“Ouça um bom conselho, eu lhe dou de graça, inútil dormir que a dor não passa

Espere sentado ou você se cansa – está provado, quem espera nunca alcança”

(Bom Conselho – Chico Buarque)

No mundo achatado da hipervelocidade e acesso universal à informação, o conceito de verdade parece ter ficado absolutamente obsoleto. É tão fácil e tão rápido torcer palavras e dar nova roupagem às narrativas, que a versão fica sempre muito melhor que o fato (obrigado Barão de Capanema). Ao consumir data e informação disponíveis, podemos duvidar, questionar, conferir origem, tempo e autoria – mas quando precisarmos confiar na informação para embasar tomada de decisões, aí é outra história.

Certamente a internet nos livrou de bibliotecas físicas e digitais, o que nos poupa custos de aquisição, espaços de armazenamento e tempo de pesquisa, mas acrescentou ao seu universal repositório os falsos profetas e o pseudoconhecimento, para que, como “bons cristãos” aprendêssemos a separar o joio do trigo. Quem nos ajudará nesta jornada? Onde obter bons conselhos? Tem mentores que se interessam de verdade em nosso sucesso? Todo coach sabe o que está fazendo?

Sou uma pessoa de marketing desde que conheci o marketing – sou empreendedor, atuei em planejamento estratégico em projetos e empresas, e sei que a informação e o aconselhamento corretos, facilita nossa compreensão e conhecimento de determinado contexto, e inspira definir as diretrizes certas para iniciar qualquer empreitada. Quando partimos das premissas e posicionamentos errados, gastamos muito tempo apagando incêndios e refazendo os passos para ver o que deu errado.

É certo que podemos errar – sempre é bom gastar um tempo de análise para reduzir a margem de risco, mas no planejamento devemos sempre considerar eventuais distorções de avaliação e expectativas, prevendo ações de monitoramento e controle (que os levianos amantes da vida fácil chamam de “burocracia”). Vale para negócios, política, ação social e na vida pessoal.

Mas e aí? Onde está a melhor informação e nossos melhores mentores? Como eu digo, sempre olhe para as bordas – quer conhecer um município? Podemos começar nos bares, salões de beleza, no mercado, nas rodas de conversa de artistas, na quadra de futebol, universitários, taxistas. Depois podemos conversar com empresários, vendedores, investidores, acadêmicos e por fim, mas só no fim, com políticos. Conhecer uma empresa ou território é colocar o dedo na jugular e sentir o pulso, saber onde estão as feridas, as mágoas não resolvidas, as verdades e mentiras que se escondem atrás das histórias de sucesso, conhecer protagonistas e saber quem são os verdadeiros guardiães do conhecimento. Aí repousa a sabedoria. Nem sempre os “donos ou líderes” são os que nos entregam as chaves da cidade – para entrar na festa, é mais fácil conhecer o porteiro que o dono da boate.

A quem cabe esta busca? Esta construção é sempre do protagonista, o “dono do risco” como costumo chamar – o empreendedor, o investidor, o líder de um projeto, que precisa conhecer para intervir, e estar como nunca alerta a todos os sinais. E aqui vai o alerta: o maior inimigo dos protagonistas chama-se auto-engano, uma inacreditável capacidade do ser humano de iludir a si mesmo! No trabalho sensível e profundo de Eduardo Giannetti, o livro “Auto-engano” descarna a realidade onde cada pessoa cria e sustenta mentiras, que nos ajudam a compreender ou suportar o mundo, que podem constituir fator de alegria e sucesso, de dor ou sofrimento para nós e as pessoas que nos cercam.

Quanto mais arraigadas nossas crenças ou nossas narrativas, mais procuramos informações que as sustentem – deixamos de perceber mudanças de cenário, de forma inconsciente (ou não) e cultivamos a negação sobre nossas capacidades, nosso passado, nossas escolhas – “não tenho tempo, sou ocupado”, “posso conviver com a droga, nunca me fez mal”, “só Deus pode me ajudar”, “mas ela jurou seu eterno amor”, “meu pai é meu maior exemplo”, “fizemos tudo certo, mas meu concorrente é desonesto”, “povo ingrato”

Pessoalmente sempre gostei de atuar em projetos de consultoria, intervenção, desenvolvimento, onde temos o desafio transformador de superar problemas, onde o mais difícil é identificar a verdadeira causa dos problemas. Diagnóstico  é uma arte de investigação, de empatia, de troca aberta, sem filtros ou julgamentos, onde geralmente só precisamos ouvir para aprender, sorrir para relacionar e coletar com gratidão todas as pequenas amostras e retalhos que gentilmente as pessoas nos entregam, ávidas de ajudar a montar o quebra-cabeça onde vivem e convivem.

Nestes contextos sempre aparecem muitos Onis e alguns Hachiras (agradeço à Mariana pelos bons ensinamentos de anime e mitologia japonesa!) – mas nossa mente aberta e alerta nos ensinará a diferença, nossa flexibilidade nos ajudará a conhecer e evitar atalhos, e nosso propósito nos ajudará a filtrar o que naquele momento é para nós a verdade, e de onde vem os melhores conselhos.

Os verdadeiros educadores nem sempre são professores e muitos professores não são educadores. Os bons conselheiros e mentores não estão necessariamente vendendo suas teorias e métodos – eles se colocam à disposição, são reconhecidos e requisitados. Os profetas do sucesso fácil querem fama e o seu dinheiro. Mentores de fato querem uma relação de aprendizado e descobertas que levam ao seu sucesso. Onde estão??? Pergunte pelo caminho: quem sabe para onde vai, encontrará o melhor guia, e quem ainda não sabe, não precisa guia. E pode ter certeza – o mestre sabe reconhece seus discípulos.

Desafiador sempre, fácil nunca. Como diz o sambista Camundongo, amigo e parceiro de Atibaia: “Mais vale duas pedras no caminho do que uma pedra no rim…Conselho de Vovó!”

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