De um tempo para cá tenho observado um grande movimento das empresas em direcionar suas estratégias de comunicação e marketing para diferentes gerações: Baby Boomers, Geração X, Millennials, Geração Z, e agora já se fala até na Geração Alpha. As orientações costumam ser claras: “entenda o comportamento de cada geração, adapte sua linguagem, posicione seus produtos e serviços de acordo com os interesses específicos de cada grupo etário”. Ok, está certo. Eu concordo que, por um lado, eu concordo que faz sentido. Cada geração traz mesmo consigo tendências de comportamento e consumo que podem ser valiosas para as empresas.

No entanto, tenho notado também um certo exagero nessa abordagem. Acredito que, ao se concentrar demais nessas divisões geracionais, as empresas correm o risco de cair em clichês e estereótipos, rotulando clientes com base apenas em sua idade, sem considerar outros fatores que também influenciam comportamentos e preferências. Eu mesma já me senti desconfortável, por exemplo, com uma matéria que li outro dia de uma agência de viagens dando dicas sobre como agradar viajantes com experiências dirigidas a cada geração. Eu “sou” geração X (ponho entre aspas porque não consigo me restringir ao que decreta essa caixinha) – e não me identifiquei com o que a agência em questão sugeria: “ambiente que garantisse boas horas de sono e boa conexão de internet para trabalho”. Já na sugestão para a geração millenials, sugeria proporcionar oportunidades de atividades que possibilitassem conhecer pessoas e a cultura local. Foi aí que tive a certeza que ou a matéria estava equivocada ou minha certidão de nascimento tinha sido trocada.

Ok. Exagerei, desculpe. Mas descontração à parte, foi meio essa sim a sensação que tive. Por que? Porque a matéria só levava em conta a idade – a geração. E de fato tenho amigos da minha idade que se identificariam com tais dicas. Mas se a agência levar em consideração apenas isso, nunca me fidelizaria como cliente.

Vou compartilhar outra experiência que ilustra também essa questão, ou minha inquietação com o assunto. Conheço um pai e um filho que, à primeira vista, se encaixariam perfeitamente nos rótulos geracionais: o pai, pertencente à Geração X, e o filho, à Geração Z. Se seguíssemos o manual de muitos artigos por aí, seria natural supor que o pai talvez fosse mais reservado quanto à tecnologia, enquanto o filho estaria totalmente imerso no mundo digital. Mas, na prática, a realidade é outra. O pai, um profissional de tecnologia, é super conectado, sempre atualizado com as últimas novidades. Já o filho, mais voltado para a arte e cultura, prefere um ritmo de vida mais desacelerado e introspectivo. Se uma empresa decidisse interagir com eles apenas com base em suas idades, correria o risco de errar feio.

Essas duas histórias nos levam a uma reflexão importante: sim, é fundamental estar atento às características de cada geração. No entanto, essas características são apenas pistas, não verdades absolutas. O perigo de focar exclusivamente em rótulos geracionais é que podemos perder de vista a individualidade de cada pessoa – um erro que pode nos conduzir a uma verdadeira miopia comunicacional.

Pensemos também na Geração Z, muitas vezes apontada como a mais difícil de se comunicar. Um consultor de marketing que conheço é categórico em afirmar que as empresas não sabem se comunicar com essa geração, e que, por isso, acabam não aproveitando todo o talento e a criatividade que ela tem a oferecer. Em parte, ele tem sim muita razão. Mas também precisamos olhar o outro lado: essa geração, que cresceu em um mundo hiperconectado e dinâmico, por vezes demonstra certa impaciência e ansiedade ao lidar com trâmites corporativos mais tradicionais. Essa falta de tato pode impedir que eles aprendam e cresçam dentro das organizações.

O ponto que quero destacar é que as empresas precisam, sim, observar as tendências geracionais e adaptar suas estratégias de comunicação e marketing. Mas é crucial evitar a tentação de colocar as pessoas em caixinhas, classificando-as apenas com base na idade. Fazer isso é como enxergar o mundo através de uma lente embaçada, onde detalhes importantes são ignorados.

As Relações Públicas sempre tiveram como essência a adequação de discursos de acordo com cada público. Mas aqui vai um alerta: é necessário que essa adequação seja feita com critério. Ouvir, observar e entender o comportamento de cada público de maneira ampliada é fundamental para acertar na comunicação. Só assim as empresas conseguirão estabelecer relacionamentos genuínos, respeitando a individualidade de cada pessoa ou grupo.

Portanto, ao invés de seguir cegamente as classificações geracionais, meu convite é para que as empresas façam um esforço consciente de ir além. Conheça seus públicos de forma mais profunda, compreenda suas reais motivações e crie experiências que, de fato, ressoem com eles. A idade pode nos dar algumas pistas, mas é a singularidade de cada indivíduo que realmente deve guiar nossas estratégias.

Até o próximo papo!

Compartilhar:

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *