Uma pesquisa que conduzimos pela Apoema Inteligência em Pessoas, com a participação de 800 profissionais de outubro a novembro de 2023 acaba de ser finalizada e lança luz sobre o impacto significativo dos gestores tóxicos no ambiente de trabalho e suas ramificações econômicas e sociais.

A pesquisa abordou temas como a gestão tóxica, os impactos disso no dia a dia das empresas e nos colaboradores que reportam para este tipo de profissional, bem como os esforços dos RHs para a manutenção e engajamento de pessoas num cenário de política e coação.

Dentre  inúmeros dados, a pesquisa ressalta que alarmantes 68% dos entrevistados relataram já ter deixado seus empregos alguma vez em sua trajetória profissional devido a problemas relacionados a gestores tóxicos. Isso não só desencadeia uma perda de talentos, mas também gera custos substanciais para a substituição de funcionários e treinamento de novos membros da equipe.

Neste sentido, a pesquisa  já identifica que a perda financeira anual devido à saída de profissionais causada por gestores tóxicos gera custos enormes para as corporações. Estudos globais indicam que as empresas podem perder até 12% do seu orçamento anual devido à rotatividade de funcionários causada por gestores tóxicos. Em termos monetários, estamos falando de bilhões de dólares em todo o mundo, considerando o custo de recrutamento, treinamento, perda de produtividade e moral da equipe. Esse impacto financeiro substancial ressalta a necessidade urgente de abordar e mitigar os efeitos negativos da toxidade no ambiente de trabalho. Investir em liderança capacitada e em uma cultura organizacional saudável não é apenas uma questão ética, mas também uma estratégia empresarial inteligente para proteger os recursos e promover o crescimento sustentável das empresas.

Em um mundo em que a cultura organizacional desempenha um papel crucial na atração e retenção de talentos, cerca de 85% dos recursos humanos estão direcionados para gerir a cultura empresarial e os valores corporativos. Isso destaca a importância estratégica atribuída ao clima organizacional na atualidade, mas por outro lado aproximadamente 78% dos entrevistados relataram que as más escolhas em promoções de gestores têm um impacto significativo na destruição do clima organizacional e nos resultados corporativos. Isso evidencia a necessidade premente de um processo seletivo de gestão mais criterioso e transparente.

Estudos recentes demonstram que um clima organizacional positivo pode aumentar a produtividade em até 30%. Investir na criação e manutenção de um ambiente de trabalho saudável e colaborativo não é apenas moralmente correto, mas também estrategicamente vantajoso para as empresas, uma vez que essa toxidade impacta diretamente ou na saída destes colaboradores das empresas ou na saúde mental dos que ficam. E como responsável direto por essa pesquisa, eu posso afirmar que de um modo ou de outro a empresa sempre sairá perdendo.

Neste sentido, 42% dos entrevistados indicaram ter pedido demissão devido a chefes tóxicos, destacando os efeitos prejudiciais dessas relações no bem-estar e na satisfação no trabalho  no dia a dia.

Um número preocupante de 32% dos profissionais entrevistados desenvolveram síndrome de burnout como resultado das pressões e exigências impostas por gestores tóxicos. Isso ressalta a necessidade urgente de uma liderança mais empática e habilidosa.

Os dados coletados em nossa pesquisa são muito semelhantes aos dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), no qual o Brasil é um dos países com maior incidência de síndrome de burnout, afetando cerca de 30% dos profissionais. A International Stress Management Association (ISMA) também destaca que o estresse relacionado ao trabalho é um fator significativo na prevalência do burnout.

No contexto desta pesquisa, 32% dos profissionais entrevistados relatam que desenvolveram síndrome de burnout como resultado das pressões e exigências impostas por gestores tóxicos. Esses achados sublinham não apenas a importância crítica do clima organizacional na saúde e no desempenho dos funcionários, mas também a necessidade de investimentos substanciais em práticas de liderança eficazes e uma cultura empresarial que promova o bem-estar e a prosperidade de todos os envolvidos.

Um dos fatores de risco para o esgotamento emocional ou o burnout é o excesso de trabalho e a falta de produtividade, fatores esses que identificamos nesta pesquisa ao saber que 55% dos profissionais entrevistados relataram trabalhar mais  horas do que o contratado, devido à pressão dos gestores. Essa prática não apenas ultrapassa os limites contratuais, mas também pode ser interpretada como uma forma de assédio moral, resultando em impactos negativos na saúde e no bem-estar dos trabalhadores.

O aumento nas denúncias de assédio moral no Brasil também são preocupantes. Segundo dados do Ministério Público do Trabalho (MPT), as denúncias de assédio moral têm apresentado um aumento expressivo nos últimos anos. Entre 2022 e 2024, houve um aumento médio de 30% no número de denúncias relacionadas a casos de assédio moral nas empresas. Essa tendência alarmante reflete os desafios enfrentados pelos trabalhadores no ambiente corporativo, destacando a importância crucial de medidas preventivas e de conscientização para combater o assédio e promover ambientes de trabalho saudáveis e respeitosos.

