Nos últimos anos, venho refletindo sobre o papel da cultura organizacional no bem-estar dos colaboradores e como ela impacta diretamente os resultados das empresas. Criar um ambiente que promove a saúde integral e o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal não é mais um diferencial; é uma necessidade. Neste artigo, quero explorar as estratégias que podem ser adotadas para estabelecer uma cultura de bem-estar que permeie toda a organização, criando um ciclo positivo de hábitos saudáveis, produtividade e satisfação no trabalho.
Como Iniciar a Transformação?
A criação de uma cultura de bem-estar começa com o exemplo. A liderança precisa estar engajada e comprometida, demonstrando que o bem-estar dos colaboradores é uma prioridade. Isso se reflete em decisões, políticas e ações cotidianas. Tais iniciativas não geram o impacto esperado se não houver consistência no discurso e nas práticas da liderança.
Empresas na Europa têm se destacado ao implementar abordagens inovadoras. Um exemplo que gosto de mencionar é o da Finlândia, onde o bem-estar dos funcionários é parte central das políticas empresariais. Por lá, muitas companhias adotam semanas de trabalho reduzidas, acreditando que um maior equilíbrio entre trabalho e vida pessoal eleva a produtividade e a criatividade. E os resultados têm sido notáveis.
Nos Estados Unidos, grandes corporações, como a Google, têm feito um esforço contínuo para criar um ambiente de trabalho que vai além de uma mesa de escritório confortável. Eles oferecem áreas de relaxamento, academias, alimentação balanceada e até programas de meditação no local de trabalho. A ideia é criar uma rotina onde o colaborador se sinta bem, física e mentalmente, ao longo do dia.
Por outro lado, países como o Japão e a Coreia do Sul, conhecidos por suas culturas de trabalho intenso, têm percebido a necessidade de adotar práticas que promovam o bem-estar. No Japão, as longas jornadas de trabalho, que historicamente eram vistas como um sinal de dedicação, estão sendo repensadas. Empresas como a Toyota introduziram horários mais flexíveis e programas de saúde mental, cientes de que o equilíbrio entre a vida profissional e pessoal é essencial para evitar o esgotamento e o absenteísmo.
Incentivando Hábitos Saudáveis
Promover hábitos saudáveis vai muito além de sugerir que as pessoas comam melhor ou se exercitem mais. É necessário criar um ambiente que facilite essas escolhas. Uma das ações mais eficazes que implementei em um programa do Grupo Pão de Açúcar, como gestor de loja, foi a implementação de ginástica laboral por profissional contratado durante o expediente, com sessões de alongamento e exercícios leves. O resultado foi a redução de lesões e níveis de estresse.
Além disso, a alimentação saudável é outro pilar dessa transformação. Empresas como a Unilever, que tem operações em várias partes do mundo, adotam programas de alimentação balanceada em seus restaurantes, oferecendo refeições que promovem o bem-estar físico e mental. Essa mudança na alimentação impacta não apenas a saúde dos colaboradores, mas também seu humor e disposição ao longo do expediente.
Outro ponto importante é oferecer acesso ao suporte psicológico. Muitas empresas ainda tratam a saúde mental como um tema secundário, mas investir em programas de suporte contínuo, como sessões de terapia ou grupos de apoio, cria um ambiente de acolhimento. Nos EUA, por exemplo, a Microsoft oferece apoio psicológico gratuito aos colaboradores, o que tem se mostrado uma excelente estratégia para prevenir problemas de saúde mental a longo prazo.
Equilíbrio entre Trabalho e Vida Pessoal
No Brasil, ainda estamos caminhando nessa direção, mas algumas iniciativas têm se mostrado bastante eficazes. Empresas que incentivam o home office e o horário flexível já estão colhendo frutos positivos em termos de engajamento e produtividade. O Banco Bradesco, por exemplo, adotou o home office de maneira híbrida e observou uma melhora no equilíbrio entre a vida pessoal e o trabalho, além de uma redução considerável no estresse dos colaboradores.
Em empresas da Suécia, o equilíbrio entre a vida pessoal e o trabalho é levado tão a sério que algumas companhias optaram por adotar uma jornada de trabalho de seis horas. Os resultados, além de uma maior qualidade de vida para os colaboradores, incluem um aumento na eficiência e na satisfação no trabalho.
Comunicação Eficaz e Apoio da Liderança
Um dos grandes desafios que enfrentei foi o de comunicar adequadamente os benefícios de um programa de bem-estar para os colaboradores. Para que as iniciativas de saúde sejam eficazes, é crucial que todos saibam como participar e qual a importância dessas ações. Muitas vezes, a falta de adesão ocorre simplesmente por uma comunicação ineficiente.
Além da comunicação, o apoio da liderança é fundamental. Quando os gestores demonstram estar engajados com o bem-estar dos colaboradores, a adesão às iniciativas tende a ser maior. Uma abordagem no GPA que funcionou muito bem foi o treinamento dos líderes para que eles mesmos praticassem e incentivassem hábitos saudáveis. Quando os colaboradores veem seus líderes participando de atividades físicas ou respeitando o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal, eles se sentem mais motivados a fazer o mesmo.
Nova Lei nº 14831/2024
Vale destacar que a nova Lei nº 14831/2024 do Governo Federal do Brasil, que institui o Certificado Empresa Promotora da Saúde Mental, oferece um incentivo importante para as empresas que desejam consolidar uma cultura de bem-estar. Essa certificação é concedida às empresas que demonstram um compromisso sólido com a saúde mental de seus colaboradores, implementando programas robustos e contínuos.
Conclusão
Criar uma cultura de bem-estar organizacional é um investimento que traz benefícios tanto para os colaboradores quanto para a empresa como um todo. Ao incentivar hábitos saudáveis, promover o equilíbrio entre a vida pessoal e o trabalho e contar com o apoio da liderança, as organizações conseguem criar um ambiente mais produtivo, saudável e motivador.
Se queremos construir o futuro das organizações de maneira sustentável, precisamos começar investindo nas pessoas. O bem-estar dos colaboradores deve estar no centro das políticas empresariais, pois são eles que, com saúde e equilíbrio, conduzirão a empresa ao sucesso.
Referências
Brasil. Lei nº 14831, de 2024. Institui o certificado empresa promotora da saúde mental e estabelece os requisitos para a concessão da certificação.
Wander Assumpção tem mestrado profissional em tecnologia e gestão em saúde ocular (Unifesp/SP). É pós-graduando em dependência química pela (FAVENI/ES). Possui especialização em gestão de varejo (Senac/RJ). É bacharel em administração de empresas (FGV/SP). Atuou como gestor de operações em grandes grupos varejistas. Desde 2012 é docente do ensino superior nas FATECs Bragança Paulista e Itatiba. É membro da ISMA – Brasil (International Stress Management Association) e associado à Associação Brasileira de Estudos do Álcool e Outras Drogas (ABEAD). Palestrante sobre dependência química e intoxicação digital em empresas, instituições e escolas.