Estudo revela que metade dos jovens não quer voltar ao trabalho presencial para não perder suas séries favoritas; especialistas propõem uma nova visão sobre foco e desempenho

O trabalho remoto transformou a relação das pessoas com o emprego — e, para a Geração Z, ele também trouxe uma nova forma de equilibrar atenção e lazer. Segundo uma pesquisa do serviço de streaming Tubi, 84% dos trabalhadores dessa geração admitem assistir a séries e filmes enquanto trabalham de casa, e 53% já adiaram tarefas para terminar um episódio.

Para muitos, esse comportamento acende um alerta sobre produtividade. Mas especialistas em recursos humanos sugerem uma abordagem menos rígida e mais adaptada à realidade dessa geração, que cresceu em um ambiente digital-first.

Assistir a conteúdos durante o expediente pode parecer contraditório à lógica do foco, mas há quem veja nisso um mecanismo de regulação emocional e concentração. “É parte de como eles fazem pausas, se mantêm estimulados e gerenciam o foco ao longo do dia”, afirma Cynthia Clevenger, vice-presidente sênior de marketing B2B da Tubi.

Streaming, silêncio e solidão no home office

O trabalho remoto reduz interações espontâneas, e muitos jovens usam o streaming como uma forma de “preencher o silêncio”. Alguns especialistas associam essa prática ao conceito de body doubling — quando uma presença externa, real ou simulada, ajuda na concentração.

“O streaming pode ser uma forma de ‘body doubling’. Em vez de policiar isso, empregadores modernos devem adaptar o ambiente de trabalho”, diz Simran Bhatia, líder de operações de pessoas na Reality Defender.

Controle ou adaptação?

Apesar disso, ainda existe desconfiança sobre a produtividade no home office. Jamie Dimon, CEO do JPMorgan Chase, já afirmou publicamente que jovens são menos produtivos fora do escritório. Pesquisas também indicam que millennials e Gen Zers lideram as práticas de “fauxductivity” — fingir que estão ocupados.

Para Meisha-ann Martin, diretora de análise de pessoas na Workhuman, o debate vai além do streaming. O que está em jogo é o esgotamento profissional e a desconexão com modelos tradicionais de gestão. “Não se trata apenas de entretenimento, mas de como as pessoas se sentem em relação ao trabalho que fazem”, aponta.

Mais do que séries: o desejo por autonomia

Dados mostram que mais da metade da Geração Z prefere não voltar ao trabalho presencial justamente para não abrir mão de seus momentos de streaming. Mas, como aponta Patrice Lindo, CEO da Career Nomad, o cerne da questão não está na tela, mas na autonomia. “Sim, a Geração Z está assistindo a séries no trabalho — e isso nem sempre é um problema de produtividade. É um sinal de que precisamos reimaginar a atenção, não puni-la”, defende.

No fim, o futuro do trabalho talvez não esteja em proibir ou permitir, mas em entender como a atenção funciona em um mundo repleto de estímulos. A Geração Z pode estar apenas antecipando uma mudança mais ampla sobre como, onde e em que ritmo se trabalha.

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