Demissão de Mariana Rios provoca debate sobre o engessamento do mundo corporativo

Lí uma matéria recentemente, na qual a atriz e apresentadora Mariana Rios contou que perdeu um emprego por usar diminutivos ao se comunicar com clientes em uma loja de roupas. Para muitos, pode parecer uma história irrelevante. Para outros, uma curiosidade divertida. Mas, para quem observa o mercado de trabalho com atenção, o episódio revela muito sobre os bastidores das relações profissionais e, principalmente, sobre a fragilidade de algumas lideranças.

Ao dizer coisas como “essa blusinha ficou linda em você” ou “leva essa jaquetinha”, Mariana não estava cometendo um erro técnico. Estava apenas sendo empática, gentil, natural. Estava, com seu sotaque mineiro e sua forma afetuosa de falar, entregando uma experiência personalizada de atendimento. Ironicamente, isso é tudo o que as empresas dizem buscar hoje: conexão, humanização, proximidade com o cliente.

Mas, ela foi demitida e esta é a grande contradição da nossa Era. Vivemos tempos em que a comunicação está cada vez mais padronizada. A inteligência artificial escreve textos para todo mundo. As redes sociais seguem um mesmo modelo visual e narrativo. O LinkedIn está tomado por discursos genéricos e fórmulas vazias de engajamento. Em meio a tudo isso, Mariana Rios cometeu o “erro” de ser humana demais. De ter uma voz própria. De usar diminutivos.

Na minha visão, o caso escancara um dilema contemporâneo: o quanto a busca por eficiência e performance está matando a individualidade? Mariana ofereceu, sem querer, uma aula de personalização. Ela não usava scripts. Ela se comunicava do jeito dela, com afeto, com leveza. Isso, bem trabalhado, poderia ter sido um diferencial competitivo, não um motivo de desligamento.

O problema, porém, não está apenas na linguagem. Está na postura de gestão. A gerente que demitiu Mariana representa também uma boa parte da liderança que ainda impera em muitas empresas. São líderes que não treinam, não desenvolvem, não acompanham. Querem profissionais prontos, polidos, formatados, sem se dar conta de que o papel de quem lidera também é formar, instruir e desenvolver.

Essa cultura da pressa é um dos maiores entraves para a construção de ambientes saudáveis e inovadores nos dias atuais. Exigir perfeição é fácil. Difícil é oferecer suporte. É fácil cobrar postura. Difícil é ensinar. É fácil rotular alguém como inadequado. Difícil é ter paciência para lapidar o potencial bruto. A liderança de verdade não se mede pela pressa em apontar falhas, mas pela disposição em desenvolver pessoas.

Em em vez de ouvir: – “Você fala muito no diminutivo, isso não serve aqui”, Mariana poderia ter recebido um direcionamento mais estratégico: – “seu jeito é acolhedor, vamos ajustar a linguagem sem perder sua essência?”. Mas esse tipo de orientação exige maturidade emocional por parte da liderança, algo que ainda é escasso em muitos ambientes profissionais.

O episódio também revela, o quanto o mercado ainda resiste à verdadeira diversidade. A empatia, a linguagem afetiva e a espontaneidade ainda são encaradas como traços pouco profissionais, quando, na realidade, representam justamente aquilo que diferencia um atendimento comum de uma experiência memorável.

Empatia não é acessório. É habilidade estratégica. E num tempo em que os robôs já dominam grande parte da produção técnica, o que realmente diferencia profissionais é aquilo que ainda não se automatiza: escuta, sensibilidade, intuição e vínculo.

Mariana Rios foi demitida, mas deixou uma provocação poderosa. Quem sai perdendo quando silenciamos o estilo próprio de um profissional? O colaborador que precisa se moldar? O cliente que recebe um atendimento pasteurizado? Ou a empresa, que troca humanidade por líderes preguiçosos?

Se quisermos ambientes de trabalho mais inovadores, diversos e emocionalmente saudáveis, vamos precisar parar de punir a espontaneidade. E mais do que isso, vamos precisar de líderes que saibam enxergar além do manual. É papel da liderança reconhecer potencial, ajustar o necessário, mas manter o que há de autêntico. É isso que transforma gente comum em profissionais extraordinários.

“Esse é o tipo de liderança que o mercado está implorando. E é o tipo de profissional que o futuro está exigindo”

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