo. Eu já completei cinco: Berlim, Chicago, Boston, Tóquio e Nova York. Agora falta apenas uma, que é Londres, e já estou colocando data para isso – 2026.

No longo prazo, meus objetivos são poder viver até os 150 anos de forma saudável e ativa, ver e apoiar os meus filhos em suas jornadas de evolução, além de também estar ao lado da minha esposa, testemunhando essa linda missão que ela tem de transformar vidas – em especial o relacionamento das pessoas através do estudo da astrologia.


*Há mais de cinco anos na Oracle, Daniel Uehara é Gerente de Produto Oracle Cloud HCM, dedicando-se a promover a transformação digital de RH e a adoção de soluções em nuvem. Atua em parceria com clientes e parceiros para contribuir com o uso estratégico das ferramentas Oracle Cloud HCM, garantindo a geração de valor por meio de inovação e práticas recomendadas. Paralelamente, atua como professor e palestrante na DIO, uma startup educacional na qual desenvolve e ministra master classes sobre desenvolvimento de carreira e pensamento criativo. Com vasta experiência em mapeamento de empatia e Design Thinking, já facilitou mais de 200 horas de sessões voltadas à resolução de problemas e colaboração.

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