Psicóloga Bruna Madureira analisa como a cultura da alta performance impacta o bem-estar emocional e se reflete no aumento de casos de exaustão e adoecimento psicológico
A chamada cultura do desempenho tem se tornado um dos traços mais marcantes da vida contemporânea. O ideal de produtividade máxima, muitas vezes tratado como sinônimo de excelência, tem levado pessoas a níveis crescentes de autoexigência, ansiedade e desgaste emocional. O que poderia servir de estímulo ao crescimento pessoal e profissional tem se mostrado, em muitos casos, um fator de adoecimento.
De acordo com a psicóloga clínica e organizacional Bruna Madureira, PhD em Psicologia e especialista em trauma, a questão ultrapassa o campo individual e reflete um padrão social. “É notável que o que inclui e exclui dentro dos parâmetros sociais é a performance. Quem entrega alto, custe o que custar — incluindo aqui a exaustão, o burnout, a ansiedade e a depressão — recebe aplauso e reconhecimento por isso. Essa lógica é violenta, porque desconecta as pessoas de si mesmas e das suas necessidades, inclusive emocionais”, afirma.
Segundo ela, a internalização dessa pressão pode gerar impactos profundos: “Quando alguém passa a se relacionar consigo como se fosse uma máquina, ignorando sinais de cansaço, cria-se um terreno fértil para o trauma”, explica a especialista.
Estudos recentes reforçam a preocupação. Entre 2011 e 2022, a taxa de suicídio entre jovens de 10 a 24 anos cresceu, em média, 6% ao ano, segundo pesquisa do Cidacs/Fiocruz Bahia em parceria com a Universidade de Harvard. No mesmo período, os registros de autolesão aumentaram 29% ao ano. Já a Síndrome de Burnout afeta cerca de 30% dos trabalhadores brasileiros, conforme levantamento da Associação Nacional de Medicina do Trabalho (ANAMT) — colocando o país entre os que mais registram casos no mundo.
Bruna destaca ainda um aspecto pouco discutido: o isolamento. “A solidão é uma das consequências silenciosas da cultura do desempenho. A pessoa se convence de que precisa dar conta sozinha, e isso a distancia de relações onde poderia encontrar cuidado e pertencimento. A longo prazo, essa prática compromete a sociedade como um todo”, observa.
Para a psicóloga, repensar a forma como se enxerga a produtividade é essencial. “Não basta dizer que saúde mental é prioridade se o ambiente continua premiando quem sacrifica a vida pessoal e emocional em nome da entrega. Precisamos ressignificar o que significa ‘ser produtivo’”, defende.
Ela propõe caminhos como o fortalecimento da regulação emocional, o mindfulness e a valorização das relações humanas seguras, inclusive nos ambientes corporativos. “O desempenho saudável nasce do equilíbrio e da conexão com o próprio corpo. Quando entendemos que não precisamos ser perfeitos para sermos dignos de reconhecimento, começamos a construir outra forma de viver”, conclui.