Esses dados trazem informações mais delicadas e até chocantes sobre como os gestores tóxicos ganham força ainda dentro das empresas, e também nos faz refletir sobre modelos arcaicos de gestão de pessoas e ainda de práticas antiéticas com que executivos submetem seus times de RH.

Um dos dados coletados que chamam a atenção na pesquisa da Apoema é que aproximadamente 45% dos entrevistados relataram ter testemunhado ou experimentado promoções baseadas em favoritismo, camaradagem e política dentro de suas empresas. Essas práticas prejudiciais continuam sendo os principais fatores que levam à ascensão de gestores tóxicos, resultando em um ambiente de trabalho desafiador e desmotivador para os colaboradores.

Obviamente que a responsabilidade da alta direção neste ponto é 100%. A promoção de gestores tóxicos muitas vezes é influenciada pela alta direção, que valoriza características como agressividade e assertividade em detrimento de qualidades éticas e de liderança. Este cenário cria um ciclo vicioso onde gestores inadequados são promovidos e perpetuam uma cultura organizacional prejudicial e deletéria dissonante à cultura e valores que por vezes a empresa possui.

Analisando tudo isso, posso concluir que esses números destacam a urgência de uma mudança na mentalidade da liderança empresarial e a implementação de processos de promoção mais transparentes e baseados em mérito, visando garantir um ambiente de trabalho mais justo, produtivo e saudável para todos os colaboradores.

Explorando mais o tema, além das entrevistas com os 800 profissionais, nós ainda entrevistamos  30 executivos de Recursos Humanos (RHs) para nos fornecer uma visão adicional sobre o ambiente de trabalho e as práticas de promoção dentro das empresas.

As entrevistas foram realizadas com executivos de médias e grandes empresas nacionais e multinacionais com mais de três mil colaboradores. E dentre os dados mais chocante estão os alarmantes 60% dos executivos de RH entrevistados que relataram terem sido coagidos a promover profissionais que não se adequavam à vaga e aos valores da empresa. Essa coação muitas vezes vinha diretamente dos altos executivos da organização, que impunham pressões políticas para favorecer determinados candidatos, independentemente de sua competência ou idoneidade para o cargo.

Identificamos que esse tipo de pressão política é ainda mais comum em empresas familiares, onde os laços de sangue muitas vezes influenciam mais do que o mérito profissional.

Segundo a pesquisa, cerca de 70% dos casos de coação para promoção foram identificados em empresas familiares, destacando os desafios únicos enfrentados por essas organizações na gestão de talentos e liderança.

Esses dados mostram os desafios enfrentados não apenas pelos funcionários de linha de frente, mas também pelos próprios profissionais de RH, que muitas vezes são colocados em situações éticas e profissionais delicadas devido a pressões políticas e hierárquicas. Além disso, é importante ressaltar que esse cenário não apenas compromete a integridade das práticas de recrutamento e seleção, mas também tem implicações financeiras significativas. Estudos indicam que os departamentos de RH gastam, em média, cerca de 20% do seu orçamento anual com atividades relacionadas à contratação e seleção de pessoal. Esses recursos poderiam ser mais eficientemente utilizados em iniciativas de desenvolvimento de talentos e promoção de uma cultura organizacional saudável.

Práticas mais estruturadas de gestão de pessoas já contemplam ações concretas e políticas de RH mais maduras que adotem medidas proativas para combater o favoritismo, a camaradagem e a política nas promoções, garantindo que os líderes promovidos sejam verdadeiramente capacitados e alinhados com os valores da empresa e que os RHs tenham seu processo preservado e respeitado, independentemente de favoritismo, política ou interesses familiares. Somente  com essas práticas será possível criar ambientes de trabalho mais justos, inclusivos e produtivos para todos os colaboradores.

A pesquisa apresentada oferece uma análise profunda do ambiente corporativo contemporâneo, revelando desafios significativos relacionados à promoção de gestores tóxicos e às pressões políticas dentro dos departamentos de Recursos Humanos. No entanto, em um mundo onde a sustentabilidade e a responsabilidade social são cada vez mais valorizadas, é fundamental considerar também os princípios do ESG (Ambiental, Social e Governança) nesta mesma conta.

Nesse contexto, destaco a importância de cuidar do clima organizacional e dos valores das empresas como pilares essenciais para promover a integridade e a sustentabilidade no ambiente de trabalho. Afinal, a integridade organizacional começa no tratamento ético dos colaboradores e na promoção de uma cultura que valoriza a diversidade, a inclusão e o desenvolvimento pessoal. Somente ao cuidar desses aspectos fundamentais, as empresas podem criar uma base sólida para enfrentar os desafios do ESG e contribuir positivamente para o bem-estar social, ambiental e econômico.

E acrescento: é hora das empresas adotarem uma abordagem mais honesta na gestão de pessoas, reconhecendo que investir no capital humano não é apenas uma obrigação ética, mas também uma estratégia inteligente para impulsionar o sucesso a longo prazo nos mercados cada vez mais conscientes e exigentes de hoje.

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