Especialista aponta impactos à saúde mental dos trabalhadores e riscos financeiros às organizações diante do aumento das ações trabalhistas

O número de ações judiciais relacionadas à Síndrome de Burnout cresceu 14,5% no Brasil nos primeiros quatro meses de 2025, em comparação com o mesmo período do ano anterior. O dado, registrado pela Justiça do Trabalho, revela um cenário de crescente judicialização dos casos de esgotamento profissional e reforça a urgência do tema nas estratégias corporativas de saúde e produtividade.

Brasil entre os líderes em casos de burnout

Segundo o psicólogo e psicanalista Francisco Nogueira, da consultoria Relações Simplificadas, o crescimento das ações trabalhistas está diretamente ligado à dificuldade das empresas em reconhecer e lidar com a saúde mental como um tema prioritário. “Nos últimos 10 anos houve um aumento de 1.000% no número de afastamentos do trabalho pelo INSS por causa da burnout. Esse avanço preocupa por dois motivos: porque abala a saúde do trabalhador e atinge o resultado das empresas”, afirma.

O Brasil ocupa a segunda posição mundial em número de casos de burnout, atrás apenas da Índia, e estima-se que cerca de 30% das pessoas ocupadas no país sofram com sintomas da síndrome. Em 2023, mais de 421 mil trabalhadores foram afastados do trabalho com diagnóstico de esgotamento — o maior número da década.

Sintomas físicos, emocionais e prejuízos econômicos

A burnout é caracterizada por três elementos centrais: exaustão emocional, distanciamento mental em relação ao trabalho e redução da eficácia profissional. “Os sintomas são físicos e também psicológicos, como dor de cabeça, cansaço, insônia, dificuldade de concentração, alterações de humor e pressão arterial instável. Muitas vezes a pessoa se isola e sente insegurança constante”, explica Nogueira.

Reconhecida desde 2022 pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma condição de saúde ocupacional, a síndrome já não pode ser atribuída ao estresse da vida pessoal, o que amplia a responsabilidade das empresas. Estima-se que a perda de produtividade e o aumento do absenteísmo gerados pelo burnout possam reduzir até 3,5% do PIB brasileiro.

Nova legislação e exigências para as empresas

A partir de maio de 2026, entra em vigor a nova NR-1, norma regulamentadora que exigirá das empresas brasileiras ações mais efetivas na promoção da saúde mental dos trabalhadores. “É fundamental que tenhamos políticas públicas e leis que normatizem o enfrentamento da burnout. Isso inclui a adequação das lideranças empresariais a essa nova realidade”, defende o especialista.

Francisco Nogueira destaca que o investimento em informação, treinamento de gestores e mudança de cultura organizacional são os caminhos mais seguros. “A saúde mental deixou de ser um tema acessório e se tornou parte central da sustentabilidade dos negócios”, ressalta.

Ferramenta gratuita para autocuidado

Com foco na prevenção, a consultoria Relações Simplificadas lançou o Simplificador I, um jogo gratuito que estimula pequenas mudanças no estilo de vida para cuidar da saúde mental. A ferramenta está disponível no site:
https://www.relacoessimplificadas.com.br/images/pdfs/Simplificador%20I%20v10-1.pdf

Sobre Francisco Nogueira
Psicólogo pela UFRJ e psicanalista, é consultor em saúde mental corporativa e atende instituições como ONU, Bradesco, Klabin e Boticário. É membro do Departamento Formação em Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae.

“Nós, brasileiros, somos os mais ansiosos do mundo e o segundo povo com mais casos de burnout. O cuidado com a saúde mental precisa deixar de ser uma reação e se tornar uma estratégia ativa e contínua”, finaliza o especialista.

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